A demissão do jornalista Xico
Sá, que deixou a Folha após ser impedido de publicar uma coluna pró-Dilma em
seu espaço no jornal, continua rendendo polêmica. Desta vez, na própria Folha,
onde a ombudsman Vera Guimarães questiona os critérios de sua saída.
Eis um trecho da coluna O voto que só não diz o nome:
Onde termina a liberdade de opinião e começa o
proselitismo partidário? A Folha tropeçou ruidosamente na questão nesta semana,
com o pedido de demissão do colunista Xico Sá, de "Esporte".
Na sexta (10), Xico enviou uma
coluna em que declarava voto em Dilma Rousseff (PT). A Secretaria de Redação
vetou, lembrando que o espaço não podia ser usado para isso: ele deveria mudar
o texto ou publicá-lo na seção Tendências/Debates, na pág. A3. Ele rejeitou a
proposta e anunciou sua demissão nas redes sociais, com posts em que acusava a
"imprensa burguesa" de contar mentiras e investigar só um lado.
Nunca chegou a acusar o jornal de censura, mas foi essa a versão
que se espalhou, provocando indignação e, sobretudo, incompreensão dos
critérios do jornal.
"Poucos minutos de
pesquisa revelarão dezenas de colunistas fazendo o mesmo em seus espaços
cotidianamente. Meu Deus, a Folha publica semanalmente Janio de Freitas e
Reinaldo Azevedo!", escreveu o leitor Marcel Davi de Melo, sintetizando o
tom dos protestos.
É realmente uma situação difícil de entender. Qualquer leitor
atento é capaz de identificar as preferências dos colunistas, escancaradas nas
defesas que fazem de um determinado candidato ou nos ataques ao seu adversário.
Para a direção do jornal, porém, isso não se enquadra no conceito de
proselitismo.
E soa contraditório que um
jornal que se orgulha de pôr em prática a mais ampla liberdade de opinião tente
enquadrar o pleno exercício dessa liberdade no capítulo final da saga
eleitoral. É mais ou menos como tentar passar a tranca depois que a porta foi
arrombada.
Fonte: Brasil 247.