Os empresários brasileiros sonharam com Aécio
Neves, mas podem até engolir Marina Silva. Setores da mídia também tinham o
senador tucano como plano A, mas podem rapidamente abraçar a candidatura
socialista como seu plano B. E até mesmo quadros relevantes do PSDB podem
preferir embarcar na nau marinista desde já.
Este é o quadro da sucessão
presidencial desde a pesquisa Ibope de ontem, que trouxe, como dado mais
relevante, a informação de que Marina, ao contrário de Aécio, já estaria apta a
superar a presidente Dilma Rousseff no segundo turno. É esse cenário que faz
crescer entre setores da elite a aposta no que seria uma espécie de "voto
útil". Entre a perspectiva real de poder oferecida por Marina e a
incerteza representada por Aécio, melhor apostar na primeira possibilidade.
Essa tendência é ainda mais
importante para grupos empresariais, como a Globo e o Itaú, que se encontram em
litígio com o governo federal. A Globo foi multada em mais de R$ 700 milhões
pela Receita Federal. O Itaú, que tem uma das herdeiras, Neca Setúbal, como
coordenadora do programa de Marina, levou uma multa de mais de R$ 18 bilhões. Ou
seja: para as famílias Marinho e Setubal, qualquer candidato seria melhor do
que Dilma.
Por isso mesmo, a aposta de que
Marina será "desconstruída pela mídia tucana" nos próximos 50 dias
parece ser improvável. Além do peso que a própria Globo possui na comunicação
brasileira, o Itaú Unibanco é um dos principais anunciantes e credores de
outros meios de comunicação tradicionais. Ou seja: o trabalho de desconstrução
terá que ser feito pelos próprios candidatos, Dilma ou Aécio, caso queiram, de
fato, evitar que a ex-senadora suba a rampa do Palácio de Planalto, em janeiro
de 2015.
Curiosamente, os empresários
podem acabar apoiando a candidata que mais os assusta. Uma pesquisa realizada
num evento do jornal Valor Econômico nesta segunda-feira apontou que Aécio
Neves teria 67% dos votos, contra 14% de Dilma e 12% de Marina nesse pequeno
universo formado pelos figurões da economia. Marina afugenta o setor
empresarial por razões já conhecidas: retardou o quanto pôde a construção de
usinas hidrelétricas, faz campanha desde sempre contra o agronegócio e apoiou
uma proposta de Código Florestal que reduziria em 20% a área plantada no
Brasil. Ou seja: representa um risco real ao crescimento, à geração de riqueza
e à economia do País.
No entanto, o ódio de setores
da elite ao Partido dos Trabalhadores e à presidente Dilma Rousseff tem dado
vazão à tese lançada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que,
contra o PT, vale tudo. Até mesmo Marina.
Cooptação no ninho tucano
Atenta a essa rachadura na
elite brasileira, Marina Silva tem feito movimentos inteligentes para cooptar
setores da mídia, do empresariado e do próprio PSDB. Tendo um ex-tucano, Walter
Feldman, como coordenador de campanha, ela ajusta suas promessas aos desejoso
dos ouvintes.
Ontem, num evento do Itaú BBA,
Feldman e representantes da Rede Sustentabilidade prometeram aos investidores a
autonomia do Banco Central, o que pode submeter a economia brasileira a novos
choques nas taxas de juros, transferindo riqueza justamente das camadas mais
pobres da população aos setores rentistas, que apreciam a multiplicação de
capital sem a contrapartida do trabalho.
Em relação aos meios de
comunicação, não se deve esperar de Marina nenhuma política de democratização
da mídia. A ela, será mais conveniente ser aceita pelo grupo de quatro ou cinco
famílias que ainda sonham em controlar a informação no País.
Mas o movimento mais importante
ocorre no próprio PSDB. Ex-tucano, mas sempre serrista, Feldman foi quem
inspirou Marina Silva, em seu primeiro ato de campanha, a fazer um aceno a José
Serra, no último fim de semana. Seu guru econômico, Eduardo Giannetti da
Fonseca, também falou em conversar com FHC. Esses dois movimentos reforçam a tese
lançada por outro tucano de quatro costados, o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça
de Barros, de que o governo Marina será uma repetição do governo Itamar Franco,
onde os tucanos mandaram na economia e deram sustentação parlamentar.
Embora simbolize o
"bem", Marina se coloca à direita de Aécio Neves na economia,
prometendo reformas ainda mais liberais do que o próprio tucano, e se move com
tanto ou mais pragmatismo do que a presidente Dilma na sua articulação
política. É a sua inteligência política, num ambiente de profundas divisões na
elite brasileira, que pode levá-la à presidência da República.
Fonte: Brasil 247.