A obrigatoriedade do passaporte da vacina tem sido
um dos debates mais acalorados em relação à Covid-19 nas últimas semanas.
Enquanto especialistas em saúde defendem a medida, setores da sociedade e o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) são críticos à necessidade
de comprovação vacinal para ter livre entrada em estabelecimentos.
Para o médico infectologista Keny
Colares, o passaporte vacinal é uma tentativa de “solucionar um conflito entre
o direito individual de a pessoa não realizar procedimentos que não deseja e o
direito coletivo de preservação da saúde coletiva”. Ele compara a situação à
necessidade de se ter uma carteira de habilitação para que se possa conduzir um
veículo pela cidade. “O ideal é que as pessoas conseguissem compreender que as
vacinas são fundamentais para elas, seus familiares e toda a sociedade.”
O infectologista aponta ainda que a
necessidade de apresentar o certificado estimula a adesão à vacinação. “As
pessoas vão ter que pensar um pouco melhor para ver se realmente vão levar até
o extremo essa negação”, analisa. Desde a exigência do passaporte, o número de
cadastros para vacinação no Saúde Digital, plataforma para acesso à imunização
no Ceará, aumentou mais de 50%.
“A vacinação é uma estratégia importante. Se
houvesse ampla adesão, essa exigência talvez não fosse necessária. A questão é
que, nesse momento, enquanto ampliamos a cobertura vacinal (o que requer
tempo), precisamos somar medidas para conter a transmissão do vírus e de suas
variantes”, aponta Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e divulgadora científica
pela Rede Análise Covid-19. Ela enfatiza que o uso de máscara combinado com o
distanciamento físico e ambientes bem ventilados são camadas relevantes e
necessárias de proteção.
Mellanie explica ainda que “um conjunto
significativo de evidências” mostra que pessoas vacinadas permanecem menos
tempo com o novo coronavírus ativo no corpo (eliminando-o de forma mais rápida)
e liberam menos partículas virais para o meio, em comparação a pessoas não
vacinadas. “Em um ambiente onde somente vacinados circulam, estamos adicionando
mais uma camada de proteção”, afirma.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também defende a
adoção do passaporte de vacinas em locais públicos. Para os cientistas da
instituição, a medida é necessária até que haja um cenário menos incerto da
pandemia e a vacinação avance ainda mais.
O POVO