Com 50 por cento de intenções de voto na pesquisa
Datafolha sobre as eleições para governador de São Paulo, o candidato à
reeleição Geraldo Alckmin, do PSDB, não tem dúvidas em continuar dedicando
largos espaços em seu programa no horário político à desconstrução do
adversário Paulo Skaf, do PMDB. E isso mesmo com Skaf estando 30 pontos atrás
de Alckmin. O sentido dos ataques pela tevê é claro: antes que o ex-presidente
da Fiesp cresça mais, a ponto de insinuar a realização de um segundo turno, o
governador já trata de fazer a desconstrução do adversário como estratégia de
antecipação para evitar uma surpresa.
No plano nacional, nesta
sexta-feira 29 o mesmo Datafolha apontou para novo crescimento vertiginoso de
Marina Silva, do PSB. Depois de despontar, no levantamento divulgado em 18 de
agosto, com 21%, a sucessora de Eduardo Campos deu um estirão de 13 pontos,
cravou agora um empate em 34% com a presidente Dilma Rousseff na simulação de
primeiro turno, e fez sobre ela uma ultrapassagem por dez pontos na projeção
para a segunda rodada. Para esta fase, Marina já exibe 50% de preferências,
contra 40% para a presidente. Hoje, portanto, Marina é a virtual
presidente da República a partir de 2015.
É de se perguntar, diante dessa
constatação de derrota do governo que vai ganhando ares de consenso entre os
especialistas e observadores da cena eleitoral: o que leva o PT de Dilma, do
ex-presidente Lula e do marqueteiro João Santana a ser tão complacente, até
aqui, com o discurso e o crescimento de Marina?
Por que o PT que Lula lidera, que
elegeu Dilma em 2010 e que tem Santana no comando das ilhas de edição não segue
a fórmula clássica executada por Alckmin contra Skaf, que receita para quem
quer se reeleger falar bem de si mesmo e das próprias realizações de governo, mas
também guarda espaço para explorar rudemente os pontos considerados vulneráveis
no principal adversário?
DE
FENÕMENO A FURACÃO - Com o
botão do ataque desligado, o que a campanha do PT vai conseguindo até aqui é
transformar Marina de fenômeno a verdadeiro furacão que ganha mais força à
medida em que avança para o dia do voto, em 5 de outubro. O presidenciável
Aécio Neves, do PSDB, nesse contexto, vai sendo, literalmente, dizimado pelo
furacão Marina.
Ao mesmo tempo em que precisou de apenas onze dias para
tornar pó o favoritismo que, a duras penas, Dilma exibia antes da morte de
Campos, Marina está reduzindo Aécio à condição de náufrago da eleição. Com
queda livre do patamar de 21 pontos na metade do mês para a faixa de 15% das
intenções de voto agora, o senador mineiro já vê os principais nomes do partido
que preside guardarem distância respeitável de qualquer crítica à Marina.
Toda a ala paulista tucana está
marinando, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique, o candidato a
senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin, que tem no parceiro de chapa
Marcio França um legítimo representante do PSB.
Não será de um PSDB outra vez
dividido que sairá alguma ordem unida para combater o crescimento de Marina. Se
essa ordem não vier a ser dada pelo triunvirato que dá o rumo à campanha do PT,
a mensagem será a de que a ex-ministra do Meio Ambiente já pode, como se diz,
encomendar o vestido da posse. Não há sinal tanto no Datafolha desta sexta 29,
assim como nas pesquisas anteriores e em todos os radares voltados para a cena,
que Marina venha a perder seu favoritismo no caso de não ser incomodada.
Relatórios de bancos internacionais já estabelecem em mais de 60% as chances de
ela vencer a disputa.
IMBRÓGLIO
DE JATO NEM ARRANHOU - Sobre
ela, protegida pela áurea de viúva política de Campos, a crítica ética ou moral
não parece colar. Mesmo com a discussão sobre o imbróglio do jato do PSB ter se
alongado desde a data da queda, no dia 13 deste mês, Marina não sofreu um
arranhão sequer nas aferições de preferências. Ao contrário, decolou para novos
céus, onde reluzem estrelas como os seus atuais 34% em primeiro turno e os 50%
que pode chamar de seus para a segunda volta.
No PT, até que o Datafolha demarcasse o que já se
esperava, vigorou uma tese, com ares de fantasia, de que Marina iria se
"desitratar" sozinha. Na prática, o que está ocorrendo é o contrário,
com uma hidratação de votos se mostrando cada vez maior e mais eficaz.
Registre-se: em 11 dias entre a divulgação de duas rodadas de pesquisas Datafolha,
a candidata do PSB subiu 13 pontos.
Com um quadro que já não admite
análises condescendentes, às portas da entrada do mês final de campanha
eleitoral, o certo é que a estratégia política adotada pelo PT está errada. Do
contrário, Dilma não estaria em apuros. Com a economia entrando em
"recessão técnica", discutir questões ligadas ao desenvolvimento será
cada vez menos confortável para a presidente. Isso não impede, porém, que a
mesma Dilma chacoalhe a sua campanha, de preferência com a força de Lula ao seu
lado, para indicar ao marqueteiro Santana um novo caminho de abordagem no mais
poderoso instrumento eleitoral: o programa de tevê no horário político.
Enquanto Marina não for combatida
de frente em suas fragilidades e contradições, o que está sendo escrito pelo PT
até agora é uma história de alternância, e não de preservação de poder. Essa é
a ideia?
Fonte: Brasil 247.