Nas
últimas três semanas, o número de novos casos registrados da Covid-19 a partir
do início dos sintomas manteve tendência de queda. Apesar disso, "a
redução de casos diários perdeu velocidade em relação às imediatamente
anteriores", aponta boletim epidemiológico semanal da Secretaria Municipal
da Saúde de Fortaleza (SMS). Não foram identificadas mudanças nas tendências
epidemiológicas que "pudessem ser associadas às etapas de reabertura econômica
na Capital". Os registros de mortes em decorrência da infecção continuam
se concentrando em regiões periféricas e com baixo Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH).
"Interrupção
ou reversão da tendência de declínio de casos e óbitos ainda poderá ocorrer por
fatores externos, como aqueles relacionados às variações das Taxas de
Isolamento Social", pondera o documento divulgado ontem, 26.
Apesar
da interiorização do novo coronavírus no Ceará observada nas últimas semanas,
Fortaleza ainda é o município com o maior número de confirmações, com 34.719
casos. Foram registradas 3.244 mortes pela plataforma IntegraSUS, da Secretaria
da Saúde do Ceará (Sesa), até ontem, às 17h37min.
Não
é possível dizer se essa "desaceleração discreta" na queda de casos
se deu pela reabertura, avalia a infectologista Evelyne Santana Girão,
coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São
José e integrante do Coletivo Rebento - Médicos em Defesa da Ética, da Ciência
e do SUS. "Pode ser a evolução da doença mesmo. Porque muita gente já se
infectou. Pode ter acontecido também pela maior rapidez na liberação dos exames
ou pela demanda do Interior", aponta.
Ela
alerta que apesar da tendência de queda, a situação ainda é preocupante pela
possibilidade de uma segunda onda de casos, como foi observado em outro países.
"Temos que lembrar que vírus não obedece decreto. O vírus ainda está
circulando e temos muitos casos com óbitos. Infelizmente, nos bairros com menor
IDH existe uma dificuldade enorme de isolamento social mesmo com o processo de
conscientização da população. Nem que queiram não conseguem pela dificuldade
econômica", destaca. Essa parcela da população é mais atingida também
porque as residências não têm estrutura hidrossanitária adequada e as unidades
de saúde nessas regiões têm menos suporte. Há uma tendência de concentração de
mortes na Regional I, especialmente na Barra do Ceará (119) e Vila Velha (93),
segundo a SMS.
"Mesmo
com a estabilização do número de casos, ainda temos nos deparado com
atendimento a pacientes graves e instáveis, que precisam de suporte de oxigênio
e de remoção do SAMU para serviços de emergência", relata a médica Ana
Beatriz da Costa Guerreiro, especializanda em Atenção Primária à Saúde pela
Escola de Saúde Pública/CE e que atua na rede municipal.
O
Ceará chegou a 105.270 casos confirmados de Covid-19 e 5.962 mortes pela
doença. O percentual de casos contabilizados fora da Capital chegou a 67%.
Segundo a Sesa, 22 óbitos registrados aconteceram nas últimas 24 horas. O
balanço mostra 78.903 recuperados da doença e 62.581 casos suspeitos em
investigação.
"O
que a gente tem visto é que os pacientes já chegam em um estado muito grave e a
mortalidade é muito alta. Precisa fortalecer o atendimento primário no
Interior. Aumentar as equipes de saúde e descentralizar o atendimento primário
e secundário nas regiões no Interior", defende a infectologista Evelyne
Santana Girão.
O POVO