Estudo
realizado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), ligada
ao Ministério do Desenvolvimento Regional, coloca quatro municípios cearenses
entre os dez mais vulneráveis à pandemia do novo coronavírus em toda a Região.
A pesquisa se ancora em quatro dimensões de vulnerabilidade: fator social,
grupos de risco, acesso a equipamentos de saúde e proximidade a focos de
contágios. Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú e Sobral aparecem na tabulação
que une esses critérios.
A
única capital a constar entre as dez cidades pior posicionadas nessa lista é
São Luís, no Maranhão.
Se
fica fora da categoria multicritérios, Fortaleza lider a relação dos 1.974
municípios nordestinos com mais proximidade a focos de contágio. Esse cálculo
busca aferir a influência mútua entre os municípios vizinhos para o crescimento
do número de casos. A conta considera a distância entre as cidades e as
infecções confirmadas em cada local.
Por
isso, nesse recorte, a presença de capitais e cidades de regiões metropolitanas
é mais comum. Além de Fortaleza, Recife (PE) e João Pessoa (PB) surgem no
ranking. E cidades que circundam Fortaleza encabeçam lista, desta vez no
recorte especificamente cearense. Atrás de Fortaleza, estão Caucaia, Maracanaú,
Aquiraz e Eusébio. Razão disso são os "intensos movimentos pendulares por
motivo de estudo e trabalho", segundo escrevem Robson Brandão,
coordenador-geral de estudos e pesquisas da autarquia, e Rodolfo Benevenuto,
PhD pela Trinity College Dublin, autores do estudo.
De
acordo com o superintendente da Sudene, Evaldo Cruz, a finalidade do cruzamento
de dados é orientar mais acertadamente as políticas de combate à Covid-19, além
de lançar luz sobre municípios distantes dos grandes centros. Salitre, a 553
quilômetros de Fortaleza, é o mais fragilizado município entre os cearenses no
aspecto fator social. Consta em 7º lugar na lista nordestina.
Municípios
cearenses não aparecem na lista geral dos dez que menos têm acesso a
equipamentos de saúde dentre os 1.974. Entre as 184 cidades do Ceará, são os
casos de Independência, Monsenhor Tabosa, Choró, Poranga, Arneiroz, Santa
Quitéria, Quiterianópolis, Jaguaretama, Hidrolândia e Itatira. Até ontem, os
municípios tinham 91 dos 16,5 mil registrados no IntegraSUS, da Secretaria de Saúde
do Ceará (Sesa). No Mundo e no País, a maior disputa é pela compra de
respiradores.
Recém-integrado
à Direção de Planejamento da Sudene, o ex-deputado federal Raimundo Gomes de
Matos (PSDB) destaca outro ponto da pesquisa. O de que 27% da população brasileira
acima de 60 anos — e, portanto, inserida no grupo de risco —, vive no Nordeste.
Somado à histórica vulnerabilidade financeira e social da Região, o dado
reforça, segundo ele, a importância de que dos bloqueios impostos no Ceará e em
outros estados.
Para
Gomes de Matos, a plataforma de modernização que vai sendo gradativamente
imposta por Dr. Cabeto, que ajuda Camilo Santana (PT) na gestão estadual a partir
do comando da Sesa, poderá ser impulsionada com o estudo. Também médico, Matos
elogia a agenda do secretário em adotar critérios técnicos — e não políticos —
para o comando dos consórcios de saúde e fortalecimento dos municípios como
modo de não sobrecarregar Hospitais Regionais.
Segundo
o diretor de Planejamento da Sudene, a hora é de ficar em casa em todos os
municípios, principalmente devido a incertezas oriundas da subnotificação e dos
quadros assintomáticos. Em face aos números apresentados, o mapeamento pode
propiciar otimização das ações de combate, concluem Brandão e Benevenuto no
estudo.
"É
fundamental que a sequência de respostas do poder público considere não somente
os municípios isolados, mas também como estes se inserem territorialmente no
quadro geral de vulnerabilidade multidimensional da região", eles
orientam.
O POVO