Brasil 247 - Compositor pernambucano critica posições de artistas
como Roberto Carlos, Chico Buarque e Caetano Veloso: "cercear autores
seria uma equivocada tentativa de tapar, calar, esconder e camuflar a história
no nosso tempo e espaço"; ele também se diz contra a tentativa de
biografados de receber porcentagem da venda de livros: "ideia de royalties
para os biografados ou herdeiros me parece imoral. Falem mal, mas me paguem...
é essa a premissa? Nem tudo pode se resumir ao vil metal!"
Em
meio à polêmica contra a publicação de biografias não autorizas, defendida
pelos compositores Roberto Carlos, Chico Buarque e Caetano Veloso, o cantor
Alceu Valença levantou a bandeira contra a censura.
Em nota publicada em sua página no Facebook, ele afirmou que proibir a
publicação de biografias se assemelha “a uma equivocada tentativa de tapar,
calar, esconder e camuflar a história no nosso tempo e espaço”.
O compositor pernambucano se declarou contra a ideia de que
os biografados devem receber uma porcentagem da venda dos livros. “Isso me
parece imoral. Falem mal, mas me paguem... é essa a premissa? Nem tudo pode se
resumir ao vil metal.”
Leia a nota na íntegra:
Pare, repare, respire, reveja, revise sua direção... Eu compus
essa letra para o disco Maracatus, Batuques e Ladeiras que lancei em 1994.
Desde ontem, um assunto tomou conta dos meus pensamentos. No fim da manhã,
recebi um telefonema de uma jornalista que solicitava minha posição acerca da
polêmica que vem acontecendo em torno da autorização ou não de biografias. Como
já estava na hora de buscar meu filho no colégio, pedi para ela me ligar à
tarde. Dali em diante, fiquei remoendo o assunto e aguardando seu novo contato,
o que não veio a acontecer.
A questão não é simples. Pesei costumes e comportamentos. Refleti
sobre o tempo e a história. Considerei valores e conceitos. Cheguei a uma
conclusão que envolve 4 pontos essenciais:
Ética. O assunto até parece
démodé, mas deveria estar intrinsecamente no centro de diversas situações que
vivemos hoje em dia. Inclusive, neste caso. Óbvio que o conceito é subjetivo e,
até, utópico. No entanto, sem a sua prática, o desequilíbrio é evidente. Fala-se muito em biografias oportunistas,
difamatórias, mas acredito que a grande maioria dos nossos autores estão bem
distantes desse tipo de comportamento. Arrisco em dizer que cerceá-los seria
uma equivocada tentativa de tapar, calar, esconder e camuflar a história no nosso
tempo e espaço. Imaginem a necessidade de uma nova Comissão da Verdade daqui a
uns 20 anos...
Assim entramos em outro
conceito, igualmente amplo, delicado e precioso: liberdade de expressão. Aliás,
tão grandioso que deveria estar na frente de qualquer questão. O que é pior: a
mordaça genérica ou a suposta difamação?
Eficiência e celeridade
processual são princípios que devemos reivindicar para garantia dos nossos
direitos. Evitar a prática de livros ofensivos e meramente oportunistas através
do Poder Judiciário é uma saída muito mais eficaz e coerente com os fundamentos
democráticos.
Definitivamente, a questão não
é financeira. A ideia de royalties para os biografados ou herdeiros me parece
imoral. Falem mal, mas me paguem...(?) é essa a premissa??? Nem tudo pode se
resumir ao vil metal!
Com todo o respeito pelas
opiniões contrárias, este é o meu posicionamento. Viva a democracia!
Alceu Valença
Fonte:
Brasil 247