O relatório foi
publicado depois de uma semana de debates intensos entre cientistas e
autoridades de governos de todo o mundo.
"A
influência humana no sistema climático é clara, quanto mais perturbamos nosso
clima, mais riscos temos de impactos graves, amplos e irreversíveis",
disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.
E, de acordo com Pachauri, o
mundo todo será afetado por estes danos.
"Quero
destacar o fato de que a mudança climática não deixará nenhuma parte do mundo
intocada pelos impactos que estamos vendo diante de nossos olhos e que,
obviamente, terão uma relevância crescente no futuro."
O diretor do IPCC
afirmou que "agora a comunidade científica se pronunciou" e está
"passando o bastão para os políticos, para a comunidade que toma as
decisões". No entanto, Pachauri afirmou que ainda há esperança, pois
"felizmente nós temos os meios para limitar a mudança climática e
construir um futuro mais próspero e sustentável".
Segundo o
documento, o uso sem restrições de combustíveis fósseis (carvão, petróleo,
gás), deve ser suspenso até o ano de 2100 se o mundo quiser evitar uma mudança
climática perigosa.
O relatório
também sugere que o uso dos combustíveis renováveis deverá subir da atual fatia
de 30% para 80% do setor de energia até 2050.
O
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também comentou os pontos principais do
relatório.
"Primeiro: a
influência humana no sistema climático é clara e crescente. Segundo: temos que
agir rapidamente e de forma decisiva se quisermos evitar resultados cada vez
mais perturbadores. Terceiro: temos os meios para limitar a mudança climática e
construir um futuro melhor."
"Há um mito
de que a ação para o clima custa muito, mas a falta de ação vai custar muito
mais", disse Ban Ki-moon.
"O relatório mostra que o mundo está muito
mal preparado para os riscos das mudanças no clima, especialmente os pobres e
mais vulneráveis, que contribuíram menos para este problema", acrescentou.
'Novo
modelo'
Rajendra Pachauri
afirmou que este último relatório é a mais forte e detalhada declaração a
respeito da escala do problema da mudança climática e das soluções para isto.
"Este
relatório realmente estabelece um novo modelo em avaliação científica. Por um
lado, o relatório traz todos os elementos do quebra-cabeça que constitui os
vários aspectos da mudança climática, desde a base científica subjacente dos
impactos, adaptação e vulnerabilidade e os tipos de opções de abrandamento que
temos disponíveis."
Pachauri destacou
o fato de o relatório ter envolvido mais de 800 autores diretamente e milhares
de outros revisores que analisaram cerca de 30 mil publicações para a
elaboração do documento.
"Não podemos
queimar todos os combustíveis fósseis que temos sem lidar com o resíduo
resultante, que é o CO2, e sem despejar isto na atmosfera. Se não conseguirmos
desenvolver (um sistema de) captura de carbono, teremos que parar de usar
combustíveis fósseis se quisermos parar a perigosa mudança climática",
disse Myles Allen, professor da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, e um
dos membros do IPCC que participou da elaboração do documento.
Para David
Shukman, editor de ciência da BBC, este relatório "mostra as opções de uma
forma mais direta do que nunca".
"O IPCC
tentou tornar (o relatório) mais aceitável afirmando que os combustíveis
fósseis podem continuar sendo usados se as emissões de carbono forem capturadas
e guardadas. Mas, até agora o mundo apenas tem uma usina operante
comercialmente deste tipo, no Canadá, e o progresso no desenvolvimento da
tecnologia é muito mais lento do que muitos esperavam", disse.
Shukman afirma
que a conclusão do relatório, de que não podemos continuar queimando estes
combustíveis como sempre fizemos e que a queima destes combustíveis deve ser
suspensa até o fim do século, apresenta aos governos do mundo uma escolha
difícil.
O secretário de
Estado americano, John Kerry, descreveu o documento do IPCC como "mais um
canário na mina de carvão".
"Aqueles que
escolhem ignorar ou questionar o que a ciência mostrou tão claramente neste
relatório, o fazem colocando em grande risco todos nós, nossos filhos e
netos", afirmou Kerry em uma declaração.
Ativistas aprovaram a
linguagem clara do documento.
"O que eles
disseram é que temos que chegar à emissão zero e isto é novo", disse
Samantha Smith, do organização World Wildlife Fund.
"A segunda
coisa (destacada pelo relatório) é que (a solução) é acessível, não vai
incapacitar as economias", acrescentou.
Fonte: BBC Brasil.













