quarta-feira, 15 de maio de 2024

Pai e filho mortos a caminho de escola teriam sido confundidos com assaltantes.

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        Crime aconteceu em agosto de 2023 na região metropolitana de Fortaleza. Segundo denúncia do MP, homicídio contra adolescente foi encomendado e atingiu alvo errado.

 

        A morte de pai e filho assassinados quando estavam a caminho da escola pode ter sido motivada por um engano na execução de um crime por encomenda, na Grande Fortaleza. Dois policiais militares teriam errado o alvo ao tentar matar um adolescente que havia assaltado uma empresa, diz denúncia do Ministério Público do Ceará.

 

        g1 teve acesso ao documento do processo, que corre em segredo de Justiça. O crime aconteceu no dia 18 de agosto de 2023, no município de Eusébio, na região metropolitana de Fortaleza. As vítimas foram Francisco Adriano da Silva, de 42 anos, e o filho Francisco Gabriel da Silva, de 13 anos.

 

        O pai trabalhava em um cemitério e em um estacionamento da região, enquanto o filho era aluno da Escola das Guaribas, unidade de ensino municipal de Eusébio. Eles estavam a caminho da escola quando foram assassinados a tiros dentro do carro em que trafegavam.

 

        Com base em inquérito policial, dois policiais militares teriam cometido o crime: Paulo Roberto Rodrigues de Mendonça, apontado como o autor dos disparos, e Halley Handroskowy Magalhães Martins, que estaria pilotando uma motocicleta e auxiliou a ação. Um terceiro policial militar também pode estar envolvido.

 

        Segundo denúncia do MP, os policiais Paulo Roberto e Halley cometeram um equívoco, pois o alvo do ataque seria um jovem cujo endereço era próximo de onde as vítimas moravam. A diferença entre os endereços é de “poucos metros”, conforme o documento de denúncia.

 

        As investigações apontam que o verdadeiro alvo estava envolvido em um roubo a uma empresa situada em Itaitinga, também na região metropolitana de Fortaleza. E que a morte do assaltante pode ter sido encomendada aos policiais.

 

        Em um dos aparelhos celulares apreendidos durante a investigação, foram encontradas várias imagens de consulta aos dados criminais do assaltante no sistema da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Estas pesquisas aconteceram enquanto os policiais estavam no estabelecimento roubado.

 

        O roubo à empresa tinha sido registrado dois dias antes do crime cometido contra Francisco Adriano e Francisco Gabriel. Três homens levaram do estabelecimento um aparelho celular, R$ 5 mil reais e o pagamento quinzenal de um funcionário.

 

        As investigações também apontaram que os dois policiais voltaram ao endereço da empresa depois da morte de pai e filho, sendo encontrados posteriormente com a quantia de R$ 4 mil — o que sugere que eles teriam recebido o dinheiro como pagamento pela execução do crime.

 

        Um boné com a marca da empresa roubada também foi encontrado na residência do policial Halley.

 

O homicídio

 

        A quantidade de disparos contra o pai e o filho também evidenciou que o adolescente era o alvo principal dos criminosos durante a execução. O laudo pericial apontou que Francisco Gabriel teve 14 perfurações causadas por entradas e saídas dos projéteis. O pai dele tinha apenas duas perfurações.


    Os dois estavam dentro de um carro no cruzamento das avenidas Brasília e Cícero Sá, no bairro Parque Havaí, quando os dois policiais chegaram de motocicleta.

 

        O veículo em que estavam as vítimas ficou com várias marcas de tiros no para-brisa, tanto do lado do motorista como do passageiro. A rua onde ocorreu o crime foi isolada, e o trânsito foi desviado.

 

        Gabriel era aluno do 9º ano da Escola das Guabiras, que divulgou uma nota de pesar pela morte do adolescente e do pai.

 

Prisões

 

 

        O primeiro suspeito identificado foi o policial Paulo Roberto, de 38 anos. Equipes da Delegacia de Assuntos Internos (DAI) e do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) montaram operação de vigilância em frente à residência dele, que tentou fugir de carro quando percebeu que seria abordado.

 

        Durante a perseguição, o suspeito teria jogado objetos pela janela do veículo para tentar se desfazer de evidências, como a pistola que posteriormente foi confirmada como a arma usada para atirar contra as vítimas.

 

        Paulo Roberto foi preso em flagrante no mesmo dia, em Fortaleza. Com o soldado, foram encontradas quatro armas, um simulacro e um silenciador.

 

Em outubro de 2023, o Ministério Público do Ceará denunciou Paulo Roberto pelos seguintes crimes:

 

duplo homicídio qualificado - com as qualificadoras de crueldade;

impossibilidade de defesa da vítima;

 

emprego de arma de fogo de uso restrito e contra menor de 14 anos, pela morte do adolescente;

 

e impossibilidade de defesa da vítima e emprego de arma de fogo de uso restrito, pelo assassinato do pai.

 

        O policial militar já era réu na Justiça por suspeita de balear uma criança, à época com 2 anos, durante uma ocorrência em Fortaleza. Paulo Roberto já era investigado desde 2017, por suposta prática de lesão corporal grave na modalidade culposa.

 

        Com o avanço das investigações, Halley teve um mandado de prisão cumprido no dia 28 de fevereiro deste ano, sendo o segundo policial preso pelo crime. Na ocasião, um homem que não é agente de segurança e que não teve a identidade divulgada também foi preso.

 

        A ação fez parte de uma operação da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública para cumprir mandados de busca e apreensão e quatro de prisão em desfavor de dois policiais militares e dois indivíduos não policiais.

 

        A defesa de Halley entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), solicitando a revogação da prisão preventiva e o uso de outras medidas cautelares, que poderiam ser fiscalizadas com o monitoramento eletrônico. Ainda não houve decisão sobre o pedido.

 

        Halley Handroskowy também já foi preso, em 2019, ao ser investigado pelo homicídio de um jovem de 21 anos em Fortaleza, juntamente com outros três policiais.

 

        Conforme os autos, a vítima era Alisson Xavier Lima, assassinado no bairro Jangurussu. O jovem havia sido solto meses antes de ser morto, depois de ser condenado a quase cinco anos de prisão pelo crime de tráfico de drogas e recorrer para cumprir a sentença em liberdade.

 

Fonte: G1 Ceará.

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