O embaixador da Ucrânia, Rostyslav Tronenko, pediu
nesta quinta-feira (27) ao governo brasileiro para não ficar "em cima do
muro" em relação à invasão da Crimeia, até então parte integrante do
território ucraniano, por tropas russas, e sua posterior anexação à Federação
Russa. Em depoimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE),
ele recordou que outros países da América Latina – como Argentina, México,
Panamá e Costa Rica – já se manifestaram pela integridade territorial da
Ucrânia.
- O mundo e o Brasil devem ajudar a Ucrânia a
enfrentar essa agressão flagrante. Pedimos que não fiquem em silêncio. A
Ucrânia está pronta para dialogar e envolver negociadores internacionais, somos
um povo de paz. Mas nunca vamos ceder e comprometer a nossa soberania. Ninguém
está pedindo ao Brasil para comprar uma briga por causa da Ucrânia, mas não
queremos que nosso parceiro estratégico fique em cima do muro, um país que
pretende ocupar um lugar no Conselho de Segurança da ONU – afirmou em português
Tronenko, que é casado com uma brasileira.
Ao responder a uma pergunta do senador
Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da CRE, sobre a legalidade do plebiscito
que mostrou a maioria da população da Crimeia a favor da anexação da península
à Federação Russa, o embaixador afirmou que o plebiscito foi
"inconstitucional à luz do Direito ucraniano e do Direito
Internacional" e foi realizado sem a presença de observadores da
Organização das Nações Unidas (ONU).
- Como província da Ucrânia, apenas nosso
Parlamento poderia propor o plebiscito. A pergunta deveria ser se querem ou não
se tornar independentes da Ucrânia. Caso a resposta fosse positiva, uma vez
independente, a Crimeia poderia buscar sua anexação à Rússia em novo
plebiscito. Estariam assim cumpridas as formalidades legais – observou
Tronenko.
Durante o debate, o senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) questionou se o resultado do plebiscito teria sido diferente se
realizado em "condições adequadas". Por sua vez, a senadora Vanessa
Grazziotin (PCdoB-AM) disse não saber onde o Direito Internacional teria sido
ferido, como havia enfatizado o embaixador.
- Se o Direito preza pela soberania
territorial, também preza pela autodeterminação dos povos. E a história da
Crimeia se entrelaça com a da Rússia – afirmou Vanessa, que relatou ter estado
em Moscou no momento da invasão da Crimeia e ter percebido uma "grande
unanimidade" na sociedade russa a favor da operação.
Já o senador Cyro Miranda (PSDB-GO) disse ter
sentido a impressão de que a população teria sido coagida no plebiscito na
Crimeia. Ele concordou com o embaixador a respeito da necessidade de o Brasil
tomar uma posição mais clara a respeito do tema.
- O que mais se tem de respeitar é a
soberania. O Brasil precisa sair de cima do muro, sim. Ou é parceiro ou não é.
Ficar em cima do muro não contribui com nada – alertou Cyro.
Fonte:
Brasil
247.