Vídeos
e textos sobre possíveis soluções contra a Covid-19 viralizam nas redes
sociais. Um resultado preliminar ou a observação clínica chegam a prescrever
doses de remédios. Ao mesmo tempo, comunidade científica e poder público correm
contra o avanço dos casos e óbitos, buscando uma forma de parar o novo
coronavírus. Medicamentos para outras doenças podem ser eficazes, mas faltam
pesquisas científicas que comprovem a segurança.
Esse
tem sido o caminho de alguns remédios durante a pandemia. Entre eles, está o
antiparasitário ivermectina. No Ceará, o município de Jaguaribara decidiu
adotá-lo na prevenção à Covid-19. "Aderimos a esse protocolo depois de uma
reunião com pesquisadores da UFC (Universidade Federal do Ceará) que mostraram
as evidências da medicação. Tudo foi explicado e os médicos aderiram",
afirma a secretária de saúde Ianny Dantas. "A gente vem tratando a
população com ivermectina como medida profilática, mas sempre aconselhando a
manter higienização, distanciamento social e uso de máscaras." Desde o
início da pandemia, foram distribuídas 7,5 mil máscaras.
O
município de 11.401 habitantes conseguiu o fármaco para "cerca de 4 mil
pessoas" por meio de doação da farmacêutica VitaMedic. "Começou dia 6
de julho e iniciamos com profissionais da saúde e pacientes do grupo de risco.
Tanto para casos sintomáticos de fase inicial, quanto para casos
assintomáticos", expõe Ianny. Desde a chegada do vírus na cidade, a
secretaria criou um centro para tratamento precoce da Covid-19 e fez testes em
massa, entre outras ações. Segundo o IntegraSUS, atualizado às 17h17min de
ontem, 192 jaguaribarenses foram infectados pelo novo coronavírus e sete
morreram em decorrência da doença.
Odorico
de Moraes, diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da
UFC, é quem esteve em contato com o município e orientou a forma de adoção da
ivermectina. "O que temos visto até o momento, em relação aos medicamentos
usados na pandemia, é que nada foi provado se funciona ou não. Nenhum desses
medicamentos, nem mesmo os corticoides, é alvo-específico, não vai reverter
definitivamente o processo da doença", argumenta. Segundo ele, o Núcleo
está pesquisando remédios possivelmente profiláticos, tanto
como ator antiviral quanto como estimulante do sistema imunológico, e
por isso colocou essa possibilidade a Jaguaribara.
Todas
as pessoas que decidem usar a medicação devem ser orientadas sobre a falta
de comprovação, bem como sobre dosagem e riscos, e assinar um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. "Além disso tem que continuar o
distanciamento e uso de máscaras", enfatiza Moraes. "O benefício que
ela vai ter com certeza é que qualquer parasita que tiver está
tratando." Ele pontua que não se trata de uma pesquisa na cidade, mas
que será feito um estudo observacional posterior.
Para
João Macêdo Filho, diretor da Faculdade de Medicina da UFC, orientações
coletivas de saúde devem ser feitas com base em critérios científicos
consolidados. "Não temos qualquer evidência consistente que recomende uma
política pública de doação de ivermectina", afirma. "É importante
considerar não só o impacto na saúde, como também o impacto financeiro em
termos de recursos que poderiam estar sendo aplicados em outras medidas."
Já
para indicações clínicas individuais, Macêdo afirma que é função do médico
informar o paciente sobre "tudo o que o medicamento pode fazer de bom ou de
ruim". "A tomada de decisão deve ser compartilhada e é de foro
íntimo, desde que traga mais bem do que mal", pondera. Ele acredita que,
nesses casos, precisa ser considerada a situação de saúde da pessoa, suas
necessidades e a razoabilidade científica. "O que é razoável é prescrever
conforme orientado na bula. Como as pessoas estão fazendo, tomando todo dia ou
toda semana, foge à razoabilidade."
Pesquisas
No
Brasil, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) é a responsável por
avaliar os aspectos éticos das pesquisas que envolvem seres humanos no País. Os
estudos só podem acontecer se ela aprovar. Segundo o boletim mais recente da
pasta, até o início de julho havia quatro ensaios clínicos aprovados com
ivermectina.
O POVO