sábado, 7 de outubro de 2023

Entenda como funciona a usina que tira sal da água do mar e gera embate por risco de derrubar a internet no Brasil.

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     A partir de 2026, o abastecimento de Fortaleza pode ser reforçado com as águas do mar. Isto será possível com a usina a ser construída para retirar os sais e tornar potável a água captada no oceano. O projeto é questionado por empresas de telecomunicações pela proximidade com os cabos submarinos que garantem internet rápida no Brasil.

 

    Anunciada como a maior planta de dessalinização para abastecimento humano na América Latina, a usina terá capacidade para produzir mil litros por segundo. O tratamento da água vai utilizar a tecnologia de osmose reversa para retirar os sais marinhos.

 

    A iniciativa para construir a usina é liderada pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), vinculada ao Governo do Ceará. A operação será feita por meio de parceria público-privada com o consórcio SPE Águas de Fortaleza, que venceu edital com investimento previsto de R$ 3,2 bilhões ao longo dos próximos 30 anos.

 

    A torre de captação e as tubulações são as estruturas da usina que ficam dentro do mar da Praia do Futuro. A água será captada a pouco mais de um quilômetro da costa, com torre submersa a 14 metros de profundidade. Ela é projetada para preservar a dinâmica das correntes marítimas da região.

 

    É essa parte que desperta a preocupação do setor de telecomunicações. As primeiras versões do projeto posicionavam as tubulações entre dois cabos de fibra ótica que conectam o Brasil e a Europa.

 

    Conforme a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os cabos que chegam a Fortaleza são responsáveis por 99% do tráfego de dados. E um rompimento destes cabos deixaria o país inteiro off-line ou com a internet bastante lenta.

 

    Como detalha Neuri Freitas, presidente da Cagece, a estrutura ficaria a 40 metros de um dos cabos e a 50 metros de outro. O projeto foi alterado após pedido da Anatel e prevê, agora, distância de 567 metros de um dos cabos.

 

    A mudança considerou a distância recomendada em orientações do Comitê Internacional de Proteção dos Cabos (ICPC, em inglês). Com isso, a Cagece afirma ser impossível que as obras e a atividade da usina danifiquem os cabos submarinos.

 

    Os vasos comunicantes levam a água até o continente sem bombeamento. Ela é recebida em uma câmara de captação e, de lá, é bombeada por cerca de 500 metros até a planta de dessalinização, que ficará a cerca de três quarteirões da praia.

 

Tratamento para retirar os sais

 

    É na planta de dessalinização que acontece a parte mais importante do processo. A capacidade de produção é de 1 m³ por segundo (mil litros por segundo).

 

Dentro da planta, são três etapas de tratamento:

 

Pré-tratamento: nesta etapa, a água do mar passa por um primeiro processo de filtragem.

 

    Osmose reversa: é a etapa mais importante do projeto. A água é pressionada contra membranas, que barram a passagem das moléculas de sais. Assim, duas soluções são criadas: solvente (água) de um lado, soluto (sal) do outro.

 

    Pós-tratamento: livre dos sais marinhos, a água recebe flúor e outros minerais, além de passar por desinfecção e correção do pH. Após essa etapa, a água está própria para consumo humano.

 

    Depois destas etapas, a água potável é levada para o reservatório dentro da usina. De cada 2,3 mil litros que chegam do mar, apenas mil litros chegam até o fim do processo.

 

    Assim, ficam 1,3 mil litros encaminhados para o tanque de rejeito. No mesmo tanque, chegam também as águas de lavagem dos filtros do pré-tratamento. Todo esse material será levado de volta para o mar.

 

    O rejeito da dessalinização é conhecido como salmoura. É uma água com maior concentração de sais. Saindo da usina, ela será enviada de volta à câmara de captação, de onde será bombeada para o mar na tubulação instalada para o retorno dos rejeitos.

 

    Esta tubulação é projetada para que a água residual seja dispersada em vários pontos, aproveitando a dinâmica das correntes marinhas para facilitar a diluição no oceano, como explica Neuri Freitas, presidente da Cagece. Desta forma, o gestor afirma que não haverá danos ambientais.

 

Usina vai operar com capacidade total nas secas

 

    A água potável será levada para dois pontos de Fortaleza por aproximadamente oito quilômetros. Por isso, haverá obras também pelas ruas da cidade. Os destinos são dois reservatórios: o da Aldeota, que fica na Praça da Imprensa, e o do Mucuripe, situado no Morro Santa Terezinha.

 

    Caso as obras comecem no primeiro trimestre de 2024, a planta de dessalinização começa a operar no início de 2026. A estimativa é que 720 mil moradores recebam as águas da usina, com distribuição para bairros como Papicu, Cidade 2000, Praia do Futuro, Vicente Pinzón, Dunas e Aldeota.

 

    Os ciclos de seca no Nordeste são comuns. Se o fenômeno El Niño persistir nos próximos, por exemplo, pode ser que o reforço das águas do mar chegue quando o Ceará mais precisa, lembra Neuri Freitas.

 

    O projeto foi articulado entre 2016 e 2017, anos de poucos volumes de água no Ceará. A lembrança recente era do ano de 2015, quando o governo adotou a tarifa de contingência em Fortaleza. Com a medida, os moradores que não reduziam o consumo de água em 20% precisavam pagar contas mais caras.

    

    A construção da usina de dessalinização chega como uma solução a longo prazo para o Ceará. Ela vai operar em capacidade total apenas quando houver escassez hídrica.

 

    O funcionamento será por demanda. Quando o Ceará tiver níveis confortáveis de água, a planta vai manter uma operação mínima. A intenção é evitar danos nos equipamentos. Nestes casos, a tarifa da água produzida será fixa. A tarifa variável é mais cara e entra em cena nos momentos de seca, quando o reforço da usina for necessário.

 

    No modelo de parceria público-privada administrativa, a Cagece vai custear a produção e definir o volume de água necessário ao consórcio SPE Águas de Fortaleza, que ficará responsável pela construção, operação e manutenção da usina.

 

    De acordo com Neuri Freitas, continuam sendo estudados quais serão os 'momentos de gatilho'. Assim, a companhia vai estabelecer quais volumes de água o estado precisa ter nos açudes para que o governo acione a planta de dessalinização.

 

Fonte: G1 Ceará.

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