quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Desistência e campanha discreta: os candidatos que mais gastaram e não se elegeram no Ceará.

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     Levantamento realizado pelo Diário do Nordeste mostra o desempenho financeiro dos candidatos durante a campanha.

 

    A disputa por uma vaga de deputado federal ou estadual no Ceará terminou como uma aposta caríssima para alguns candidatos. No pleito deste ano, houve pelo menos dois políticos que receberam mais de R$ 300 mil reais e não conseguiram nem 300 votos.

 

    Conforme levantamento realizado pelo Diário do Nordeste, com base em dados públicos da Justiça Eleitoral, o caso do ex-candidato a deputado federal Giovanni Sampaio (PSD), atual vice-prefeito de Juazeiro do Norte, é o mais discrepante. O político contratou gastos na ordem de R$ 322,5 mil para a campanha, mas desistiu da disputa a menos de um mês para o pleito.

 

DESISTÊNCIA

 

    Apesar da decisão – anunciada publicamente –, o político ainda recebeu 50 votos, o que o fez liderar o ranking de candidatos que tiveram, proporcionalmente, os gastos mais altos pela quantidade de votos que recebeu. Ao todo, cada voto recebido pelo postulante “custou” R$ 6,4 mil.

 

    Esses recursos contratados foram aplicados, majoritariamente, para publicidade de material impresso, o equivalente a R$ 269,8 mil. A contratação de serviços digitais representa R$ 14,1 mil dos gastos do político. Completam a lista gastos com combustível, R$ 12 mil; contabilidade, R$ 11 mil; e locação de veículos, R$ 6 mil.

 

    Em entrevista ao Diário do Nordeste, o vice-prefeito de Juazeiro do Norte justificou os gastos e a decisão de sair da disputa. 

 

    “Esses gastos foram para a contratação da gráfica, o aluguel do comitê e para o marketing, além do pagamento do advogado (...) Eu desisti porque havia combinado de apoiar Camilo Santana para o Senado (PT), mas com o rompimento entre PT e PDT, combinei com o presidente do meu partido que não faria campanha aberta para o Governo do Ceará, mas trabalharia pelo Camilo”, disse.

 

    Segundo Sampaio, a decisão de sair da disputa frustrou planos pessoais, já que ele estava em campanha intensa nas ruas. 

 

    “Tenho 70% do material impresso ainda intacto, estávamos com uma agenda intensa de campanha, mas precisei recuar (...) Esse valor ainda não é todo o que tinham me prometido, eu iria receber R$ 1,2 milhão do partido, mas o repasse foi cancelado em virtude da desistência”, acrescentou.


    Nas redes sociais do político, há publicações da campanha de Giovanni Sampaio. O político promoveu caminhadas, carreatas e fez distribuição de materiais impressos.

 

“NÃO VOU FALAR SOBRE ESSE DINHEIRO”

 

    Já a candidata a deputada estadual Gladys Landim (Pros) não desistiu da disputa, mas fez uma campanha mais “discreta” nas redes sociais. A ex-candidata gastou R$ 349,9 mil e recebeu apenas 90 votos.

 

    A postulante estreou neste ano nas disputas eletivas, segundo a Justiça Eleitoral, já pleiteando uma vaga na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Entre os gastos, a candidata investiu R$ 156,7 mil na impressão de material impresso, além de R$ 108,2 mil em propaganda eleitoral gratuita. Ela também aplicou R$ 80 mil na criação de jingles.

 

    Apesar dos altos investimentos, a campanha digital da candidata é discreta. Em redes sociais, a política tem apenas uma publicação indicando o próprio número e o do deputado federal Adilson Pinho (Pros), que teve a campanha mais barata do Ceará, com média de R$ 0,08 por votos. O correligionário de Gladys recebeu apenas R$ 150 para a campanha e obteve 1,7 mil votos.

 

    O que chama ainda mais atenção nos contratos é que, apesar de ser candidata no Ceará, todas as empresas que prestaram serviço para Gladys são sediadas em Goiânia, capital de Goiás, ou em Brasília, no Distrito Federal. 

 

    A empresa com a qual a postulante teve os maiores gastos, a Rcmix Digital, de Goiânia, que recebeu cerca de R$ 100 mil da cearense, foi criada no último dia 15 de agosto, menos de dois meses das eleições. 

 

    Mesmo sendo uma empresa recente, a candidata disse, em entrevista ao Diário do Nordeste, que “já conhecia” o trabalho de todas as empresas do Centro-Oeste.

 

    “Fiz campanha, viajei para o Interior, mas a gente trabalha sem dinheiro, sem dar dinheiro nem nada, e o pessoal só vê mais é dinheiro. Quem ganhou muito, é como se fosse uma compra de votos. O que eu ganhei de votos foi por consideração da família. Eu pensei que eu ia ganhar entre 500 a mil votos, mas a gente não pode confiar”, disse.

 

    Questionada sobre os R$ 300 mil recebidos, a candidata se negou a responder. “Não, esse dinheiro aí, eu não vou falar sobre esse dinheiro”, disse.

 

CAMPANHA VIRTUAL

 

    Caso semelhante ocorreu também com a candidata Neuma Maria (Pros). Postulante a uma vaga como deputada estadual, ela já disputou três vezes uma vaga na Câmara Municipal de Fortaleza. Neuma gastou R$ 300 mil na campanha, com a maior fatia, R$ 239,7 mil, destinada à publicidade em materiais impressos. Outros R$ 60 mil foram empregados na locação de veículos. Ao todo, ela obteve 221 votos.

 

    A candidata não informou à Justiça Eleitoral sobre redes sociais, mas, em perfis criados pela candidata para disputar outros pleitos, não constam qualquer menção à campanha deste ano.

 

    Neuma foi procurada pela reportagem, assim como a empresa Rcmix Digital, que firmou contrato com a campanha de Gladys Landim, mas as ligações não foram atendidas em ambos os casos.

 

Fonte: Diário do Nordeste.

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