No
sertão cearense, começa a chegar às mãos dos agricultores familiares, o
bioinseticida BT (Bacillus Thuringiensis), que deve ser usado no controle da
lagarta-do-cartucho, a praga mais devastadora da cultura do milho. O produto é
distribuído, de forma gratuita, pelos escritórios da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce).
"Estamos em fase experimental, mas
já podemos afirmar que é um produto de alta qualidade", pontuou o
agrônomo, assessor da Ematerce e professor da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Marcos Vinícius Assunção. "A cultura do milho é a que mais se
planta no sertão cearense, daí a importância do combate natural à praga,
preservando a saúde do agricultor e do meio ambiente", acrescentou.
Testes
O
bioinseticida BT começou a ser testado, em pequena escala, no plantio de milho
de sequeiro em 2017. De lá para cá, a quantidade distribuída vem aumentando.
Por ainda estar em fase experimental, são atendidos apenas produtores inscritos
no programa de distribuição de sementes Hora de Plantar, do Governo do Estado.
"Falta maior divulgação e adesão", reconhece o professor Marcos
Vinícius.
Técnicos
da Ematerce de Fortaleza intensificaram o treinamento dos agentes dos
escritórios da empresa no interior. Eles percorrem as cidades promovendo
reuniões de divulgação e incentivo de uso do produto.
Distribuição
No
Centro-Sul, o escritório regional da Ematerce, que atende a 14 municípios,
recebeu 384 doses para 192 produtores rurais. "A procura ainda é baixa
porque muitos não acreditam", observou o gerente regional, Mauro Nogueira.
"Estamos fazendo testes com grupos de produtores interessados em
experimentar para depois ampliar a divulgação", explicou Nogueira.
Neste ano, no Ceará,
segundo a Ematerce, serão distribuídas doses para cerca de 3% dos agricultores
familiares que receberam sementes de milho híbrido e variedade. O programa Hora
de Plantar atende 144.289 produtores em 82 municípios. Serão entregues 7.350
doses do BT.
Cada agricultor deve fazer duas
aplicações em um intervalo de 15 dias quando a lagarta surgir e começar a
'riscar' a folha do milho, ainda na fase juvenil (com no máximo 1,5cm). Se o
inseto for adulto, não há mais eficiência do produto que destrói o intestino da
lagarta e a mata logo após.
Na
localidade de Juazeirinho, zona rural de Iguatu, o agricultor Cícero de Souza
experimentou, em 2019, o bioinseticida com resultados satisfatórios. Ele
plantou 9 hectares de milho em parceria com outros cinco agricultores. "As
lagartas que não morreram se afastaram", contou. "Deu certo, foi
muito bom".
Neste
ano, Cícero pretende utilizar novamente o BT em dois hectares, consorciando
milho e feijão. "Estamos preparando a terra e esperando a chuva
chegar", disse. "Acho que neste ano o inverno está prometendo".
Ele contou ainda que um vizinho preferiu usar inseticida químico (agrotóxico) e
fazia aplicações de oito em oito dias. "Nós só fizemos duas e deu certo, e
não gastamos nada".
Diario do Nordeste