Comer e falar menos, orar e rezar mais. Os fiéis da
igreja católica alteram a própria rotina nesta quarta-feira de cinzas pelo
mesmo propósito: o fim da guerra na Ucrânia. A paz é colocada
nas preces e no jejum de diversos católicos cearenses, após recomendação da Arquidiocese de Fortaleza,
que seguiu orientação do papa Francisco.
O jejum no primeiro dia após o carnaval dá início à
quaresma, período de 40 dias onde os católicos abdicam de materialidades como o
consumo de carne vermelha, antes da Páscoa. Em 2022, a abdicação se volta para
um contexto geopolítico, para além da espiritualidade.
“O sentido é você fazer um
sacrifício por Deus. Eu acredito que o papa está muito correto com relação à
gente fazer esse sacrifício pela paz mundial. É realmente se unir em oração
para que Deus nos auxilie da melhor maneira possível”, explica a professora
universitária Bárbara Menezes.
Ela tem 31 anos e faz jejum na
quarta-feira de cinzas há mais de dez anos. “É muito importante oferecer esse
sacrifício para dar sentido, para que Deus olhe para essa questão da guerra.
Então, isso para o católico não é uma novidade. Os papas costumam convocar a
gente para a oração. É interessante porque a gente se une por uma coisa só,
todo mundo oferece seu sacrifício em busca da paz na Ucrânia”, comenta Bárbara.
A Arquidiocese de Fortaleza estimulou, nesta
terça-feira (1º), que os fiéis católicos façam da quaresma deste ano uma
jornada penitencial pela paz e pelo fim da guerra na Ucrânia. Um apelo do Papa
Francisco pediu aos fiéis um dia de oração e jejum pela paz na Ucrânia nesta
quarta-feira (2).
Bárbara explicou ainda que a penitência que inicia
na quarta-feira de cinzas pode envolver diversos sentidos, como não comer
carne, aumentar a quantidade de orações por dia e até mesmo abdicar de redes
sociais.
Jejum
de comportamentos
A auxiliar de professora Serly de Melo, 54
anos, também dedica o jejum desta quarta-feira de cinzas pelo fim da guerra
entre Rússia e Ucrânia.
“É algo que a gente não
gostaria de estar vivendo, então quando o papa Francisco pede que a gente
jejue, as orações têm de ser mais intensificadas, porque é difícil até avaliar
o que acontece no mundo. É muito chocante”, disse a profissional da educação.
Serly adotou a prática de
jejuar no início da quaresma há cerca de três décadas. Desde então, ela disse
ter aprimorado a percepção do porquê a abdicação é importante, o que mudou até
a rotina dela no dia do jejum.
“No começo foi mais
difícil, até eu entender o verdadeiro significado do jejum. Não é só deixar de
comer. Até o seu rosto precisa não transmitir que você está sentindo fome”,
explica a auxiliar de professora.
Ela informa que as
refeições envolvem pouca comida e bebida, como um biscoito, um pedaço de pão e
um simples café, e o almoço sem carne vermelha.
“Além das orações, como
eu trabalho, eu sou muito barulhenta, então eu procuro silenciar e intensificar
minhas orações. É um jejum de palavras, um dia que eu faço muito silêncio
também”, complementa Serly.
G1 CEARÁ