Para
indústria e comércio, se situação não melhorar na China, Estado pode enfrentar
impactos negativos, como desabastecimento de produtos, uma vez que o país
asiático é o segundo maior vendedor para o estado.
O coronavírus chinês pode, nos próximos
meses, impactar negativamente a economia cearense. Isso porque o país
asiático é um forte parceiro comercial do Ceará, principalmente, nas
importações, fornecendo ao Estado insumos, matérias-primas e produtos acabados,
como eletrônicos. Para a indústria e o comércio, os efeitos ainda são incertos,
mas caso a epidemia continue na velocidade atual de proliferação, os impactos
podem ser sentidos até abril.
De acordo com Cid Alves, presidente do
Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), é provável
que mercadorias produzidas na China venham a faltar no comércio local, embora
não em um curto prazo.
"Os navios que saem da China nesse
período só chegam aqui entre 70 e 90 dias. Lá para abril poderá faltar
produtos, como utilidades de modo geral, eletrônicos e eletrônicos menos
refinados. Mas isso de abril em diante", estima Alves. "Eu acho que
isso não é imediato, mas poderá acontecer. Também não acho que nos meses de
fevereiro e março haverá qualquer problema relacionado com
desabastecimento", afirma.
Parceiro
Segundo
o Ministério
da Economia, o Ceará importou em 2019 da China um valor de US$
413,9 milhões em mercadorias, principalmente insumos para a cadeia produtiva
local. São compostos organo-inorgânicos usados na indústria química cearense,
moldes para borrachas ou plásticos, produtos laminados planos de ferro ou aço,
além de partes para máquinas, principalmente, insumos usados em motores e
geradores de materiais elétricos.
A gerente do Centro Internacional de
Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Karina
Frota, pondera que o cenário ainda é de muita especulação, mas reitera que
podem ocorrer impactos negativos no mercado para o Estado.
"Olhando pelo viés de uma
perspectiva de redução da atividade econômica da China, como somos um estado
importador, pode ser que as importações de lá tenham uma retração, porque nós
teremos uma oferta de produtos menor. E mesmo que a gente tenha uma oferta
razoável, nós teremos uma oscilação naquele preço que tradicionalmente a gente
importa dentro de um intervalo", explica.
Ela acrescenta que, dentro desse cenário
pessimista, os importadores cearenses deverão enfrentar preços maiores após a crise
desencadeada pela proliferação do coronavírus na região.
"Dentro dessa especulação de que a
China enfrenta, pode haver uma queda na produção industrial chinesa e, por
conta disso, eu posso realizar as minhas importações por um preço mais alto ou
posso ter escassez daquele produto que eu importo", exemplifica a gerente
do CIN.
Ela destaca que algumas indústrias
específicas do Ceará podem se confrontar com preços elevados daqui a alguns
meses. "Nesses 20% que o Ceará importa da China, a gente tem muito a
questão dos insumos para a indústria química, de partes que alimentam nossa
energia renovável".
Já no ranking das exportações do Ceará
para a China, o país asiático fica apenas 11º lugar no ranking de principais
compradores de mercadorias do Estado em 2019. No ano, foram exportados à China
US$ 51,1 milhões em produtos fabricados aqui.
O Ceará exportou para o país
principalmente minérios de manganês (US$ 11,2 milhões), ceras vegetais (US$
11,2 milhões), lagostas congeladas (US$ 9,5 milhões), outros peixes (US$ 4,7
milhões) e outros calçados de borracha ou plástico (US$ 3,8 milhões).
Missão
adiada
A
repercussão do coronavírus também está afetando as missões empresariais para a
China. De acordo com a gerente do CIN, as missões para o país asiático são
comuns, e a Fiec realiza pelo menos duas por ano. "No momento atual, a
orientação do governo chinês é que essas visitas ao mercado sejam adiadas até
que a gente tenha alguma configuração mais concreta desse cenário. Nós tínhamos
uma agenda na Feirão de Cantão (feira mais antiga e mais representativa da
China) em abril, e hoje, pela recomendação do governo chinês, nós adiamos a
viagem para a edição de outubro. A feira faz parte do calendário de negócios da
China".
Frota diz ainda que Fiec trabalha nessa
área de promoção comercial com vários mercados do mundo. "No caso
específico da China, a ótica é para a importação de insumos, matérias-primas e
bens de capital para acelerar o ganho de produtividade da indústria
doméstica", aponta.
Viagem cancelada
O empresário Alexandre Pedron, por sua
vez, cancelou a viagem marcada para a China. Ele pondera que a crise com o
coronavírus pode afetar os negócios em larga escala, chegando a todo o País.
"Muitas empresas hoje dependem de
produtos e matéria-prima da China e pode ser que isso vire um efeito cascata.
Pode ser que atrase toda a programação de embarque, uma programação de produção
que as empresas hoje dependem. Isso realmente pode ser que prejudique o
Ceará".
Pedron afirma ainda que já há diálogos
com empresários locais que importam produtos da China. "Já existe uma
conversa entre empresários para fazer um novo planejamento de como manter o
faturamento junto às empresas varejistas e parcerias para ver como a gente vai
manter esse faturamento até que seja controlada essa epidemia".
Diario do Nordeste