Segundo
o ex-procurador-geral, logo depois de ele apresentar uma exceção de suspeição
contra Gilmar, o ministro difundiu “uma história mentirosa” sobre sua filha. “E
isso me tirou do sério.”
Em
maio de 2017, Janot, na condição de chefe do Ministério Público Federal, pediu
o impedimento de Gilmar na análise de um habeas corpus de Eike Batista, com o
argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório
Sérgio Bermudes, que advogava para o empresário.
Ao
se defender em ofício à então presidente do STF, Gilmar afirmou que a filha de
Janot – Letícia Ladeira Monteiro de Barros – advogava para a empreiteira OAS em
processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo o
ministro, a filha do ex-PGR poderia na época “ser credora por honorários
advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato”.
“Foi
logo depois que eu apresentei a sessão (…) de suspeição dele no caso do Eike.
Aí ele inventou uma história que a minha filha advogava na parte penal para uma
empresa da Lava Jato. Minha filha nunca advogou na área penal… e aí eu saí do
sério”, afirmou o ex-procurador-geral.
Janot
disse que foi ao Supremo armado, antes da sessão, e encontrou Gilmar na antessala
do cafezinho da Corte. “Ele estava sozinho”, disse. “Mas foi a mão de Deus. Foi
a mão de Deus”, repetiu o procurador ao justificar por que não concretizou a
intenção. “Cheguei a entrar no Supremo (com essa intenção)”, relatou. “Ele
estava na sala, na entrada da sala de sessão. Eu vi, olhei, e aí veio uma ‘mão’
mesmo”.
O
ex-procurador-geral disse que estava se sentindo mal e pediu ao
vice-procurador-geral da República o substituir na sessão do Supremo. A cena
descrita acima não está narrada em detalhes no livro Nada menos que tudo
(Editora Planeta), no qual relata sua atuação no comando da Operação Lava Jato.
Janot alega que narrou a cena, mas “sem dar nome aos bois”.
O
ex-procurador-geral da República diz que sua relação com Gilmar já não era boa
até esse episódio, mas depois cortou contatos. “Eu sou um sujeito que não se
incomoda de apanhar. Pode me bater à vontade… Eu tenho uma filha, se você for
pai…”
Procurado,
Gilmar Mendes não havia se pronunciado até a publicação da reportagem.
(Colaborou Amanda Pupo)
Eliomar
de Lima (Foto – Agência Brasil)