O
Ceará teve ontem o menor número de novos casos de Covid-19 registrados em 24
horas desde o dia 3 de maio. Ao todo, 76.833
pessoas já testaram positivo para a doença no Estado, 202 a mais do que
constava no sábado, 13, de acordo com informações do IntegraSus, plataforma
da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). O marco se deu na véspera de se
completar três meses desde que os primeiros
casos do novo coronavírus foram confirmados no Ceará, em 15 de março.
Em
relação aos óbitos por Covid-19, o Estado teve registro de 32 novas mortes
nesse domingo, contabilizando 4.885 total. Os números de novos óbitos estão
relacionados com o resultado dos exames, e não com a data da morte. A queda nos
números de registros diários de casos, contudo, pode ter sido afetada pela
diminuição no resultado de testes para coronavírus divulgados no fim de semana.
"Se comparar com sábados e domingos anteriores, vai
perceber que também tinha menos do que na semana normal. Talvez porque as
pessoas busquem menos assistência, tanto que sábado e domingo têm menos e
segunda e quarta têm mais. Mesmo com tudo isso, essa curva vem
decrescendo", explica o biólogo e epidemiologista Luciano Pamplona,
professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ao
longo dos três meses desde que a pandemia chegou ao Ceará, a doença surgiu nos
bairros mais nobres da Capital, adentrou a periferia — onde residia a maior
parte das vítimas — e seguiu para o Interior do Estado. Pamplona afirma que
esse é "um momento diferente da pandemia".
"Naturalmente,
o Interior não tem condição de criar leitos de UTI (Unidades de Terapia
Intensiva) semanalmente, como foi feito em Fortaleza, não tem acesso a
profissionais de saúde como temos, muitas vezes, na Capital. Ao mesmo tempo,
eles também não conseguem fazer um isolamento tão forte, tão cobrado, tão
vigiado", afirma.
Porém,
o professor aponta aprendizados ao longo desses 90 dias. "Nós conseguimos
treinar os médicos de forma que, hoje, nos municípios do Interior, a Atenção
Básica está muito mais preparada para atender a esse paciente no início da
doença do que estavam os médicos de Fortaleza naquela época. É uma esperança de
que, mesmo tendo aumento de casos, não tenhamos tantos óbitos."
No
meio acadêmico, o professor titular de Saúde Pública e membro do Grupo de
Trabalho de Enfrentamento à Covid-19 da Universidade Estadual do Ceará (Uece),
Marcelo Gurgel, aponta o impacto da pandemia na instituição de ensino. "No
Interior tem um agravante porque há certo grau de pulverização e tem um caráter
regional e microrregional muito forte", afirma, ao explicar a dificuldade
logística para o retorno das atividades.
Entre
acertos e erros dos gestores durante esses três meses, Gurgel, aponta a
construção do Hospital de Campanha do estádio Presidente Vargas pela Prefeitura
de Fortaleza como um equívoco. "Tinha muitos hospitais e leitos
desativados. Era muito mais prudente e eficiente a reabilitação dos leitos. O
Governo do Estado agiu bem quando requisitou o Hospital Leonardo da Vinci, que
já estava prestes a começar a funcionar", avalia.
O
atual desafio na Capital, segundo Pamplona, é a população entender que o
problema da pandemia não acabou por conta da flexibilização. "Na verdade,
continuamos tendo o vírus, continuamos transmitindo, continuamos com sobrecarga
de leitos."
O POVO