Da
Coluna de Nelson Motta, no O Globo desta sexta-feira, com o título “Plano C”.
Confira:
Com a
saída de Lula, crescem as chances de Ciro Gomes — e de outros candidatos. Por que
falar em Ciro Gomes? Apesar de pontuar razoavelmente nas pesquisas, sem Lula
vai a 12% contra 18% de Bolsonaro, ninguém fala dele. Mas ele está vivo — e
quieto, contrariando sua habitual impetuosidade.
Afinal,
o que há contra Ciro Gomes? Na campanha de 2002, ele disse que a função de sua
mulher era dormir com ele e chamou um eleitor de burro. Oh! Uma bravata
machista e uma grosseria com um popular que falou uma… burrice. Será que isso
bastou para perder a eleição? Há controvérsias. Ciro nunca foi acusado de
corrupto, mesmo tendo sido prefeito, governador e ministro da Integração
Nacional no primeiro governo Lula. É verdade, o cara é esquentado, responde a
mais de 80 processos por danos morais, quase todos a Eunício Oliveira, Eduardo
Cunha e Michel Temer. Mas, convenhamos, ser processado por esses caras é quase
um elogio.
Não,
não estou fazendo nem farei campanha para Ciro Gomes, nem para ninguém. Mas não
entendo por que ele é tão criticado por, às vezes, ser grosso e estourado, como
se isso pudesse impedir alguém de fazer um bom governo. Basta pensar em Lula e
Dilma, suas grossuras, seus palavrões, seu autoritarismo, para Ciro virar um
gentleman tolerante.
Não
gosto de seu nacionalismo exacerbado, seu amor às estatais, um certo
provincianismo geopolítico que é irmão do atraso, suas ligações com uma
esquerda antiga, retrógrada e populista — talvez mais eleitorais do que
ideológicas. E o PDT, é claro.
Pode-se
discutir suas ideias para o Brasil, mas não sua honestidade e experiência. Mas
o Brasil precisa de alguém com o seu perfil? Não dá para enfrentar Bolsonaro
com sutilezas e metáforas, nem para administrar um país com a corrupção
institucionalizada nos Três Poderes, só com argumentos racionais e diálogos
republicanos. É preciso força, coragem e autoridade, tolerância zero com
corruptos, sejam parlamentares, juízes ou altos funcionários, respeito à
democracia e à Constituição.
Se o
problema de Ciro é o estilo arretado, talvez agora isso seja uma qualidade
necessária.