O primeiro acidente no Brasil com um peixe-leão
(lionfish), espécie peçonhenta e predador agressivo de outros peixes e
invertebrados marinhos, foi registrado na Praia de Bitupitá, no município
cearense de Barroquinha. O pescador Francisco Mauro da Costa Albuquerque,
24, foi atingido pelos espinhos do animal enquanto trabalhava em um curral
de pesca nesse sábado, 23.
Após o contato, o jovem precisou ser levado ao
hospital do município de Camocim. "O pescador teve, supostamente,
duas paradas cardíacas, mas o que sabemos de fato é que [os sintomas] foram
edema e eritema no local, dor intensa e excruciante, febre e convulsões",
explica o biólogo e pesquisador do Centro de Ciências do Mar (Labomar), da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Soares.
Francisco Mauro precisou
ir outras vezes ao hospital, de acordo com o pesquisador, por continuar
sentindo sintomas após o contato com o animal. Na segunda-feira, 24, é que o
pescador teria sofrido duas paradas cardíacas. "Não se sabe se as duas
paradas foram relacionadas ao contato com o peixe-leão. Precisa de uma pesquisa
médica para isso", pontua Marcelo.
O pesquisador explica que
não conhece casos de morte após contato com a espécie, mas que o organismo
humano pode sofrer diversas reações devido às toxinas neuromusculares de
efeito sistêmico nos raios das nadadeiras do peixe-leão, principalmente
dorsais, o que pode trazer consequências graves. O animal é caracterizado como
peçonhento e invasor. Ele não tem predador natural no Brasil.
Peixe-leão no Brasil
O peixe-leão apareceu no
Brasil pela primeira vez nos anos de 2014 e 2015, no Rio de Janeiro. Neste ano,
o animal já foi encontrado no Ceará, nas cidades de Bitupitá,
Jericoacoara, Preá, Camocim, Acaraú e Itarema. No Piauí, a espécie foi vista
em Luís Correia e Cajueiro da Praia, de acordo com estudos realizados pelo
Centro de Ciências do Mar (Labomar).
De modo geral, registros
do peixe-leão já foram feitos no Ceará, Amazonas, Piauí e Fernando de
Noronha. Desde março deste ano, mais de 30 peixes-leão foram encontrados em
águas rasas do litoral do Nordeste brasileiro. Além de ser venenoso, a espécie, nativa
da região Indo-Pacífica, pode causar elevados prejuízos ambientais e
socioeconômicos quando invade regiões que não possuem predadores naturais.
A solução seria realizar
capturas em escala nacional. “Captura em larga escala, em plano nacional. No
Caribe, têm ações para matar a espécie; já participei lá no México, inclusive.
Mas não é algo tão simples, precisa de treinamento e cuidados com roupas
adequadas. As águas do Nordeste não são como do Caribe, que são super claras e
dá pra ver bem o bicho. Aqui, não dá”, pontua o pesquisador Marcelo Soares.
No sábado, 23, dia em que
o pescador cearense foi atingido pelos espinhos do animal, outros quatro
peixes-leão foram encontrados na praia de Bitupitá. Marcelo explica que a
tendência é que surjam ainda mais animais da espécie peçonhenta no litoral
cearense pelos próximos meses. O invasor tem sido encontrado no raso,
entre um e nove metros de profundidade.
Plano de contingência no Ceará
Eduardo
Lacerda, geógrafo e doutor em Ciências Tropicais, informou que o Labomar
tem criado um plano de contingência para combater o animal. "Nós temos o
Observatório Costeiro e Marinho no Ceará, que foi lançado no mês passado,
e a primeira reunião foi envolvendo o tema do peixe-leão, que era uma coisa que
não tínhamos aqui. Desde então, a gente está trabalhando diariamente nisso”,
pontua.
O geógrafo também
explicou que quando os primeiros registros do peixe-leão foram feitos no Ceará,
a Secrataria do Meio Ambiente do Estado (Sema) lançou um informe geral
para todos os municípios que possuem praia, a fim de alertar sobre a
presença do animal. Desde então, não existe uma estatística precisa de quantos
animais foram encontrados, segundo Luís Ernesto, professor do Labomar e
cientista-chefe de Meio Ambiente do Ceará.
O que fazer quando um peixe-leão for encontrado?
Caso o peixe-leão seja
avistado, informações podem ser passadas para o Sistema Integrado de Manejo de
Fauna (Simaf), por meio do site, ou, ainda, pelos e-mails da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) cientistachefesema@gmail.com. Além disso, a Secretaria do Meio Ambiente do
Estado (Sema) pode ser acionada pelo número (85) 3108 2768.
"O protocolo é
se alguém avistar o peixe-leão, é preciso avisar imediatamente às Secretarias
Municipais do Meio Ambiente ou diretamente à Sema, para que a gente possa
mapear essas ocorrências, ver como o peixe-leão está atuando no nosso litoral e
começar atuar nas questões dos protocolos para recolhimento e como lidar com
esse tipo de situação”, explica Eduardo Lacerda.
Luís
Ernesto, professor do Labomar e cientista-chefe de Meio Ambiente do Ceará,
também explica que só é recomendado capturar o animal se existir uma forma
segura para fazer isso. "Se a pessoa não tiver experiência ou não se
sentir segura, é melhor não arriscar, porque pode se acidentar com os
espinhos", pontua.
O professor também
explica que o peixe-leão é um animal territorialista, o que pode facilitar sua
captura. "Mesmo que seja um mergulhador que esteja tentando capturar, se
não consiguir naquele momento por alguma dificuldade, o melhor a fazer é deixar
para outro momento em que possa fazer de forma segura", completa.
Um aplicativo para poder
inserir informações em casos onde o peixe-leão for avistado no litoral cearense
também está sendo produzido, segundo informações de Luís. No dia 6 de
maio, será feita uma reunião pelo Observatório Costeiro e Marinho com as
Secretarias de Meio Ambiente e de Saúde dos municípios para esclarecimentos
sobre a presença do peixe-leão no Estado.
O POVO