terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Rombo Milionário: Tribunal de Contas do Estado enrolado com obra superfaturada e inacabada.

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Uma obra de R$ 23 milhões no centro de Fortaleza, precisamente na Rua Sena Madureira, 1047, promete ganhar indesejável visibilidade. E para além das expectativas, pelo menos, daqueles que, aos olhos do público, são responsáveis por cuidar das contas do Executivo, Legislativo e Judiciário. Trata-se do inacabado Edifício Anexo II do Tribunal de Contas do Estado (TCE), construção iniciada em 18 de maio de 2011, sem alvará da Prefeitura (auto de embargo lavrado em 18 de novembro do mesmo ano), que chega à sua última laje com graves indícios de superfaturamento.
A recente história do vistoso caixote de estrutura metálica, fachada de vidro e heliponto, em frente ao Parque das Crianças, não tem nada de inocência e provoca rebuliços na consciência de muita gente grande. Com repercussão mais acentuada junto a órgãos de controle e fiscalização, como Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), Ministério Público e Procuradoria Geral do Estado. Como que a refletir, simbolicamente, o relicário de escândalos descortinados dentro do próprio Tribunal nos últimos anos. Desde o estouro do esquema de “banheiros fantasmas” e, por último, da saraivada de críticas pela aquisição milionária de uma mobília de luxo para equipar a nova extensão da Casa, com custo superior a R$ 1,1 milhão.
A concepção do projeto nasce e vem a ser posta em prática, a toque de caixa, ainda na gestão do ex-presidente do TCE, Teodorico Menezes. Ele pretendia inaugurar a obra durante seu mandato em 2012. No dia 11 de março de 2010, a licitação começa a se formatar ao ser emitida carta-convite, onde o tribunal solicita a contratação do projeto executivo de arquitetura, ao custo de R$ 145.139,20, para consequente elaboração dos projetos de engenharia do prédio.
O trabalho deveria seguir dimensões de um anteprojeto de arquitetura já existente, que apenas teria descrito áreas de pavimentos, terreno disponível (7.029,22 m²) e edificação total (5.900 m²), mas não constou dos autos da carta que solicitou o projeto executivo de arquitetura. Assim, especialistas afirmam ser inviável a elaboração de tal projeto que detalha e identifica as peças a serem orçadas no projeto de engenharia. A partir daí, a encomenda teria seus quantitativos “chutados”, com etapas sendo queimadas sem as plantas do projeto arquitetônico e cartas convites a se sucederem, ultrapassando o limite máximo de R$ de 150 mil, estabelecido legalmente para a modalidade.
Hoje, defenestrado do cargo após o famoso "Escândalo dos Banheiros" Teodorico vive espremido entre seus pares para uma aposentadoria compulsória e a tritura de um processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O conselheiro pode até andar fora da cena política, mas sabe bem de si e da bomba relógio que carrega. Afinal, recaem sobre ele as originais suspeitas de um escândalo que pode custar cinco vezes o valor do rombo dos banheiros fantasmas, estimado em R$ 2,5 milhões.
Espécie de herança maldita da “Era Teodorico”, o Anexo II esquenta bastidores públicos e privados. Faz pressão e incomoda a cúpula do TCE, notadamente, na pessoa do presidente Valdomiro Távora. Ele não consegue terminar a obra e sofre ataques no parlamento estadual, de preferência do deputado de oposição Heitor Férrer (PDT).
Até hoje, três anos e dois meses depois de iniciados os serviços, o valor do terreno do Anexo II, desapropriado e avaliado em R$ 8 milhões, sequer foi pago em sua totalidade. O proprietário do imóvel, o empresário Luciano Cavalcante, briga na Justiça para receber, pois Teodorico desapropriou por um valor irrisório.
Sem fundamentos que sustentem necessidades funcionais, dentre outras relevâncias para uma Corte que se reúne apenas uma vez por semana, o Anexo II foi dado à luz na forma de um prédio de oito andares, com 5.900 m² de obra e orçamento já estourado de R$ 23 milhões. Só não explica, até agora, como pode caber tanto dinheiro em tão pouco espaço.
METRO QUADRADO NAS ALTURAS
Para que se faça uma comparação de preços, obras como o Anexo da Assembleia e do novo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) com 20 mil m² e 7.8 mil m² de área custaram, respectivamente, R$ 50 milhões e R$ 13 milhões. Nesses casos, os valores orçados pelo metro quadrado saíram a R$ 2,5 mil (Assembleia) e R$ 1,66 mil (TCM). Já no anexo II do TCE, o custo pula para R$ 3.765,19, o metro quadrado, encarecendo a obra em R$ 4,69 milhões, tendo-se por base orçamento solicitado pela própria Corte ao Departamento de Estradas e Rodovias (DER).
O custo por metro quadrado construído no Nordeste é considerado o menor do Brasil – em torno de R$ 769,19. Na tabela do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon), onde o projeto arquitetônico foi apresentado no último dia 18, gerando controvérsias e indagações, o custo do metro quadrado construído com materiais nobres chega, no máximo, a R$ 900. Daí, o clamor maior diante da rubrica orçamentária de número 666 do programa de Modernização do Sistema de Controle Interno do Estado do Ceará, a onerar os cofres públicos em cinco vezes o que se cobraria em semelhante empreendimento na iniciativa privada.
IMPROPRIEDADES A SE CONTAR
Técnicos, construtores e fiscais acreditam que os erros no Anexo II começaram na falta de um concurso público para escolha do projeto básico / executivo de arquitetura e na formação do preço da obra, redundando em uma licitação questionada por exibir informações incompletas, inconsistentes e fragmentadas. A frouxidão do edital trouxe incontornáveis desastres ao processo, iniciado através de cartas-convite que ultrapassaram o limite máximo de R$ 150 mil estabelecido para a modalidade. Em todas estas cartas, estranhou-se a ausência do anteprojeto de arquitetura nos autos, de representantes de empresas convidadas e da declaração das empresas abrindo mão de recursos contra apresentação das propostas.
Aspectos quantitativos não especificados em projeto básico/executivo na relação com a área construída e valor da obra, por exemplo, desmontaram pareceres e argumentos da Corte. Assim, sequer a licitação para o projeto de engenharia poderia ter ocorrido. Ainda pesa sobre a licitação do Anexo do TCE a suspeita de que os preços tenham sido determinados pelos vencedores. Dentre eles, a Targa Tecnologia Ltda, de Geraldo Cabral Rola Filho, empresa citada, ao lado de entidades fantasmas, como doadora de campanha do deputado estadual Téo Menezes, filho de Teodorico Menezes. Também participaram da concorrência a Magna Engenharia Ltda, de Demerval Castelo Branco Diniz Filho, e a Edicon Comércio e Construções Ltda, de Daniel Mesquita Magalhães.
FATOS “CURIOSOS” E PERGUNTAS QUE NÃO CALAM
Geraldo Cabral Rola Filho, da Targa Tecnologia Ltda, vencedora da licitação do Anexo II, é casado com a filha de Demerval Castelo Branco Diniz, da Magna Engenharia Ltda. Ao final do certame, só a Targa se classificou porque a Magna não apresentou suas inscrições das Fazendas  Públicas Estadual e Municipal, e a empresa Edicon Comércio e Construções Ltda foi desabilitada por não apresentar atestado comprovando já ter contratado empresa com capacidade de executar instalação de rede estruturada de dados e voz.
Por que o edital apresentado baseou-se em planilhas orçamentárias que distribuíram R$ 23 milhões em valores percentuais sem apresentação das quantidades de cada item a ser comprado para a obra? A indagação se dá porque se alega que o orçamento-base não teria sido acompanhado das composições de todos os custos unitários de serviços e materiais. Reflexo da aceitação de um mero anteprojeto como projeto, o que teria fragmentado o projeto executivo da obra e tornado “chutes” os cálculos de engenharia da licitação.
O que causa espécie no desenrolar de todo o processo licitatório através dos pareceres da Comissão de Fiscalização e Acompanhamento do Anexo II, assinados por Maria de Fátima Siqueira Costa?  No “Escândalo dos Banheiros”, seu nome foi lembrado como doadora de campanha do deputado estadual Téo Menezes, filho de Teodorico Menezes.
Diante de impropriedades como inadequação do orçamento-base da licitação, ausência do projeto básico de arquitetura e composições de custos unitários, seria o caso de se recomendar ao TCE a correção, sem ônus para o tribunal, dos problemas encontrados junto à empresa responsável pela elaboração do projeto executivo? Além disso, comunicar tais indícios à Comissão de Fiscalização e Controle da Assembleia e ao Ministério Público Estadual, bem como consultar o Ministério Público Federal se existem recursos da União empregados nas obras. Até porque, teria o então presidente Teodorico Menezes solicitado à bancada federal do Ceará em 2010, a destinação de R$ 10 milhões em emendas ao Orçamento Geral da União de 2011 para a construção do Anexo II.
Com sete novos gabinetes para conselheiros, o Anexo II abrigará atividades administrativas, uma praça, ambulatório médico, auditório multiuso com 360 lugares e heliponto. Tido como prédio de pequeno porte, construtores e arquitetos enxergam nos 5.900 m² apenas sete andares e meio, pois o quarto andar tem área a ser construída de apenas 300 m².
Quantidades. Eis o grande “calo” a perturbar os responsáveis pela obra, face não serem identificáveis nos projetos correspondentes apresentados no processo licitatório. A estrutura metálica (prédio, marquises, heliponto, escadas e rampas), por exemplo, consome 25,16% do valor da obra, o que dá R$ 5.811,899,31. Mas projetistas analisam que, com heliponto e estrutura toda em aço, um obra do tipo teria que levar entre 30% e 35% do valor total, tendo-se em conta o peso dos equipamentos e o risco à segurança do prédio.
Um estudo de Impacto à Vizinhança, dada a pequena altura do prédio para o heliponto, não teria sido apresentado para requisição de licença aos órgãos de meio ambiente.
Instalações prediais são outro item questionado por projetistas. Consomem 18,07% do valor da obra (R$ 4.173.787,37), o suficiente para um prédio residencial de 17 andares com quatro apartamentos de 100 m² por andar. Para o Anexo II, que tem as mesmas características de um prédio comercial, especialistas afirmam que bastariam recursos da ordem de R$ 1 milhão.

Fonte: Ceará News 7.
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