Apesar da possibilidade até de falência da Delta e da retirada da empresa de vários empreendimentos pelo Brasil, a empreiteira e o poder público no Ceará mantêm o discurso de normalidade e continuidade nas ações com a responsável pelo maior número de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), suspeita de envolvimento com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, no último dia 19 de abril, o presidente licenciado do Conselho de Administração da Delta Construções, Fernando Cavendish, afirmou que a empresa ia quebrar diante das suspeitas em torno da ligação com Cachoeira.
“Cria-se um clima péssimo na empresa. Os bancos vão suspender toda a nossa linha de crédito. Aí vem a Receita Federal. Todos precisam mostrar que a empresa tem de ser fiscalizada em todos os níveis. Não tenho caixa. Se eu não receber antes de acabar meu dinheiro, eu quebrei”, disse Cavendish.
O superintendente substituto do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Ceará, José Flávio Paula de Lima, diz, porém, que os contratos da empresa Delta com o órgão estão mantidos no Estado. “Não existe determinação judicial suspendendo as obras. Pelo contrário, ano passado chegou mandado da Justiça dizendo que podiam continuar”, detalha José Flávio.
Questionado pelo O POVO sobre a possibilidade de quebra da empresa, José Flávio diz que a Delta “não se manifestou em relação a isso de maneira oficial nem oficiosa”.
“Se não executarem a obra, a empresa não fatura. Tem um risco? Tem. Mas toda vez que uma obra é suspensa é um drama”, aponta o superintendente substituto.
Na última sexta-feira, 4, a Delta Construções informou, por meio de nota, que houve troca do presidente do Conselho de Administração para “conferir transparência ao processo de auditoria em toda a empresa e assegurar a normalidade operacional em todos os contratos”.
Questionada pelo O POVO sobre riscos de paralisação das obras no Estado, a assessoria de imprensa informou que “jamais foi dito que há risco de falência da empresa”. Em nota publicada na semana passada no site da empresa, a Delta assegurou que “continuará a cumprir seus contratos, obrigações e compromissos assumidos com seus fornecedores e clientes com a habitual regularidade”.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O Ceará tem as rodovias federais consideras em pior estado no País. Em 2010, a cúpula estadual do Dnit foi para a cadeia. Agora, a empreiteira que toca as obras é suspeita de envolvimento em escândalo federal.
Saiba mais
A Controladoria Geral da União (CGU) instituiu Comissão de Processo Administrativo contra Fornecedores, com vistas à declaração de inidoneidade da Construtora Delta.
O processo pode culminar com a inclusão da construtora no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas e, dessa forma, impedir a Delta de participar de licitações ou celebrar contratos com a administração pública.
A CGU decidiu instaurar o processo depois que o Ministério Público Federal no Ceará deu entrada, no último dia 20, com ação penal na Justiça Federal contra servidores do Dnit no Estado. Os servidores são acusados de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, entre outros crimes. A denúncia envolve várias empreiteiras, entre as quais a Delta.
Segundo levantamento da ONG Contas Abertas, a Delta recebeu R$ 48,5 milhões por obras no Ceará em 2011.
Apenas em contratos de conservação e restauração rodoviárias, são oito contratos vigentes.
A Delta
Entenda as suspeitas
A Delta é acusada de financiar suposto esquema de distribuição de propina e influência política, comandado pelo empresário e bicheiro Carlinhos Cachoeira.
No Ceará, a empresa é alvo de ação que tramita na 1ª Vara da Justiça Federal, a partir de ação civil pública por ato de improbidade administrativa. Além da Delta, outras oito empresas são acusadas por participação em fraudes em obras do Dnit.
Entre outras irregularidades, o MPF aponta que a sede do Dnit no Ceará funcionava como “filial de interesses privados”. Havia ainda, segundo a denúncia, a concessão de vantagens ilícitas a servidores do órgão, esquema que o MPF denomina “a caixinha do Dnit”.
O POVO solicitou à assessoria de imprensa da Polícia Federal no Ceará informações sobre a manutenção da prisão dos servidores do Dnit no Estado. A solicitação, enviada por e-mail, não foi respondida até a última sexta-feira, 4.
Fonte: O Povo Online.