sábado, 7 de setembro de 2013

Cem dias de protesto no RJ: governo recua, mas insatisfação persiste.

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Prefeito e governador voltaram atrás em sete decisões importantes.
G1 falou com Black Bloc, 'Ocupa Cabral', especialistas e autoridades.

A "onda" de protestos no Rio de Janeiro completa 100 dias em 10 de setembro. Neste período, foram mais de 50 protestos e três ocupações: na casa do governador Sérgio Cabral, na Câmara Municipal e no antigo Museu do Índio. Pressionados pelo grito das ruas, os governos municipal e estadual recuaram em decisões importantes, atendendo a pelo menos sete reivindicações da população (veja no quadro abaixo). Neste 7 de setembro, Dia da Independência, com manifestações esperadas por todo o país, o G1 faz um balanço desses mais de três meses, com entrevistas com um integrante do Black Bloc, uma ativista do "Ocupa Cabral", especialistas no tema e políticos, como prefeito Eduardo Paes e o vereador Marcelo Freixo.

A truculência da Polícia Militar de São Paulo contra manifestantes insuflou protestos em diversas cidades do país. Desde o dia 3 de junho, quando estudantes tomaram a Avenida Rio Branco, no Centro, para protestar contra o aumento da passagem de ônibus, a cidade passou a conviver com a rotina de mobilização popular que ainda persiste, já que os recuos "estratégicos" dos governos não foram suficientes para arrefecer o movimento reivindicatório.

O primeiro a recuar foi Eduardo Paes que, em 19 de junho, anunciou a revogação do aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus — a principal questão inicialmente. Mas isso não foi o bastante para a população, que exigiu nas ruas a abertura da "caixa preta" das empresas de ônibus do Rio. "Do ponto de vista do usuário, há efetivamente uma redução, mas ninguém sabe como essa conta vai fechar", resume o professor de Finanças do IBMEC, Gilberto Braga.
Uma CPI foi criada na Câmara Municipal para investigar os contratos com as concessionárias de transporte. A Comissão, no entanto, tem somente vereadores da base do governo. Por isso, a Casa foi ocupada por manifestantes durante 12 dias. "A CPI só foi instalada por causa das manifestações, mas imediatamente membros do legislativo que não têm o compromisso com a sociedade trabalharam no sentido de desfazer isso. A 'caixa preta' das empresas de ônibus continua fechada", disse o vereador Eliomar Coelho (PSOL), que propôs a CPI do Ônibus.
Reconhecendo a necessidade de se aproximar da sociedade, Paes decidiu criar canais de comunicação direta com a população, através de entrevistas pela web, entre outras medidas. "A democracia representativa que vivemos é um modelo arcaico. As pessoas estão pedindo e demandando dos governos um avanço, uma participação maior. E percebemos que precisamos ampliar e criar formas de diálogos", disse o prefeito.

Procurado pela reportagem do G1, o governador não quis comentar os desdobramentos das manifestações.
Cabral: o principal alvo
            Embora a motivação inicial dos protestos estivesse diretamente ligada a uma decisão municipal — o aumento da tarifa — não demorou muito para que o governador Sérgio Cabral se tornasse o principal alvo dos manifestantes. Um dos motivos: gastos públicos com a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

              Quase um mês após cerca de 300 mil pessoas se reunirem, dia 20 de junho, no Centro, no maior protesto registrado no Rio, o governador ainda ignorava a mobilização espontânea através da internet. Em 18 de julho, atribuiu as manifestações a uma disputa política. “A oposição busca antecipar o calendário eleitoral criando constrangimentos à governabilidade", disse Cabral, na ocasião, por meio de nota.
Onze dias depois, o governador admitiu que faltou "humildade" ao não ouvir o clamor popular e anunciou o primeiro recuo de sua gestão após o início das manifestações: o cancelamento da demolição do Parque Aquártico Júlio Delamare, no Complexo do Maracanã.
"Jamais terei a vergonha de reconhecer erros. Acho que faltou humildade em não ouvir os segmentos", disse, no dia 29 de julho.
Depois disso, voltou atrás outras cinco vezes: desistiu de demolir o Estádio de Atletismo Célio de Barros e a Escola Municipal Friedenreich, ambos no Complexo do Maracanã; além de decidir pela revitalização e tombamento do antigo Museu do Índio.       O governador abriu mão também de vender o prédio histórico que abriga o Quartel General da Polícia Militar e publicou decreto regulamentando o uso de helicópteros pelo poder executivo estadual, após ser critica por usar a aeronave do governos para viagens particulares com a família.
                Ainda assim, Sérgio Cabral viu sua popularidade despencar. Ele teve a pior avaliação entre 11 governadores na pesquisa da CNI: 12%. Realizado entre 9 e 12 de julho, o levantamento ouviu 812 pessoas.

Reivindicações pendentes
             Além do governador, a Polícia Militar do Rio também se tornou alvo de críticas por parte de manifestantes, que reclamam de arbitrariedades e violência dos PMs durante os protestos. O desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, no dia 14 de julho, após ser levado por policiais para uma base da UPP da Rocinha, na Zona Sul, se tornou mais uma bandeira do movimento. Faixas com a frase "Onde está Amarildo?" se multiplicaram pela cidade e pelos atos, assim como os pedidos pela desmilitarização da polícia.

O paradeiro do pedreiro permanece desconhecido. E essa não é a única reivindicação dos manifestantes que continua sem resposta. O governador Sérgio Cabral já afirmou que a gestão do estádio do Maracanã não voltará para o estado. Os gastos públicos com os grandes eventos também não foram esclarecidos. Os professores das redes municipal e estadual, em greve, ainda aguardam por diálogo com as autoridades. E a sociedade ainda clama por uma gestão pública participativa.
"Foram recuos pontuais, mas a vitória maior é uma mudança na cultura política. A certeza que fica é que esse país tem capacidade de alterar o seu destino. E o que a sociedade quer, principalmente, é uma maior radicalidade na participação popular nas decisões governamentais", disse o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).
Luiza Dreyer, 'Ocupa Cabral'
"Os R$ 0,20 não foram uma vitória para mim. Quero que esses R$ 0,20 não saiam da saúde e da educação. Quero na saúde, na educação e na mobilidade urbana. Por isso continuo na rua também. As pessoas viram aquela manifestação na Presidente Vargas e na Alerj cheias, agora — principalmente os políticos — acham que está acabando. É o contrário. Foi a faísca de um fogaréu que está só começando.”

X, integrante do Black Bloc
"O Black Bloc é uma resistência contra as arbitrariedades dos governos e da polícia, uma forma de não deixar os protestos morrerem porque senão o Brasil não vai mudar. Ninguém ali participa de quadrilha, não há formação de quadrilha armada, o que nós fazemos é nos manifestar. O preço da passagem tem que abaixar mais. Como o governo pode liberar verba para o Maracanã e não para investir nos hospitais, na educação, na moradia?"


Gustavo Mehl, Comitê Popular da Copa
"Os mega eventos incidem na cidade de maneira nada democrática atendendo a interesses privados em vez de interesses públicos.  O Maracanã virou um grande símbolo da mobilização e do mau uso do dinheiro público. No momento em que o Governo do Estado se furta a ouvir a voz das ruas, a abrir o debate sobre a concessão do estádio, é uma demonstração de que o autoritarismo se mantém".


Marta Moraes, coordenadora do Sepe
"Os professores já se manifestam faz tempo, mas o que a gente sentiu é que, nessa greve de 2013, o apoio tem sido muito maior. Infelizmente, não houve um avanço geral nas principais questões  que a sociedade reivindica: maior participação popular e transparência na gestão pública. A sociedade descobriu o caminho para exigir seus direitos. Nós não vamos desistir e a população também não".



Fonte: G1
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