“A Câmara dos Deputados não aprovou nenhuma medida
desde fevereiro de 2015”, declarou a presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
“Se isso não é um dos maiores boicotes na história, não sei dizer o que é.” Foi
nesse tom de confronto que a petista discursou ontem aos senadores, em dia
histórico para o parlamento brasileiro.
Reforçando tese da defesa segundo a qual o
impeachment não tem base legal, configurando-se como “golpe”, Dilma adotou fala
mais política do que técnica e endureceu com seus julgadores, que votam hoje
ainda o afastamento definitivo da presidente.
Sem perspectiva de reverter votos,
porém, Dilma culpou Eduardo Cunha, citando-o nominalmente inúmeras vezes, e
defendeu-se das acusações que motivaram o processo de afastamento no Congresso.
“Que País do mundo enfrentaria uma crise política baseada em três decretos ou subsídios dados à agricultura?”, contestou a mandatária.
“Que País do mundo enfrentaria uma crise política baseada em três decretos ou subsídios dados à agricultura?”, contestou a mandatária.
“Este é o segundo julgamento a que sou submetida em
que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Este processo
está marcado por clamoroso desvio de poder, que explica absoluta fragilidade
das acusações dirigidas contra mim”, continuou.
Dilma respondeu
aos questionamentos feitos pelos senadores durante todo o dia de ontem.
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), um dos que ainda poderiam mudar de voto, reafirmou seu posicionamento pelo impeachment.
Noutra ponta, o senador Hélio José (PMDB-DF), antes favorável ao afastamento, anunciou que votará contra o impeachment.
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), um dos que ainda poderiam mudar de voto, reafirmou seu posicionamento pelo impeachment.
Noutra ponta, o senador Hélio José (PMDB-DF), antes favorável ao afastamento, anunciou que votará contra o impeachment.
Discurso
Para cientistas políticos ouvidos
pelo O POVO,
a fala da presidente foi essencialmente política e direcionada à defesa do
legado de seu grupo político, que governou o País por mais de 13 anos, mas
também para reforçar a narrativa petista para a eleição de 2018.
Paulo Baía, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, avalia que o tom da carta lida na
tribuna do Senado poderia ter sido mais emotivo, para falar diretamente à
opinião pública — o que não ocorreu.
“Ela não falou para a opinião pública, ela falou para os seus aliados. O discurso não tem impacto para o Senado nem para a sociedade
brasileira”, analisa.
“Ela não falou para a opinião pública, ela falou para os seus aliados. O discurso não tem impacto para o Senado nem para a sociedade
brasileira”, analisa.
Baía acredita que o objetivo da defesa feita por
Dilma é a tentativa de rearranjar a esquerda e manter a resistência ao governo
do presidente em exercício, Michel Temer.
Para Oswaldo Amaral, da Universidade de Campinas,
Dilma, em todo o seu discurso, quis reforçar a ideia de que o impeachment se
baseia em um processo político, e não técnico. “Eu acredito que (o discurso)
tinha que ser do jeito que foi. O jogo foi jogado, não tinha o que fazer.”
Fonte: O Povo online