O
estudo realizado in vitro constatou que o medicamento atazanavir é capaz de
inibir a replicação do novo coronavírus, além de reduzir a produção de
proteínas que estão ligadas ao processo inflamatório nos pulmões e, portanto,
ao agravamento do quadro clínico da doença. Os especialistas também
investigaram o uso combinado do atazanavir com o ritonavir, outro medicamento
utilizado para combater o HIV.
O
estudo foi publicado no domingo (5) na plataforma internacional BiorXiv, em
formato de pré-print, seguindo a tendência dos estudos feitos em meio à
emergência sanitária. Como se trata de uma substÂncia usada há muito tempo em
segurança, o remédio pode ser testado imediatamente em seres humanos.
"A
análise de fármacos já aprovados para outros usos é a estratégia mais rápida
que a ciência pode fornecer para ajudar no combate à COVID-19, juntamente com a
adoção dos protocolos de distanciamento social já em curso", aponta o
virologista Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde
(CDTS/Fiocruz), principal autor do estudo.
Considerando
que trabalhos científicos anteriores já haviam apontado os inibidores de
protease (substancias que inibem a replicação viral) em geral como substancias
promissoras na busca de medicamentos para o novo coronavírus, os pesquisadores
voltaram seus olhos para o potencial de uso do atazanavir em particular.
Além
de inibir a replicação viral, ele também apresenta ação no trato respiratório,
o que chamou a atenção dos cientistas na fase de seleção das substâncias a
serem investigadas.
Os
pesquisadores realizaram três tipos de análises: observaram a interação
molecular do atazanavir com o vírus SARS-CoV-2, realizaram experimentos com
esta enzima e testaram o medicamento in vitro, em células infectadas. Também
foram realizados experimentos comparativos com a cloroquina, que vem sendo
incluída em diversos estudos clínicos mundialmente. Neste caso, os resultados
obtidos apenas com o atazanavir e em associação com o ritonavir foram melhores
que os observados com a cloroquina.
"Não
se trata de uma competição; quanto mais substâncias promissoras, melhor",
frisou Moreno. "Se a cloroquina fosse 100% eficaz, não teríamos mais
nenhuma morte por COVID-19. Mesmo que ela seja aprovada como tratamento padrão,
muita gente não poderá usá-la, devido aos efeitos colaterais, então é sempre
positivo ter alternativas."
A
pesquisa, coordenada pelo CDTS/Fiocruz, envolve também cientistas do Instituto
Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) - incluindo os Laboratórios de Vírus Respiratórios e
do Sarampo, de Imunofarmacologia, de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas, e
do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), além do
Instituto DOr de Pesquisa e Ensino e da Universidade Iguaçu.
CNN