Com reportagem de Pedro Zambarda.
O processo da prisão de Lula deflagrado pelo MP de São Paulo entrará
para a história como uma ode à irresponsabilidade, com enormes pitadas de humor
involuntário, tragicomédia e ignorância.
O documento protocolado pelos promotores José Carlos Blat,
Cássio Conserino e Fernando Henrique Araújo tem como função jogar gasolina na
fogueira do protesto de 13 de março. Conserino, que julgou e condenou Lula
na Veja há semanas, finalmente cumpre o prometido.
A desculpa é que Lula estaria sendo blindado. “Sabidamente possui
poder de ex Presidente da República, o que torna sua possibilidade de
evasão extremamente simples.”
É preciso conter Lula e “toda a sua rede violenta de
apoio” — uma versão ainda mais cínica e esdrúxula do despacho do delegado
que fez a condução coercitiva, alegando que estava levando o ex-presidente a
Congonhas para “proteger sua imagem”.
Resultado: movimentos sociais convocaram seus militantes para
um protesto imediatamente. Ninguém poderá se surpreender se houver,
no domingo, uma conflagração.
No item 129 da denúncia, lê-se: “As atuais condutas do
denunciado LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, que outrora chegou a emocionar o país ao
tomar posse como Presidente da República em janeiro de 2003 (‘o primeiro
torneiro mecânico’ a fazê-lo de forma honrosa e democrática), certamente
deixariam Marx e Hegel envergonhados”.
O trio estava se referindo a Karl Marx e Friedrich Engels.
Por açodamento e burrice, trocaram Engels pelo alemão Georg Wilhelm Friedrich
Hegel (1770-1831). Hegel é reconhecidamente um dos maiores pensadores da
corrente dialética e do historicismo, mas não da esquerda.
Menciona também que “é nesse contexto que se traz à luz,
notícia de que o denunciado LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA protagonizou verdadeiro
ataque às instituições do Sistema de Justiça, fato ocorrido em vídeo gravado
pela deputada federal Jandira Feghali, conforme abaixo noticiado e possível de
visualização na rede mundial de computadores (internet).”
“Um vídeo gravado pela deputada federal Jandira Feghali
(PCdoB) de apoio a Lula saiu pela culatra. Tudo porque, antes que ela fale
qualquer coisa, é possível ouvir Lula dizendo “eles que enfiem no cu todo este
processo”.
O
que isso tem a ver qualquer coisa?
Nem o pobre Nietzsche é poupado. “Falou Zaratustra: ‘Nunca
houve um Super-homem. Tenho visto a nu todos os homens, o maior e o menor.
Parecem-se ainda demais uns com os outros: até o maior era demasiado humano.’
Fundamental a referência à obra do filósofo alemão Friedrich Nietzche, pois de
forma muito racional estabelece que todos os seres humanos se encontram em um
mesmo plano138, premissa maior que norteará toda a construção do pedido de
prisão preventiva do denunciado LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, qual seja, a do
princípio constitucional da isonomia”.
O caso está nas mãos da juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga
Oliveira, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, e não há prazo para decidir o caso.
Como tudo o que é ruim sempre pode piorar, uma informação relevante: em 2008
ela condenou à prisão um porteiro de 28 anos chamado Robson Nunes — que não foi
reconhecido pela vítima de um assalto à mão armada.
De acordo com o Estadão, “os bons
antecedentes, o trabalho fixo e as declarações de boa índole em favor de Nunes
não foram considerados.”
Fonte: Diário do Centro do Mundo.