Em sua crônica publicada na
edição deste sábado (24) do jornal O Globo, o cineata Cacá Diegues rasga
elogios a produção cearense Cine Holliúdy.
Classificado como "surpreendente comédia antropológica
de Halder Gomes", o longa-metragem já levou mais de 100 mil espectadores
somente nas salas de cinema do Estado, batendo todos os recordes anteriores.
O texto foi recebido com entusiamos pelo protagonista
Edmilson Filho e o diretor Halder Gomes, através do Facebook:
Leia abaixo:
Petrópolis mais Pacatuba Favoritar
Cine Holliúdy e Flores raras são testemunhas excepcionais da
vitalidade do cinema brasileiro e das diversas opções que ele tem pela frente.
É preciso ir vê-los
O Globo
A maturidade de uma cinematografia nacional se mede pela
distância entre seus filmes. O contrário disso seria a sujeição a um único
gênero, o tédio imperdoável da representação única de um país. Nada mais
inapropriado para o cinema brasileiro, fabricado num vasto território cuja
grande vantagem civilizatória é a diversidade de manifestações regionais,
étnicas, culturais, suas diferentes geografias física e humana. Mais do que uma
forçação de barra, seria um crime cometido contra nós mesmos. Um suicídio
cultural.
Um exemplo dessa saudável distância em um mesmo universo está
em cartaz no país. De um lado, o belo e sofisticado filme de Bruno Barreto,
Flores raras; na outra ponta desse mesmo espectro, Cine Holliudy, a
surpreendente comédia antropológica de Halder Gomes.
Walder
Gomes, cineasta cearense, dirigiu e produziu Cine Holliúdy, que por enquanto se
encontra em cartaz apenas em Fortaleza e mais algumas cidades do Ceará, onde
foi realizado na cidade de Pacatuba. Inspirado em curta-metragem de seu
diretor, uma comédia que não tem nada a ver com as comédias urbanas do eixo
Rio-São Paulo que estamos acostumados a ver, Cine Holliúdy reinaugura com
inteligência e perspicácia um gênero regional que já foi cultivado por Amácio
Mazzaropi, por exemplo.
Falado em cearensês com legendas em português, esse filme nos
conta a história de Francisgleydisson (nome tão cearense, diz um personagem),
um amante de cinema que tenta resistir à chegada avassaladora da televisão ao
interior do Brasil, naquele início dos anos 1970, outra data de grandes
mudanças culturais.
Mais do que uma comédia despretensiosa, Cine Holliúdy
registra uma antológica coleção de personagens originais e seu comportamento.
Francisgleydisson (Edmilson Filho, comediante digno da tradição cearense de
Chico Anísio e Renato Aragão), instalando uma sala de cinema em Pacatuba, se
cerca de moradores que vão do prefeito ao bêbado da cidade, do chefe da
oposição ao cego que pretende ver o filme (um genial Falcão, o cantor, de cujo
personagem alguém diz que pelo menos ele não paga nada à vista), num empolgante
corte antropológico de certa civilização brasileira nem sempre visível a todos
os olhares do país.
Cine Holliúdy já foi visto por quase 200 mil espectadores, só
no Ceará, e chegará em breve às salas do resto do país. Com uma média de 2.300
espectadores por cópia, o filme de Halder Gomes bateu o recorde local de
Titanic. Barato, mas sem perder nada de sua qualidade técnica, cheio de
curiosos efeitos especiais, Cine Hollyúdi é um exemplo de que o cinema se faz
de várias maneiras, e em todas elas o filme pode ser bom. Nesse caso, ele
estimula a multiplicação dos editais de BO (baixo orçamento) promovidos pelo
Ministério da Cultura, cada vez mais bem-vindos.
Cine Holliúdy e Flores raras são testemunhas excepcionais da
vitalidade do cinema brasileiro e das diversas opções que ele tem pela frente.
É preciso ir vê-los.
Cacá Diegues é cineasta
Fonte: Ceará News 7.













