O
empresário José Hawilla, proprietário da Traffic, já vai se tornando íntimo dos
que curtem – e até dos que odeiam – futebol. O “parceiro comercial” predileto
dos cartolas da Fifa e das empresas de mídia – Globo à frente – que exploram
(literalmente) o futebol brasileiro foi o estopim para o escândalo de corrupção
que eclodiu ao longo da semana.
Graças a acordo de delação premiada do empresário com a
Justiça americana, o FBI estourou escândalo que envolve dirigentes esportivos
como José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol
(CBF), preso na última quarta-feira (27) junto com outros dirigentes de
entidades das Américas do Sul, Central e do Norte.
Para que não restem dúvidas sobre a seriedade do caso, segundo
o Departamento de Justiça dos Estados Unidos o executivo foi procurado em
dezembro do ano passado e aceitou as acusações de extorsão, fraude e lavagem de
dinheiro e selou um acordo de “delação premiada” de US$ 151 milhões, dos quais
US$ 25 milhões foram pagos à vista.
Só tendo muita cara-de-pau, portanto, para sequer insinuar
que empresas de mídia que estariam “de fora” da divisão do bolo de transmissão
do futebol estariam participando, em conluio com os Estados Unidos da América,
de uma conspiração que poderia ter “interesses políticos e econômicos”.
Bem, o que não falta à mídia tupiniquim é, justamente,
cara-de-pau. Desse modo, o Jornal da Band deste sábado teve a audácia quase
inacreditável de insinuar que “Prisões de dirigentes da FIFA podem ter interesses
políticos e econômicos”.
Não acredita?
A
teoria da Band é a de que as prisões efetuadas pela polícia suíça ao longo da
semana “Podem ter interesses políticos e econômicos”.
Quais interesses? A matéria não soube explicar. Começa
dizendo que o alvo dessa conspiração ianque poderia ser “a Rússia, sede da
próxima Copa”. Mas o que é, diabos, que os EUA estariam pretendendo? Será que
querem tirar a Copa da Rússia para trazê-la para o território norte-americano?
E, claro, não poderia faltar alguma insinuação contra o
governo Dilma Rousseff. A bela apresentadora da Band diz que, “Aqui no Brasil,
o temor é que o caso leve a uma tentativa de intervenção do governo no futebol
brasileiro”.
Ou seja: o governo Dilma estaria mancomunado com o FBI para,
quem sabe, estatizar o futebol brasileiro. Só pode ser essa a tese. Há que
especular, porque a reportagem da Band não diz que tipo de intervenção seria
essa, até porque está claro que não sabe o que inventar, já que não existe uma
hipótese crível para tal bobagem.
Como indício de conspiração, a reportagem cita que as prisões
foram levadas a cabo “A dois dias da eleição na Fifa”, como se todo esse monte
de sujeira que está brotando do caso tivesse sido inventado para influir nessa
eleição. Provavelmente J. Hawilla teria sido abduzido pela conspiração
comuno-capitalista que envolve o governo norte-americano e o brasileiro e quem
sabe a Record, interessada em tomar de Globo e companhia a exploração das
imagens dos jogos.
A Band chegou ao ridículo de colocar um gringo com sotaque
carregado para conferir verossimilhança à tese maluca:
— Questões políticas e geopolíticas também estão atrás dessa
ação do governo dos Estados Unidos. Com certeza (…) Um dos grandes apoiadores
do que se passa é a Rússia. A Copa do Mundo vai ser realizada na Rússia. Então
isso é um recado ao governo russo, que os Estados Unidos estão de olho no que
está acontecendo na Fifa.
Uau! Que revelação. Mas, afinal, qual é mesmo a revelação,
que “Os Estados Unidos estão de olho”? Qual é a tese, afinal? O que os EUA
pretenderiam supostamente inventando um esquema de corrupção na entidade?
A reportagem ainda teve a falta de vergonha na cara de
colocar uma fala do respeitável Valter Maierovitch dizendo que tem que
investigar tudo mesmo e que o caso deverá despertar o interesse de autoridades
brasileiras para fazer crer ao espectador desatento que o ex-desembargador
concorda com a teoria da conspiração mal-ajambrada.
Palavras de Maierovitch:
— O Brasil vai ter que passar a limpo não só a CBF. Nós
temos, ainda pendente, o Panamericano, que custou muito e se desviou muito,
entre aspas.
Ora, o que diabos tem que ver essa fala de Maierovitch com
uma reportagem intitulada “Prisões de dirigentes da FIFA podem ter interesses
políticos e econômicos”? Ele está dizendo justamente o contrário, ou seja, que
há motivos muito sólidos para investigar tudo, inclusive com participação do
governo brasileiro.
A locução do repórter de campo da Band prossegue:
— Há setores muito preocupados com uma possível intervenção
do governo na administração do futebol brasileiro…
E tome “especialistas” formulando teorias conspiratórias que
não se entende quais seriam. Um tal “especialista em marketing esportivo”
tirado do bolso do colete ainda tenta formular alguma coisa. O escândalo
poderia “ser visto como oportunidade” para “Grupos que estão de olho nos
negócios do futebol para ocupar espaços que até hoje não conseguiram”.
Segundo o tal especialista, os que não participam dos
“negócios do futebol” precisariam de “uma ruptura, uma grande crise” para que
esses grupos de mídia que não estão nesses “negócios” possam tirar uma parte do
bolo.
O que quer dizer tudo isso? Que Globo e Band acham que a
Record estaria por trás de tudo isso, juntamente com os EUA e o governo
comuno-petista de Dilma Rousseff. A emissora de Edir Macedo estaria provendo
informações a laranjas para desacreditarem as sacrossantas emissoras que
controlam a veiculação do esporte.
Mas será que foram Dilma, os EUA e a Record que obrigaram J.
Hawilla a fazer suas traquinagens – em parceria com herdeiros da família
Marinho e outros personagens menores – ou será que existe mesmo uma sujeira
muito grande, e decenal, conspurcando os tais “negócios do futebol”?
Fonte:
Brasil
247.













