247 – O Estado de Bem Estar brasileiro
estampa a edição do dia do principal jornal de economia do planeta, o Financial
Times. O Brasil, afinal, cresceu 1% no primeiro trimestre, o dobro da elevação
da economia japonesa, elogiada no mundo dos países ricos pela elevação de 0,5%
no mesmo período. Um por cento que vale por muito mais, à medida em que a
Europa apresentou no mesmo período o sexto trimestre consecutivo de crescimento
negativo, ou seja, 18 meses com os pés e as mãos da zona do euro atolados na
recessão.
O Brasil, para chamar a atenção do
Financial Times, criou 200 mil empregos no mês de abril, apontando para um
segundo semestre de economia animada, enquanto países como Espanha e Portugal
mantêm-se ancorados em taxas de desemprego de dois dígitos. Em razão de
programas assistenciais como o Bolsa Família, que contribuiu decisivamente para
tirar 40 milhões de brasileiros do estado de miséria, não há, no Brasil dos
últimos dez anos, cenas comparáveis às batalhas campais de cidadãos gregos
contra suas forças de segurança, em protesto contra as políticas de austeridade
determinadas para salvar a primeira democracia do mundo da bancarrota
econômica.
O FT com sua redação de alto gabarito
deve ter se interessado, ainda, pela taxa brasileira de inflação que se mantém
na meta estipulada pelo Banco Central, apurada em 6,9% nos últimos dozes meses,
associada à criação de 4,1 milhões de empregos formais desde janeiro de 2011,
quando tomou posse o governo da presidente Dilma Rousseff. Um número,
repita-se, de 4,1 milhões de novos empregos repleto de contratações de
estrangeiros, expulsos, na prática, de uma Europa deprimida e sem coragem para
mudar sua política econômica.
No entanto, apesar do quadro
objetivo, o vetusto Financial Times fez foco na economia brasileira como um
corvo olha para a carniça que lhe interessa, de maneira invejosa e predadora.
Porque, diz a editorializada matéria do FT, o Estado de Bem Estar brasileiro
seria apenas e tão somente de fachada, ou, como se diz aqui, para inglês ver.
Nada mais falso. Instalado no
coração da crise, na City londrina da Libor desmoralizada (a secular taxa de
juros inglesas está sendo trocada por outro indexador, ainda a ser criado, em
razão da manipulação fraudulenta sofrida pela ação ilícita de bancos locais), o
Financial Times pendurou a humildade junto com suas galochas e segue
acreditando ser capaz de ministrar ao mundo as fórmulas ultrapassadas que não
estão dando certo nem no perímetros avistados de seus janelões – quanto mais
além mar.
Hoje, o FT versa sobre a saída do
secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, já em férias. A
aposta, mais uma vez, não corre pelo lado positivo, a partir do ponto óbvio da
permanência do titular Guido Mantega, mas da pior hipótese, como perda do
melhor quadro entre os auxiliares do ministro. Um texto feito para dividir e
intrigar. De resto, um texto ultrapassada, porque a silenciosa saída de Barbosa
do governo não provocou nenhum abalo interno, como muitos gostariam, mas
consumou-se como um episódio natural em qualquer governo, onde os divergentes,
sem formar consenso ou maioria, perdem e saem. Como disse o professor de
Harvard Dani Rodrick, em passagem pelo Brasil na semana passada, "este é
um país normal, o que nos dias de hoje significa muita coisa".
Buscar humildade num jornalista,
inglês ainda por cima, curvado à uma das realezas mais caras e empoeiradas do
mundo, nunca é fácil. Mas pelo visto, na redação do Financial Times, a missão é
mesmo impossível. Todos os números, projeções e retrospectivas mostram que a
experiência brasileira de aposta no mercado interno como sustentação do
crescimento têm dado certo até aqui. Por mais que quem esteja de fora não a
entenda ou, simplesmente, pela desvão do velho e sempre presente imperialismo,
não as queira compreender e, como seria correto, admirar.
Fonte: Brasil
247.













