O Chile tem um novo presidente eleito. O deputado e
ex-líder estudantil Gabriel Boric, 35, foi o vencedor do segundo turno eleitoral no país andino;
derrotando o opositor de extrema direita, o advogado José Antonio Kast, também
chamado de “Bolsonaro chileno”. Kast já reconheceu a derrota
e ligou para Boric para parabenizá-lo pela vitória.
Com 99,79% de urnas apuradas até às
19h37min deste domingo, 19, Boric tem 55,86% dos votos contra 44,14% de Kast;
consolidando uma tendência irreversível segundo a imprensa chilena.
A partir de março, quando tomar
posse, Boric será o presidente mais jovem da América Latina e mais um
governante de espectro mais à esquerda a assumir o poder na região em
2021. As urnas abriram às 8h e fecharam às 18h (horário de Brasília). O
resultado foi divulgado ainda na noite de domingo.
É importante ressaltar que no Chile o voto é
facultativo. Menos da metade (47%) dos mais de 15 milhões de eleitores
inscritos no primeiro turno compareceram ao pleito no último dia 21 de
novembro, portanto, a abstenção ganhou ares decisivos com o acirramento e a
paridade entre Boric e Kast apontada nas últimas pesquisas eleitorais
disponíveis.
Durante o dia eleitoral, usuários do transporte
coletivo alegaram que havia escassez de ônibus para o deslocamento até determinados
pontos de votação na Região Metropolitana da capital Santiago; onde Boric tem
mais penetração. O governo do presidente Sebastián Piñera (centro-direita)
disse que havia mais ônibus circulando ontem do que no 1º turno.
Com a vitória de Boric, o Chile deve ampliar a
agenda de transformações sociais exigidas na onda de protestos iniciada em
outubro de 2019. Conhecido como 'estallido social' (explosão social), os atos
duraram meses e seus efeitos derreteram a imagem do atual governo e de projetos
da classse política dominante e levou o Chile a votar pela confecção de uma
nova Constituição que deve ter sua primeira versão apresentada já em 2022.
A atual Constituição chilena, bem como o modelo
político-econômico, é uma herança da época da Ditadura do general Augusto
Pinochet (1973-1990) que ao longo dos anos agravou desigualdades e culminou na
revolta social chilena. Durante a campanha, Boric disse que a eleição
presidencial era entre um "pinochetista" conservador, em referência à
postura de Kast que já defendeu a ditadura, e o bem-estar da população.
O agora presidente eleito defende bandeiras que
envolvem permissão para o aborto, o casamento gay e foi voz ativa na campanha
para a redação da nova Carta Magna chilena. Na religião, Boric declarou-se
agnóstico e disse que respeita todas as expressões de fé. Foi a primeira vez
nas eleições presidenciais, desde a redemocratização, que o candidato melhor
colocado no primeiro turno não terminou como vencedor no segundo turno.
O POVO