Como
educar os filhos é um tema que ocupou os filósofos desde sempre. A humanidade
parece não ter progredido tanto assim nessa questão, mas não foi por falta de
reflexão dos sábios da Antiguidade. Alguns povos antigos bem-sucedidos na
educação das crianças foram objeto de admiração dos pensadores. Xenofonte,
discípulo de Sócrates, fala dos persas. Eles se preocupavam mais em ensinar as
virtudes às crianças do que as letras e as ciências. Platão, outro pupilo de
Sócrates, aliás o maior deles, também fala dos persas. Os garotos persas
aprendiam a ser sinceros, justos, valentes, antes de mergulhar na trigonometria
ou na gramática.
Também a mocidade de Esparta recebia esse tipo de instrução.
Os jovens eram preparados para a vida. Exemplos do que lhes era ministrado:
como suportar as adversidades ou como controlar os desejos. Perguntaram a um
pensador grego o que as crianças deveriam aprender. Respondeu ele: “O que terão
de fazer quando crescerem”.
As
lições gregas sobre como criar a juventude encantaram e comoveram, tempos
depois, Montaigne, filósofo francês do século XVI. Na sua obra magna, Os
Ensaios, Montaigne lembra, com admiração reverente, que os gregos ensinavam
suas crianças a “defender-se contra as tentações da volúpia e encarar com
coragem os revezes da sorte ou a morte que nos ameaça”.
A
pedido de uma amiga grávida, Condessa de Gurson, Montaigne escreveu nos Ensaios
um capítulo sobre a educação. “A criança não deve ser educada junto aos pais. A
sua afeição natural relaxa-a demasiadamente. O resultado é que a criança não
está pronta para a aventura da vida”. Montaigne referia-se a uma praga que, nos
dias de hoje, é conhecida como “superproteção”. Queremos poupar os filhos dos
dissabores da vida, mas o resultado é que nós os prejudicamos: a superproteção
os torna inseguros, medrosos e sem confiança.
Palavras de Montaigne à Condessa interessada em como criar o filho que chegava:
→ “O silêncio e a modéstia são muito apreciáveis na
conversação”.
→ “Deve-se ensinar o menino a mostrar-se parcimonioso em seu
saber, quando o tiver adquirido; a não se irritar com tolices e mentiras ditas
em sua presença. Que se contente em corrigir a si próprio e não aos outros. Que
evite as atitudes indelicadas de dono do mundo. Que o ensinem sobretudo a ceder
numa discussão ante a verdade, logo que a enxergue, surja ela dos argumentos do
adversário ou de sua própria reflexão. Teimar e contestar obstinadamente são
defeitos das almas vulgares, ao passo que voltar atrás, corrigir-se, abandonar
sua opinião errada no ardor da discusão, são méritos raros, das almas fortes e
dos espíritos filosóficos”.
→ “Convém ensinar a criança a prestar atenção a todas as
pessoas que a cercam. As próprias tolices e fraquezas dos outros nos instruem.
Observando as maneiras de todos, o jovem será levado a imitar as boas e
desprezar as más”.
→ “Habitue a criança ao suor e ao frio, ao vento, ao sol.
Tire-lhe a moleza e o requinte no vestir, no dormir, no comer e no beber”.
Montaigne pregava, enfim, inspirado nos exemplos que a
história lhe oferecia, uma educação cuja validade é eterna, tamanha a sabedoria
alojada dentro dela.
Fonte:
Diário
do Centro do Mundo.