O Ceará terá
áreas de lazer fechadas em condomínios de praia e haverá
ampliação na rede assistencial com cerca de 100 novos leitos de UTI para
Covid-19 após aumento da demanda, segundo anunciou em entrevista
coletiva, na manhã desta quinta-feira, 21, o governador Camilo Santana (PT). O
governador também informou que o novo decreto estadual vai recomendar a não
realização de viagens intermunicipais.
Além
da proibição do uso de áreas comuns de lazer nos condomínios de
praia, haverá recomendação de protocolos nos condomínios
urbanos. "Nossa intenção é não tomar nenhuma medida que afete a
economia do Estado, mas vamos avaliar semana a semana", disse o governador.
Ele informou também que irá intensificar a fiscalização em bares,
restaurantes e punir estabelecimentos reincidentes.
"Esse
aumento de casos não vinha refletindo na demanda assistencial, na demanda das
Upas [Unidades de Pronto Atendimento] e nos óbitos. Porém, nas últimas semanas
houve aumento na demanda assistencial, principalmente na Capital. Isso acende
um alerta", explicou o governador.
O
governador destacou também a necessidade de evitar aglomerações e de
utilizar máscara. "Exatamente para diminuir o fluxo de contaminação vamos
recomendar que a população não viaje nos transportes intermunicipais",
emendou.
Apesar
de comemorar o início da vacinação contra Covid-19 no Estado, Camilo ponderou
que ainda não há previsão para chegada de novas doses da vacina. Daí a
importância de manter os cuidados básicos de prevenção ao coronavírus.
Ainda
de acordo com o chefe de Executivo estadual, hoje será realizada uma reunião
com o setor da área de transporte público "para trabalhar uma fiscalização
e alternativas para reduzir também o problema da aglomeração em transportes
públicos, principalmente aqui em Fortaleza".
O
prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), também garantiu que locais que
registram aglomeração de forma recorrente terão mais fiscalizações. "Nossos
agentes de fiscalização e policiamento irão nos locais onde reiteradamente as
pessoas têm quebrado o protocolo e ameaçado a saúde da população",
assinalou.
Aumento
de leitos
Conforme
o titular da Saúde, Dr. Cabeto, a projeção de ampliação em duas semanas gira em
torno de 100 leitos novos de UTI, "bem acima da necessidade hoje
projetada", segundo garantiu, para que se tenha "bastante
segurança". Isso inclui também aos insumos como materiais anestésicos,
analgésicos, EPIs.
"Os
hospitais regionais do interior estão tendo reativação dos leitos de
campanha. Alguns deles, estamos aumentando de 10 a 20 de leitos de UTI e a
mesma quantidade de enfermaria em cada hospital regional", completou. Ele
citou entre as unidades contempladas o Hospital Leonardo Da Vinci e o Instituto
Doutor José Frota (IJF).
Segundo
Cabeto, o Ceará decidiu no passado não retirar hospitais de campanha montados
no HSJ, HGF e Hospital de Messejana, "exatamente para compreender
como a pandemia ia evoluir." No HGF e no Hospital de Messejana, há duas
semanas os leitos de campanha voltaram a receber pacientes com Covid-19.
Aumento
de casos em crianças
O
Dr. Cabeto comentou também sobre um aumento de infecções pelo coronavírus em
crianças, bem como de internações graves. A demanda maior foi registrada no
Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). "Nos últimos sete dias houve uma
mudança no número de internações que anteriormente não estava acontecendo.
Estamos com o dobro do atendimento em Covid-19 no Albert Sabin", disse.
O apoio
ao atendimento infantil está sendo ampliado em parceria com o Hospital
Infantil Filantrópico (Sopai), de acordo com o secretário. Segundo o titular da
pasta de saúde, esse aumento será investigado mais detalhadamente. Uma
reunião com a diretoria do Albert Sabin deve ocorrer ainda hoje para acompanhar
a evolução desses casos.
A
secretária de Saúde de Fortaleza, Ana Estela Fernandes, disse que a alta taxa
de ocupação nos leitos infantis tem gerado alerta. "Tudo o que tá
acontecendo hoje são cenários que nos colocam em alerta e que precisam ser
estudados", acrescentou.
Preocupação
com o cenário
A
reunião do Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19, que delibera sobre os
decretos sanitários e é realizada às sextas-feiras, foi
antecipada para esta quinta-feira, 21, diante da situação
de agravamento da pandemia. Ainda na quarta-feira, 20, Camilo expressou preocupação
com a situação.
Conforme O POVO mostrou
nesta quinta, o número de atendimentos por Síndrome Gripal em
Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) mais do que dobrou comparando os
meses de outubro, mês de início da segunda onda, e os 19 dias de janeiro.
A
Capital cearense é classificada em nível altíssimo de incidência de casos (o
mais extremo), com 209,7 registros por 100 mil habitantes a cada dia. Contudo,
a segunda onda já é registrada em todas as regiões do Estado, em níveis
diferenciados. Os dados são da plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da
Saúde (Sesa).
Considerando
o aumento de casos, ontem, 20, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) suspendeu os estágios acadêmicos da unidade (com exceção das
residências médica e multiprofissional) por período indeterminado. A medida
busca restringir a circulação interna de pessoas na unidade.
Segundo o
professor José Soares de Andrade Júnior, do Departamento de Física da
Universidade Federal do Ceará (UFC), cientista-chefe da Fundação Cearense de
Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e integrante do
Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19, há circulação viral
comunitária na Capital.
Ele
informa ainda que já há aumento de casos em outras regiões. "Todas as
macrorregiões têm um padrão de aumento relativo de casos. Algumas maior, como
Cariri, e em outras menor, como Sobral. Cada uma tem populações distintas e
densidades populacionais distintas", acrescenta.
A
médica epidemiologista Lígia Kerr, professora e pesquisadora do Departamento de
Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC, defende que medidas de
restrição mais rígidas devem ser tomadas para evitar agravamento do cenário,
bem como aumento da fiscalização.
"Nós
provavelmente, em algum momento, vamos ter de fechar alguma coisa. Não temos
medidas farmacêuticas ainda. Se não fechar, podemos atingir os níveis da
primeira onda. Com uma mortalidade menor porque tem atingido mais jovens, por
enquanto", alerta Lígia, integrante do Comitê Científico de Combate ao
Coronavírus do Consórcio Nordeste.
com informações da repórter Ana Rute Ramires