O Brasil está em frangalhos. A economia enfrenta uma recessão
que se aprofunda: na última terça-feira (11), a agência Moody's rebaixou a nota de
crédito do país para praticamente lixo. Um enorme escândalo de corrupção ligado à
companhia nacional de petróleo, Petrobras, envolveu dezenas de políticos e
empresários. O legislativo está em revolta. O índice de popularidade da presidente
Dilma Rousseff, menos de um ano após sua reeleição, caiu para apenas um dígito, eprotestos em todo o país no domingo
(16) reverberaram com pedidos de impeachment.
Em toda essa turbulência, é fácil não ver a boa notícia: a
força das instituições democráticas brasileiras. Ao processar a corrupção na
Petrobras, os promotores federais de uma unidade especial anticorrupção do
Ministério Público não foram dissuadidos por posições hierárquicas, aplicando
um golpe na forte cultura da impunidade entre as elites do governo e
empresariais.
Antigos executivos da Petrobras foram presos, assim como o
rico executivo-chefe da gigante da construção Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e o
almirante que supervisionava o programa nuclear secreto do Brasil. Muitos
outros enfrentam escrutínio, incluindo o antecessor e mentor de Rousseff, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora as investigações tenham criado enormes problemas
políticos para Rousseff e levantado questões sobre seu período de sete anos na
presidência [do Conselho de Administração] da Petrobras, antes de se
tornar chefe de governo, ela, admiravelmente, não se esforçou para constranger
ou influenciar as investigações.
Pelo contrário, constantemente enfatizou que ninguém está
acima da lei e apoiou um novo mandato para o
promotor-geral encarregado do processo da Petrobras, Rodrigo Janot.
Até
agora, as investigações não encontraram provas de atos ilegais de sua parte. E
embora Rousseff seja sem dúvida responsável pelas políticas e grande parte da
má administração que derrubaram a economia brasileira, estas não são ofensas
que levem a um impeachment.
Forçar Rousseff a deixar o cargo sem evidências concretas de
erros causaria grave dano à democracia que vem se reforçando há 30 anos, sem
qualquer benefício compensatório. E nada sugere que os líderes à espreita
fariam um melhor trabalho na economia.
Não há dúvida de que os brasileiros enfrentam tempos difíceis
e frustrantes, e as coisas provavelmente vão piorar antes de melhorar. Rousseff
também deverá sofrer muito mais críticas e problemas. Mas a solução não deve
ser minar as instituições democráticas, que, afinal, são as garantias de
estabilidade, credibilidade e governo honesto.
Fonte: Uol