Alvo de um processo que será iniciado nesta
quarta-feira 9 no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o deputado
licenciado André Vargas (PT-PR) defende-se, em entrevista ao 247, das acusações
que tem recebido sobre envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso na
operação Lava Jato, da Polícia Federal, e de quem alugou um jatinho para
voar com sua família de Londrina (PR) para João Pessoa (PB). "Estão
querendo transformar uma relação estritamente pessoal em crime", diz o 1º
vice-presidente da Câmara.
O deputado, que pediu uma licença
não-remunerada de 60 dias alegando "interesses particulares" depois
das acusações, afirma que não sabia que Youssef era um doleiro. "Na minha
visão, ele não era um doleiro, era uma pessoa reabilitada pela Justiça, já havia
pago por seus eventuais crimes, era dono do maior hotel da minha cidade
(Londrina) e, até novembro do ano passado, colaborador do Ministério Público. A
imagem que eu tinha dele era de um cidadão normal, como qualquer outro",
explica.
Vargas admite ter sido "imprudente"
no caso do voo, mas ressalta não ter cometido qualquer crime. "Conheço o
Youssef há vários anos, várias vezes me encontrei com ele no hotel [de
propriedade dele], pedi um favor, que foi o voo. Fui imprudente e respondo por
essa imprudência. Mas não cometi crime algum, jamais tive com ele qualquer
relação comercial", detalha ainda o parlamentar.
No dia 19 de setembro do ano passado, o
deputado e o doleiro conversaram sobre um contrato em estudo no Ministério da
Saúde para a produção de medicamentos com o fabricante de genéricos EMS e o
laboratório Labogen. Segundo a PF, o doleiro é um dos donos do Labogen, uma
empresa de fachada, que estaria no nome de um laranja. Youssef disse a Vargas,
em mensagem: "Cara, estou trabalhando, fica tranquilo. Acredite em mim.
Você vai ver quanto isso vai valer... Tua independência financeira e nossa
também, é claro...".
Ao 247, ele explica o episódio, alegando que
esse era um negócio de interesse para o País. "A Labogen é uma empresa que
tem 31 patentes, que já existe há décadas, os remédios que seriam produzidos
aqui no Brasil (para pressão pulmonar) são todos importados da China e da
Índia. Para que eles fossem produzidos aqui, era preciso passar pelos trâmites
legais no ministério da Saúde", diz. A denúncia é que Vargas teria ido até
o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para falar sobre o laboratório.
Segundo o deputado, o assunto foi comentado com Padilha "num encontro
fortuito". "Não fiz advocacia administrativa, jamais fui até o ministro
[para isso]".
Questionado sobre a mensagem que cita a "independência
financeira" do petista, André Vargas afirma que isso "pode ter sido
uma bravata de Alberto Youssef". O parlamentar reforça que sua prioridade
absoluta não são as eleições, mas a defesa de sua honra. "Minha prioridade
não é a eleição, se fosse assim, poderia ter renunciado para poder ser eleito
novamente. Minha prioridade absoluta é a defesa da minha honra". Segundo o colunista Fernando Rodrigues, porém, Vargas
já teria perdido o prazo para renunciar, uma vez que, com a Lei da Ficha Limpa,
o prazo se esgota na apresentação do pedido de abertura de processo.
"Estou sendo vítima de um julgamento
sumário pela mídia e espero ter no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados a
minha primeira oportunidade de defesa. Lá, pretendo levar, inclusive, os autos
do processo enviados ao Supremo Tribunal Federal, aos quais ainda não tive
acesso", prossegue André Vargas. O deputado ressalta que o próprio juiz do
Paraná que enviou parte da investigação Lava Jato ao STF – a que cita as
mensagens do doleiro a Vargas – não apontou qualquer indício de crime
relacionado a ele.
O parlamentar ressalta que completa 14 anos
consecutivos de mandato, é bem avaliado pela população do Paraná e possui
patrimônio avaliado hoje em R$ 800 mil, "absolutamente compatível com os
meus rendimentos". "Não vou renunciar, nunca quis, porque a
prioridade é a honra, espero poder me defender de coisas que venho sendo
acusado injustamente", completa.
Fonte:
Brasil
247.