Um
estudo da Universidade de São Paulo (USP) analisa uma
droga usada no tratamento de pessoas com Aids, o fumarato
de tenofovir desoproxila, como possibilidade no combate à Covid-19.
Segundo o jornal O Globo, dentro de duas semanas, a substância
deve começar a ser testada em pacientes com coronavírus no Hospital São José de
Doenças Infecciosas (HSJ), em Fortaleza.
A
instituição do governo estadual do Ceará participa de estudos contra a Covid-19
e se interessou pelo tenofovir. O Estado registra 58.160
casos confirmados de Covid-19 e 3.671 mortes, segundo dados atualizados nesta
quinta-feira, 4, às 9h30min, pela plataforma IntegraSUS.
Os
voluntários alvos do estudo devem ser aqueles diagnosticados com a Covid-19 de
baixa e média gravidade. O antirretroviral foi testado com sucesso contra o
Sars-CoV-2, em laboratório, pelos cientistas brasileiros.
O tenofovir não
faz parte da lista de drogas selecionadas pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) para testes em larga escala no mundo. Mas um grupo de cientistas de São
Paulo descobriu que sua composição o torna um candidato em potencial para
combater o Sars-CoV-2.
O
professor Eurico Arruda, titular de área de virologia da Faculdade de Medicina
da USP em Ribeirão Preto, explica que a substância tem a capacidade de se ligar
num trecho específico de uma proteína importante para o coronavírus se
multiplicar dentro de células humanas infectadas. Ele é um dos autores do
estudo.
O
trabalho começou quando o pesquisador Norberto Lopes, do Núcleo de Apoio a
Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos (NPPNS), da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da USP viu que a estrutura química do tenofovir o tornava
promissor contra o coronavírus.
Lopes
estuda há anos formas de simplificar e baratear síntese no Brasil de
antirretrovirais usados no tratamento da Aids e conhece bem sua estrutura. Ele
trabalhou no projeto em associação com Giuliano Clososki, também da Faculdade
de Ciências Farmacêuticas.
Droga barra
multiplicação do vírus
Arruda
e Luis Lamberti da Silva, da Faculdade de Medicina, testaram a droga contra
Sars-CoV-2 em cultura e verificaram que o tenofovir inibia a produção de vírus,
por emperrar o mecanismo de multiplicação do coronavírus. Assim, sua replicação
fica ineficiente e a infecção não vai adiante.
Em
cultura de células, a droga conteve o causador da Covid-19, e o passo seguinte
é descobrir se o sucesso no laboratório se repete em pacientes. Muitas
substâncias fracassam nessa etapa.
De
acordo com Arruda, após receber a autorização da Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (Conep), os testes com pacientes devem ser iniciados dentro de duas
semanas com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações.
Grupo alvo dos
testes
Os
testes devem ser realizados com pacientes cujo quadro ainda não evoluiu para a
chamada tempestade imunológica, quando o ataque descontrolado do sistema de
defesa se torna mais grave do que a ação do coronavírus em si.
São
pacientes de leve e média gravidade, mas que poderiam ter o avanço da doença
revertido por medicamentos. O teste se dará tanto com o tenofovir sozinho
quanto em combinação com outro antirretroviral chamado entricitabina. Os dois
já são usados juntos no coquetel anti-Aids cujo nome comercial é truvada.
"Nenhuma
dessas drogas de uso redirecionado é a solução para a Covid-19. Mas,
potencialmente, podem ajudar muito os doentes num momento em que não existe
tratamento específico, vacina, e o Brasil já passa do meio milhão de
infectados", ressalta Arruda.
O POVO