Um dia após o governador de São Paulo, João Doria, sair na
frente e iniciar a vacinação contra covid-19 no Estado, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a “vacina é do
Brasil”, em referência à Coronavac, imunizante produzido pelo Instituto
Butantan em parceria com a chinesa Sinovac. “Não é de nenhum governador não”,
afirmou o presidente em conversa com apoiadores ao deixar o Palácio da Alvorada
na manhã desta segunda-feira, 18. O início da imunização no restante do País
está previsto para hoje, a partir das 17h.
“A
Anvisa aprovou, não tem o que discutir mais. Havendo disponibilidade no
mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos que era para
ter chegado aqui”, disse o presidente aos apoiadores, sem entrar em detalhes a
quais vacinas se referia. O vídeo da conversa foi divulgado por um canal de
apoio ao governo no YouTube.
O
início da vacinação em São Paulo foi vista como derrota política para
Bolsonaro. O Ministério da Saúde planejava um evento no Palácio do Planalto
para a terça-feira, 19, para marcar o início da campanha de imunização no País
para tentar mostrar protagonismo do governo federal no enfrentamento à pandemia.
Doria, porém, foi mais rápido e venceu a corrida pela foto da primeira pessoa
imunizada no País – uma mulher, negra, enfermeira em um hospital público de São
Paulo.
Doria
é hoje o principal adversário político de Bolsonaro e potecial rival na disputa
pela Presidência da República em 2022.
O
governo federal, por sua vez, tinha como principal aposta a vacina produzida
pela Universidade de Oxford em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Um lote com 2 milhões de doses do imunizante deve ser importado da Índia nos
próximos, mas o país asiático frustrou os planos de Bolsonaro ao atrasar o
envio em alguns dias.
O
governador paulista iniciou a imunização no Estado horas após a Agência
Nacinonal de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberar o uso emergencial da Coronavac.
Doria abriu a entrevista coletiva com uma crítica direta ao governo federal.
“Hoje é o dia V. É o dia da vacina, é o dia da verdade, é o dia da vitória, é o
dia da vida”, disse. “É o triunfo da vida contra os negacionistas, contra
aqueles que preferem o cheiro da morte ao invés do valor e da alegria da vida.”
Logo depois, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reagiu
e disse que a vacinação em São Paulo foi “jogada de marketing” e ameaçou ir à
Justiça. “Todas as vacinas produzidas pelo Butantan foram contratadas de forma
integral e exclusiva, todas, inclusive essa que foi aplicada agora. Então, é
uma questão jurídica. Todo o custeio do Butantan é contratado e pago pelo
Ministério da Saúde, pelo SUS, pelos senhores. Não foi com nenhum centavo de São
Paulo”, disse Pazuello ontem – sendo depois contestado por Doria.
Exame