Bruno Pimentel decidiu falar apenas por Libras para que
Rafaela Matos não se sinta excluída.
Surdo-mudo
não. Surdo-mudo nunca! Essa é uma das principais reclamações de quem é
deficiente auditivo. O que muita gente não sabe é que esse é um termo errôneo,
já que mesmo sem falar verbalmente, os surdos ainda se comunicam. As mãos que
não produzem sons, expressam uma imensidão de sentimentos. Prova disso é o
relacionamento de Bruno Pimentel (25) e Rafaela Matos (28), que se conheceram
através de uma sucessão de coincidências, ou força do destino, como ele prefere
dizer.
Os
dois moram no mesmo bairro, trabalham na mesma empresa, frequentam a mesma
academia e têm um amigo em comum, mas nunca tinham se visto. Foi na academia do
Bairro São João do Tauape, onde moram, em Fortaleza, que Bruno viu Rafaela pela
primeira vez e se encantou. Sem saber que Rafa é surda, Bruno soltou um “Boa
noite, gatinha!”, que não teve resposta.
De
personalidade forte e explosiva, Bruno não gostou da “arrogância” de Rafaela
por não corresponder às investidas do conquistador. Um dia, no ônibus, viu
o amigo do trabalho, Daniel, conversar com Rafa por um aplicativo de
mensagens instantâneas no celular. Pensou então que o amigo era ponte
para chegar até a menina. Usou o Facebook para se aproximar da “baixinha
arrogante” e mais uma vez não obteve resposta. Rafaela, só o
adicionou porque Daniel pediu. Foi por internet que a paquera começou.
Pela
insistência de Bruno em saber de Rafaela, ele descobriu que a menina não
escutava. Implorou ao amigo “cupido”, para que ele desse aulas de Língua
Brasileira de Sinais (Libras) para conseguir se comunicar com a nova
“paquera”. Novamente na academia, o rapaz resolveu convidar Rafa para
comer, mas lembra que não tinha dinheiro suficiente para os dois: “Eu só
tinha 13 reais. Fiquei lá, parado na frente dela, vendo ela comer. Ela
perguntava se eu não ía comer também e eu dizia que não, mas eu tava morrendo
de fome”, responde rindo.
Rafaela
não gosta de tatuagens. Bruno tem 33. Rafaela gostava de homem mais magro.
Bruno pesava quase 100kg. Rafaela não fala nada verbalmente. Bruno não
sabia Libras.. O que tinha tudo pra dar errado, começou a mudar na
época da Copa do Mundo de 2014, quando ele pediu para “ficar” com ela, por meio
de sinais. “Pedi pro Daniel me ensinar pelo menos ‘Quer ficar
comigo?'”, comenta rindo. A resposta veio em forma de beijo. Depois disso,
não se largaram mais. Rafaela pediu o rapaz em namoro.
Bruno
também é deficiente auditivo. A mãe biológica engravidou com mais de 40 anos e,
segundo os médicos, a perda de parte da audição vem disso. Ele tem apenas
50% em um ouvido e 60% em outro. Na infância, a mãe adotiva conta que, sem
saber da deficiência, dizia que Bruno fazia “ouvido de mercador”. Foi apenas
quando tentou entrar para a Marinha, que descobriu que não escutava
perfeitamente, reprovado no exame médico.
A imperfeição
na audição não implica na voz de Bruno, que hiperativo, fala pelos cotovelos. O
desafio agora é justamente calar-se, porque em nome do amor pela namorada,
na tentativa de fazer com que ela não se sinta excluída, Bruno se adotou
como surdo completamente. Quando está com ela, só fala por sinais.
Os
dois contam que uma vez estavam em um shopping de Fortaleza e entraram na fila
preferencial para deficientes, no cinema. Como aparentemente não tinham
nada de “errado”, as pessoas não os respeitavam e passavam na frente. Enquanto
isso, Bruno se controlava para não reclamar verbalmente. No jantar após o
cinema, quando chegou ao caixa e demonstrou o que queria por gestos, a
atendente simplesmente saiu, sem preparação nenhuma para atender ao casal surdo.
Rafaela
é formada em Recursos Humanos e já nasceu surda. Frequentou colégios para
ouvinte sem muita dificuldade e faz leitura labial perfeitamente. A jovem tem
um filho de 4 anos, que é ouvinte. Apesar do temperamento forte, ela é
hoje o ponto de tranquilidade de Bruno. Infelizmente, os dois acabaram
tendo que se afastar de algumas pessoas pelo preconceito. Há amigos que
não entendem os motivos pelos quais o rapaz tenha tomado decisão de se
assumir inteiramente surdo.
O
casal, junto há quatro meses, vive intensamente a paixão eufórica, típica de
começo de namoro. Vivendo em um mundo mais particular, os dois aproveitam a
vida, tentando superar as dificuldades que a falta da audição impõe. Em
comemoração ao Dia Nacional do Surdo (26 de setembro), Bruno fez mais uma
surpresa para Rafaela: a história de amor dos dois publicada em página de
jornal.














