Percorrer 29 quilômetros diariamente
para estudar era uma rotina que o cearense Marcondes Guedes se orgulha de ter
passado. Com esse empenho, o filho de agricultores do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e morador do Assentamento 10 de abril, no
distrito de Ponta da Serra, na região do Crato, a 515 km de Fortaleza,
conquistou, aos 19 anos, uma aprovação em Medicina na Universidade Federal do
Cariri (UFCA) em janeiro deste ano.
Mesmo com uma
situação financeira desfavorável, ser médico sempre foi seu sonho. O
jovem sempre estudou em escolas públicas e concluiu o ensino médio na
unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
do Crato. Na instituição, Marcondes fez toda a sua preparação para o vestibular
junto com um cursinho no qual ganhou uma bolsa de estudos.
Antes do galo cantar
Segundo o
jovem, a rotina de estudos começava antes mesmo de o sol nascer. “Respeitava
os limites do meu corpo e me esforçava em média de quatro a cinco horas por dia
de estudo individual. Foi uma ano de preparação”, afirma.
Em um cursinho
onde a concorrência é alta, Marcondes teria que se destacar através
do empenho. Para tentar realizar o sonho, foi necessário bastante
dedicação. Marcondes fez a prova de vestibular apenas duas vezes.
Na primeira, o
cearense conquistou pontuação necessária para cursar qualquer curso oferecido
pela universidade, mas não o de medicina. Com o sonho em mente, ele se
dedicou ainda mais e, na segunda tentativa, alcançou seu objetivo.
Segundo ele, um dos maiores desafios foi recuperar alguns conteúdos que
havia perdido no ensino médio, como redação. “É muito difícil para um aluno de
ensino público”, acrescenta. A família o apoiou desde o início e a notícia
da aprovação deu felicidade a todos. O fato de morar longe da
escola e do cursinho também era um empecilho, mas não fez com que
pensasse em desistir. “Talvez se
não tivesse dado certo, eu tentaria mudar de curso, mas isso não passava na
minha cabeça”, esclarece.
Conseguindo
atingir 728 pontos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), Marcondes entrou
na universidade por meio do programa de cotas do Sistema de Seleção Unificada
(Sisu). Iniciando as aulas em março, o jovem diz que todo o seu empenho
também será uma forma de retribuir à sua classe todo o conhecimento adquirido.
Sem preconceito
Ser oriundo da
zona rural, filho de agricultores de baixa renda, ser aluno cotista e estudar
em um centro universitário com pessoas de alta renda social poderiam dar
margens ao preconceito e discriminação, todavia ele não passou por nada disso. “Foi uma felicidade extrema. O pessoal aqui da
faculdade é muito receptivo, estou bem feliz”, finaliza o futuro médico.
Fonte: Tribuna do Ceará