O garoto de 10 anos deixado junto da irmã de dois anos pela própria mãe em um ônibus clandestino no estado de São Paulo disse que, durante a viagem, a irmã, por ser pequena, chorava chamando pelo nome da mãe. As crianças viajaram por três dias sem a presença de nenhum responsável e foram entregues no Ceará e em Pernambuco nesta quinta-feira (10). A Polícia Civil investiga o caso.
"Foi
três dias de viagem e minha irmã só chorando, chamando o nome da minha mãe. O
motorista parava para comprar comida, nós comia, minha mãe comprou comida
também pra nós. Só eu e minha irmã. Cheguei aqui e meu avô não tava, fiquei
chamando, chamando (sic)", disse o garoto à TV Verdes Mares.
Segundo familiares, a mãe embarcou os filhos no
ônibus, mas não os acompanhou na viagem. A criança de dois anos, uma menina,
foi deixada com os avós paternos em Exu. Já o menino, irmão dela por parte de
mãe, foi deixado em frente à casa dos avós paternos em Juazeiro do Norte.
A avó do garoto conta estava no comércio dela, já
que a casa onde mora está em reformar. Ela recebeu a ligação de uma vizinha,
comunicando que o neto estava na calçada, recém-chegado de São Paulo. O
motorista do ônibus clandestino também estava no local, aguardando o pagamento
por ter levado o menino à casa da avó.
"Eu falei para ele que eu não ia pagar, porque
ele não tinha entrado em contato comigo, e que ele já tinha feito uma parte
errada de ter trazido duas crianças sem a presença do pai e da mãe, e aí eu não
ia estar alimentando uma coisa errada dessas", disse a avó do menino em
entrevista à TV Verdes Mares.
Ainda segundo a
avó, que prefere não se identificar, não é a primeira vez que a mãe da criança
manda o filho. Ela já teria abandonado o menino quando ele tinha apenas um mês
de vida na frente da casa de um familiar.
"Quando ele
tinha um mês de nascido, ela deixou ele na porta de uma tia minha, chovendo. Eu
estava viajando, minha tia pegou essa criança. A gente até ia pra justiça, mas
eu tinha muito medo de me envolver assim com justiça. Na época eu não corri
atrás porque logo ela voltou a morar com meu filho", relembra. O filho
dela, pai do garoto, morreu há nove anos.
Já com os
familiares no Ceará, o garoto também disse que sente saudades da irmã e que
prefere continuar onde está, ao lado dos avós, do que onde morava com a mãe.
"É bem melhor aqui e tudo. Aqui tem celular, tem tv, tem tudo. Aqui tem
videogame, computador, um monte de coisa. Sinto muita saudade dela (irmã).
Queria falar que eu amo ela", disse o menino.
Conselho Tutelar acionado
Ainda não há informações a respeito da mãe das crianças. Os avós
acionaram o Conselho Tutelar e aguardam a chegada de conselheiros à casa deles.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) disse, em nota, que a
Polícia Civil investiga o caso.
Também procurada, a Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) disse que, quando o transporte é
regular, nenhuma criança pode viajar desacompanhada.
G1 CEARÁ