Motorista de aplicativo é acusado de estuprar passageiras — Foto: Reprodução |
O
acusado ainda responde a quatro ações penais na Justiça Estadual, sendo três
por estupro.
O
ex-motorista de aplicativo Patrick Carneiro do Nascimento foi condenado a 14
anos e 4 meses de reclusão, inicialmente em regime fechado, pelos crimes de
estupro e roubo, por decisão da 3ª Vara Criminal da Justiça Estadual do Ceará.
Ele foi preso em agosto de 2018,
por suspeita de cometer crimes sexuais contra várias mulheres em Fortaleza.
A
sentença, que também decretou a prisão preventiva do acusado, foi proferida em
6 de maio, mas não foi divulgada porque o processo está sob sigilo de Justiça.
A defesa - que não foi localizada pela reportagem - recorreu da condenação, mas
o recurso ainda não foi julgado, conforme informações do Tribunal de Justiça do
Ceará (TJCE).
Uma
vítima do motorista ouvida pelo G1 teve a
vida social modificada após a corrida com o acusado. "É muito complicado
para mim andar só, não consigo confiar em mais nenhum motorista. Para o
trabalho, consigo ir de transporte público. Mas para sair à noite, eu não pego
mais aplicativo. Eu fico dentro de casa porque não saio, não vejo mais minhas
amigas", revela.
A
mulher pede para não falar sobre o dia do estupro. "Eu tenho que ter
acompanhamento (psicológico), mas nunca tive como continuar, por problema
financeiro e falta de tempo", lamenta.
Crimes
em série
A
reportagem apurou que Patrick responde a mais quatro ações penais no TJCE, que
tramitam na 7ª, na 14ª, na 15ª e na 16ª Varas Criminais. Duas delas são por
estupro e roubo; uma por estupro; e outra por estelionato. Um dos casos já está
pronto para ser julgado.
A
detenção e a condenação do motorista de aplicativo amenizaram a dor de uma
vítima de outro processo que corre na Justiça Estadual. "Já abriu um
caminho, já me sinto um pouco mais segura", afirma.
Após
o estupro sofrido por ela, os familiares perceberam que a placa do veículo que
Patrick dirigia era diferente das informações do aplicativo.
"A
placa era de uma moto. Como ela tava sem internet, só deu tempo de ela chamar o
carro. Quando chegou, ela não conferiu placa nem nada. No bairro Dunas, tem uma
bifurcação escura. Ele parou o carro, cometeu o abuso, bateu nela e mandou sair
do carro. Ela procurou um condomínio perto e pediu ajuda", detalha um
parente, que também não quis se identificar.
Mais
vítimas
O
promotor Marcos William, do Ministério Público do Ceará (MPCE), responsável
pela acusação ao réu em outro processo, acredita que o número de vítimas de
Patrick do Nascimento é maior do que a Justiça conhece. "Provavelmente,
tivemos outros casos, em que a vítima não procurou a Polícia. Muitas vítimas
não têm coragem de fazer a denúncia. Só depois que os outros casos vieram à
tona, ela veio denunciar, cinco meses depois", comenta, ao se referir à
ação penal em que elaborou a denúncia.
O
motorista do aplicativo 99 Pop repetia o "modus operandi" nos crimes
sexuais. "Ele usava outro nome no aplicativo. As passageiras pediam a
corrida, ele levava para as proximidades do bairro Dunas, as estuprava e
subtraia, mediante violencia, objetos das vítimas, dinheiro, celular,
geralmente à noite", conta o promotor.
Assistência
A
vítima ouvida pela reportagem e os familiares reclamam que a 99 Pop nunca os
procurou para oferecer qualquer tipo de ajuda e já os processou por danos
morais - ação pela qual a empresa ainda será intimada. "O aplicativo em si
não tomou nenhuma providência. A gente (vítima) que foi atrás, porque senão ele
ainda estaria solto", afirma a mulher.
Em
nota, a 99 disse que "lamenta profundamente os graves casos de violência
ocorridos em 2018, em Fortaleza, envolvendo um motorista cadastrado na
plataforma. Na ocasião, a empresa imediatamente baniu o condutor do aplicativo
e colaborou ativamente com as autoridades nas investigações. Diante dos fatos,
a empresa adotou uma série de medidas adicionais para aumentar a segurança das
corridas, entre eles a revisão completa do processo de cadastramento de novos
motoristas e a reanálise presencial de 100% da documentação dos condutores
ativos na plataforma. Além disso, lançou novos recursos de segurança como: -
Reconhecimento facial que periodicamente identifica o rosto dos motoristas
antes de eles se conectarem ao app; Solicitação, no momento do cadastro, de uma
selfie do condutor segurando a carteira de habilitação, além de foto de CNH e
licenciamento; Passageiros são convidados a verificar se a imagem do motorista
bate com quem realizou a corrida, antes e depois da chamada; Algoritmo que
rastreia automaticamente denúncias de assédio e estupro deixadas nos
comentários ao fim das corridas. A 99 se solidariza com a vítima e com seus
familiares e manteve contato com eles no período, oferecendo todo o apoio
possível. O auxílio inclui informações sobre como obter o seguro pessoal que
cobre acidentes pessoais de todos os usuários da plataforma durante as
corridas. O aplicativo informa, porém, que a vítima e sua família não
realizaram a ativação do seguro".
G1
CE