Pandemia
e mobilidade urbana. Qual a relação existente entre essas duas temáticas? A
resposta está nas mudanças causadas pelo simples ato de ir e vir, após a ampla
disseminação da Covid-19 nas cidades.
Durante
o período de isolamento restritivo, necessário para conter o avanço da doença,
o fluxo de veículos caiu e o temor em utilizar transportes coletivos aumentou.
Hoje, mesmo com o cenário de estabilização, profissionais da saúde reforçam os
cuidados a serem adotados ao entrar em transportes lotados.
"O
vírus ainda está circulando e ambientes lotados são zonas potenciais de
transmissão", pontua a médica Luana Barbosa.
Diante
disso, se faz necessário revisitar o passado e adequar os velhos hábitos a esse
novo cenário. Em Sobral, cidade da região Norte que já foi um dos epicentros do
novo coronavírus no Estado, um projeto de mobilidade urbana está sendo
implantado com a proposta de reduzir a superlotação de transportes públicos e
individuais automotores e incentivar a mobilidade ativa para pedestres e ciclistas
"através de deslocamentos seguros e saudáveis pela cidade".
O
objetivo do Plano de Rotas Urbanas de Sobral - Percursos Prioritários para
Mobilidade Ativa (PRUS) é "ampliar a rede cicloviária existente, delimitar
áreas exclusivas para circulação de pedestres e ciclistas em áreas do Centro e
estabelecer limite de velocidade para veículos automotivos em áreas centrais de
Sobral", detalhou Marília Ferreira Lima, secretária do Urbanismo e Meio
Ambiente do Município.
Projetos
semelhantes foram implantados, com retorno exitoso, em outros países. Em
Bogotá, na Colômbia, foram criados 117 Km de novas pistas cicláveis
temporárias, demarcadas com cones. Em Oakland, nos EUA, o programa de Ruas
Lentas (Slow Streets, no original) coloca barreiras removíveis em algumas vias
para que as pessoas possam caminhar, pedalar e se exercitar com mais espaço. Em
Nice, na França, foram implantados 60 Km de novas pistas cicláveis provisórias.
Em
Sobral, a malha cicloviária ainda é tímida. São menos de 14 Km em todo o
Município que conta com mais de 200 mil habitantes, conforme último Censo do
IBGE. Para maximizar essa oferta, Marília destaca que o PRUS "vai criar
ciclofaixas (demarcadas por sinalização específica sem segregação do veículo
motorizado) e ciclorrotas (infraestrutura não segregada e indicam a priorização
do espaço para ciclos)". O Projeto vai custar aos cofres do Município
cerca de R$ 600 mil.
"É
um projeto considerado de baixo custo por aproveitar as infraestruturas já
existentes, além de buscar soluções no urbanismo tático que propõem soluções
baratas e rápidas de construir, como a marcação de espaços com pinturas",
destaca Marília Ferreira.
A
meta é incrementar novos 27 Km lineares na malha, garantiu a secretária do
Urbanismo. As intervenções já tiveram início e devem ser concluídas no começo
de 2021.
Impactos
Incentivar
o deslocamento por meio de bicicletas, por exemplo, deve vir acompanhado de
garantias de segurança ao ciclista.
O
professor e engenheiro de transportes, da Universidade Federal do Ceará (UFC),
Mário Azevedo, ressalta que, quando há um ambiente harmônico, que garanta
"trafegabilidade com segurança", as pessoas acabam ficando mais
propensas a utilizar esse modal e deixam em segundo plano os veículos próprios
e transportes coletivos.
Os
benefícios são múltiplos, desde a redução nos acidentes passando pela melhoria
da qualidade do ar. Na cidade de Sobral, entre os anos de 2014 e 2018, a média
de acidentes com óbitos por dia foi de 1,06. Durante o período de isolamento
social, registrou-se uma redução na ocorrência de acidentes, chegando a 16 no
mês de maio.
O
Sistema Verdes Mares tentou contato com Julif Guedes, coordenador de Trânsito
de Sobral, para saber se o projeto pode fazer com que a queda nos acidentes
seja uma constante, mas não obtivemos retorno.
"Menos
acidentes representa desafogar hospitais e, consequentemente, essas unidades
passam a ter maior capacidade de atendimento para a Covid-19 e outras
enfermidades", destaca Luana Barbosa.
A reportagem também não teve retorno da secretária de Saúde do Município, Regina Carvalho. Dentre os questionamentos enviados, perguntamos se o PRUS pode ser um diferencial na manutenção das atuais baixas taxas de contaminação da Covid-19.
Diário do Nordeste