Este
ano já é considerado praticamente perdido do ponto de vista econômico. O
Banco Central prevê uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de
6,25%. No Ceará não será diferente e a retração da economia em
2020, de até 5,5%, já é prevista pelo Instituto de Pesquisa e
Estratégia Econômica do Estado (Ipece). Entre economistas, das poucas
certezas que se tem é que a retomada será lenta, gradual e
muito atrelada à evolução da pandemia de coronavírus. Mas também a
de que é preciso o quanto antes iniciar uma força-tarefa para
contenção de danos e criar as bases para reverter o quadro para
os anos seguintes.
Na
última semana, o Governo do Ceará lançou um pacote de 23
medidas tributárias em socorro às empresas. Também começou a
desenhar internamente um plano para reativar a economia após a
reabertura completa das atividades, que dependem, por sua vez, da
melhora dos indicadores epidemiológicos. Da mesma forma, os setores se
movimentam para tentar atenuar o cenário econômico que se avizinha.
Na
avaliação da mestre em Economia, Carolina Monteiro, para reativar a geração de
riqueza, uma das principais preocupações de qualquer governo deveria ser garantir
a sobrevivência da população mais pobre.
"Em
uma situação de calamidade como essa, é preciso rasgar este
bê-a-bá de que os rendimentos do mercado financeiro devem ser priorizados.
Precisamos garantir a sobrevivência e a renda dos mais pobres porque,
diferentemente de outras camadas sociais, este é um dinheiro que é revertido
imediatamente em consumo, o que faria a economia girar".
Dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) Covid-19, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que no Ceará
mais de 1,2 milhão de pessoas que queriam um emprego enfrentou dificuldades
para se inserir no mercado de trabalho por falta de vagas ou receio de contrair
o novo coronavírus. A taxa de desemprego no primeiro trimestre ficou em 12,1%.
Diante
destes cenários, para Carolina, de modo geral, é preciso
resgatar um pouco o espírito do New Deal, política econômica implementada pelos
Estados Unidos após a crise de 1929, no sentido de aumentar a presença do
Estado com políticas de geração de emprego, infraestrutura e renda mínima.
Ainda que isso custe o agravamento da crise fiscal.
"Uma
política monetária expansionista poderia ter este papel de
acelerar os setores produtivos. O momento é de salvar vidas e o
Governo Federal tem papel crucial nisso", afirma Carolina, reforçando que
se não houver uma diretriz econômica nacional mais clara é grande o risco dos
estados e municípios recorrerem ao endividamento em moeda estrangeira, o que
retardaria uma recuperação mais sólida.
A
KPMG Brasil elaborou um estudo que mostra que a recuperação
econômica no País também está muito atrelada ao que vai ser o novo padrão de
comportamento do consumidor daqui para frente e a capacidade
das empresas se adaptarem ao novo cenário.
E como
o impacto da pandemia afetou os setores em diferentes níveis, é
bem possível que - mais do que o desafio de voltar aos números
anteriores - haja também uma reconfiguração das matrizes econômicas. Segmentos
ligados ao nicho digital, como varejo e farma online; media streaming;
telemedicina e educação digital, por exemplo, que cresceram durante o período
de isolamento, tendem a aumentar a participação nas economias locais.
O
sócio da área responsável pelos escritórios da KPMG no Nordeste, Marcelo
Gonçalves, diz que, olhando para realidade do Ceará, um dos
segmentos que mais causam preocupação é o turismo. "É um
setor relevante para a economia e que, talvez, tenha o caminho a percorrer de
maior transformação".
Ele
diz que os hotéis devem começar com uma ocupação média entre 20% a 30% e na
medida em que for chegando o fim do segundo semestre a retomada começa a ser
mais representativa. O dólar alto pode estimular o turismo
doméstico, mas, ainda assim, a queda da renda e a crise das aéreas
que sofreram grande impacto durante a pandemia devem seguir pressionando o
setor. "O turismo vai precisar também passar por adaptações para receber
as pessoas com segurança. Isso sem falar na questão emocional dos turistas de
viajar enquanto não tiver vacina".
O POVO