Há
indícios de que o esquema de cartel, superfaturamento e pagamentos de propina
investigado pela Polícia Federal na Operação Lava Jato vá "muito
além" da Petrobras, atingindo outros setores. A constatação é do juiz
federal Sérgio Moro, responsável pelos processos referentes ao caso, com base
em uma tabela apreendida com o doleiro Alberto Youssef em que são citadas cerca
de 750 obras públicas em diversos setores de infraestrutura.
"Há indícios que os crimes transcenderam a
Petrobras", disse Moro em despacho publicado na quarta-feira 3, pelo qual
o juiz negou o pedido de revogação de prisão de Gerson de Mello Almada,
vice-presidente da Engevix. No documento, ele classifica como
"perturbadora" a tabela de Youssef. Constavam nela "a entidade
pública contratante, a proposta, o valor e o cliente do referido operador,
sendo este sempre uma empreiteira", descreve.
Em declaração recente, Moro disse que grande
parte do esquema se mantém encoberto, sem possibilidade de se prever o tamanho
do escândalo, nem partidarizar os envolvidos. Seu despacho dessa semana
sinaliza que outros setores além do petróleo devem ser alvo de investigação. A
oposição deverá agora pressionar para que a apuração atinja, por exemplo, o
setor elétrico e todas as obras federais.
Neste cenário, o teste da
imparcialidade será a estatal mineira Cemig, joia da coroa do governo Aécio
Neves (PSDB), sobre a qual o próprio Sérgio Moro já afirmou ver suspeitas. O juiz apontou,
em novembro, uma comissão de R$ 4,6 milhões paga pela InvestMinas, do
empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, à MO Consultoria, uma das empresas de
fachada de Alberto Youssef, na venda de pequenas centrais hidrelétricas à
Light, controlada pela Cemig. O caso será investigado pela PF.
A
justificativa da InvestMinas para o pagamento a Youssef é a de que ele
intermediou a venda, por R$ 26,5 milhões, da participação acionária da
companhia na Guanhães Energia para a Light Energia, com intervenção da Cemig
Geração e Transmissão S.A. O Ministério Público suspeita que os contratos e
notas referentes à negociação sejam fraudulentos. Sérgio Moro já classificou a
negociação, que não estaria relacionada aos desvios na Petrobras, como
"suspeita".
A pergunta é: a nova leva de investigações, além Petrobras,
atingirá a joia tucana?
Fonte:
Brasil
247.