O Ceará registrou 122 mortes durante abordagens policiais entre janeiro e outubro de 2023. A atuação da Polícia Militar tem sido questionada pela população. Um adolescente de 16 anos foi morto no último domingo, durante uma abordagem na Vila do Mar, Bairro Barra do Ceará, em Fortaleza. Em outro caso, um segundo adolescente também foi morto, no Bairro Passaré.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) informou que, em comparação com os dez primeiros meses de 2022, o estado teve uma redução de 5,4% no número de mortes por intervenções policiais.
Nos dez primeiros meses deste ano, aconteceram 122 casos, enquanto no mesmo intervalo de tempo de 2022, foram registradas 129 intervenções. No ano passado inteiro, foram 152 casos.
A pasta informa ainda que os agentes passam por treinamentos de protocolos humanizados para os atendimentos às ocorrências e que todos os casos de morte decorrente de intervenção policial são investigados com todo o rigor necessário.
O pesquisador Raul Thé, do Laboratório de Conflitualidade e Violência da Universidade Estadual do Ceará (Uece), comentou a necessidade de se pensar em uma polícia mais humanizada.
“A polícia comunitária, mais próxima, somado às políticas de garantia de cidadania, fosse mais efetivo para essa experiência com o Estado ser mais profícua, e não ser esse embate”, avaliou.
Um vídeo feito por uma testemunha (veja acima) mostrou o momento em que o jovem, identificado como Francisco Ray Oliveira de Jesus, já estava ferido e era levado pelos agentes. Durante a ação, um morador reclamou e foi atingido no rosto por um policial, que momentos antes havia atirado para cima para dispersar a população.
Segundo testemunhas, o adolescente estava sentado conversando com amigos quando os militares chegaram no local. Assustado, o jovem correu e foi atingido por disparos na perna e no tórax.
"Aqui, como é uma comunidade, a polícia tem o costume de vir, já chegar batendo, independente de quem seja. Por isso, os jovens, quando veem, já correm. Ele correu [adolescente morto], e eles [policiais] deram dois tiros", relatou uma testemunha ao g1, que terá a identidade preservada.
A Controladoria-Geral de Disciplina, órgão que apura denúncia contra agentes de segurança no Ceará, informou que instaurou procedimento disciplinar para investigar o caso.
A Polícia Militar do Ceará disse, em nota, que o adolescente morreu em confronto com policiais e, com ele, foi apreendida uma arma de fogo.
Familiares negam a versão da polícia e afirmam que Francisco Ray nunca possuiu arma. "Isso [confronto do adolescente com policiais] nunca aconteceu. Eles estão fazendo isso porque saber que estão errados", disse um familiar da vítima, que prefere não ser identificado.
“No momento em que eles fizeram isso, eles chegaram atirando em todo mundo; tinha criança, tinha cidadão, poderia ter atingido mais pessoas. Já chegaram atirando, não perguntaram quem era quem, não abordaram ninguém”, disse um morador que preferiu não ser identificado.
Morte no Passaré
Outro adolescente foi morto em uma intervenção policial no Bairro Passaré. Nesse caso, a Polícia Militar disse que recebeu um relato sobre dois indivíduos em uma motocicleta realizando assaltos na região.
Ao se aproximarem, os policiais teriam presenciado um dos indivíduos apontando uma arma na cabeça de uma senhora. Diante da iminente ameaça, foi dada voz de parada, resultando em uma troca de tiros. Os dois suspeitos foram atingidos e, após a queda, foram socorridos até a UPA do José Walter. Com os suspeitos, foram encontrados um revólver calibre 32, um simulacro de pistola e outros pertences.
Já a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) instaurou procedimento disciplinar para apuração dos fatos na seara administrativa. O inquérito policial está sob responsabilidade do 16º Distrito Policial.
Fonte: G1 Ceará.
