segunda-feira, 16 de outubro de 2023

A um ano das eleições, aumenta o número de prefeitos e vices rompidos no Ceará.

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    Ao menos nove municípios vivem essa dinâmica, que impacta diretamente as tratativas eleitorais e a própria gestão.

 

    O cenário pré-eleitoral nos municípios cearenses se torna mais nítido na medida em que as dinâmicas locais se consolidam. Nesta semana, a novidade foi o anúncio de que o vice-prefeito de     Juazeiro do Norte, Giovanni Sampaio (PSB), e o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) caminharão em lados opostos em 2024.


    Por meio de vídeo nas redes sociais, o primeiro reforçou a ligação com o bloco governista, situando-se no cenário político cearense, e colocou-se à disposição do PSB para uma possível candidatura no próximo ano. 

 

    Além de antecipar as discussões sobre composição de chapas em 2024, a declaração chamou atenção por ser mais um caso de rompimento ou distanciamento entre prefeitos e vice-prefeitos no Ceará.


    Ao menos nove cidades vivem essa dinâmica, que impacta diretamente nas tratativas eleitorais, e a própria gestão em muitos casos. 

 

DISPUTA EM JUAZEIRO

 

    O vídeo ganhou repercussão em um contexto no qual Glêdson busca equilibrar a balança entre as alianças que viabilizaram a sua investida eleitoral em 2020 e o diálogo institucional com a gestão estadual. O objetivo é alcançar um feito inédito no maior colégio eleitoral do Cariri: ser reeleito prefeito.


    Giovanni, então, entra no caminho. Em vídeo publicado nas redes sociais, mas apagado logo em seguida

 

    No fim de agosto, Giovanni trocou o Podemos pelo PSB. A legenda, comandada por Eudoro Santana (ex-deputado e pai de Camilo Santana), deve articular alianças pró-governo nos municípios mais estratégicos. O caminho, contudo, não deve ser tão simples.

 

    O PT, que lidera o arco de aliança, já deve ter outro candidato, o deputado estadual Fernando Santana. As tratativas dos próximos meses devem seguir no sentido de firmar figuras fortes na disputa e alocar Giovanni nesse cenário. 

    Já Glêdson tem feito movimentos cautelosos para evitar amarrar sua candidatura à base ou à oposição, pela qual foi eleito em 2020 e para qual fez campanha em 2022. Apesar disso, está, hoje, em uma legenda ligada ao senador Cid Gomes (PDT), o Podemos, além de já ter acenado para o grupo petista.


    “O fato de ter este ou aquele quadro no nosso partido não vai determinar uma posição ‘x’ ou ‘y’. A posição ‘x’ ou ‘y’, para fins eleitorais em 2024, deve ser fruto de uma construção. [...] Estou completamente aberto a todo mundo para conversar e entender quem é que tem o melhor projeto”, afirmou o prefeito ainda em junho, durante evento em Fortaleza.

 

    Apesar do anúncio de Giovanni, a assessoria de imprensa do prefeito informou que os dois já conversaram sobre isso. Devem estar em palanques diferentes, mas continuam amigos, reforça. "Glêdson já falou muitas vezes sobre. Ele respeita e considera democrático", diz ainda.

 

    O acirramento na política juazeirense a um ano das eleições municipais segue caminho semelhante ao de outras cidades do Ceará em que prefeitos e vice-prefeitos vivem em distanciamento.  

 

VEJA MUNICÍPIOS COM ROMPIMENTOS

 

CAUCAIA

 

    No segundo maior colégio eleitoral do Ceará, a chapa eleita em 2020 não mantém a aliança quase que desde o início do mandato.

 

    Apesar de afirmar ao Diário do Nordeste que o rompimento com o prefeito Vitor Valim (PSB) não deve render desavenças públicas até 2024, conforme acordo entre os dois, o vice-prefeito Deuzinho Filho (União) não deixa de se movimentar nos bastidores, assim como o antigo aliado.

 

    Na última semana, levou a público uma decisão partidária tomada há meses, aprofundando a crise no diretório do União Brasil de Caucaia. Apesar de o partido representar a oposição ao governo cearense – e também a Valim, aliado do bloco petista –, os vereadores da legenda integram a base do prefeito.


    Por isso, o diretório municipal do União, liderado por Deuzinho, decidiu não lançar os vereadores de mandato como candidatos em 2024. O movimento causou a reação dos parlamentares, que devem recorrer até à cúpula da legenda e, caso esgotadas as tentativas de conciliação, à Justiça.

 

    Tudo isso pela dinâmica de rompimento de Deuzinho e Valim, que devem ser rivais no pleito do próximo ano. Eles já não participam de eventos de gestão juntos nem acenam um ao outro, tocando suas funções de forma isolada. 


    Valim também deu início ao planejamento de 2024 com toda força em agosto, quando se filiou ao PSB e reforçou o bloco governista no Estado. O prefeito foi contatado via assessoria de imprensa. Se houver resposta a matéria será atualizada.

 

ARACATI

 

    Antes mesmo do impactante rompimento entre PT e PDT, em 2022, o prefeito Bismarck Maia (hoje, presidente estadual do Podemos) e a vice-prefeita Dra. Denise Menezes (PT) puseram fim à aliança que os elegeu por dois mandatos na administração de Aracati.

 

    As desavenças tomaram proporção com o anúncio de que a gestora seria candidata a deputada estadual, assim como o filho de Bismarck, Guilherme Bismarck (PDT). Hoje, ele é suplente em exercício na Assembleia Legislativa.


    Ainda no ano passado, a vice-prefeita afirmou que, "independente do que ocorra a nível estadual (antes da cisão com o PDT), aqui já está rompido". Em pronunciamento no começo de 2023, na Câmara Municipal de Aracati, Menezes ressaltou que a tensão começou ao "descobrir, a desconfiar que nós tínhamos prioridades diferentes". 

 

    Já o prefeito declarou, em julho de 2022, que o fim da parceria na cidade se deu por quebra de acordos: "os municípios devem lutar por essa união, quando possível. No caso nosso, não foi possível". 

 

SANTA QUITÉRIA

 

    O comando político de Santa Quitéria é alvo de intensa disputa. A prefeita interina, Lígia Protásio (PP), enfrenta um processo de cassação na Câmara Municipal apoiado por aliados do prefeito afastado pela Justiça, Braguinha (PSB).

 

    Este, por sua vez, é alvo de investigação por supostas irregularidades em contratos da Prefeitura para limpeza pública e abastecimento de veículos da gestão. 

 

No começo de outubro, a Justiça prorrogou o afastamento de Braguinha por mais 180 dias. 

 

    O rompimento entre os dois começou com pontuais atritos ao longo mandato e consolidou-se nas eleições de 2022, quando apoiaram candidatos diferentes ao Legislativo e ao Executivo. 

 

    Em janeiro deste ano, Lígia tornou a crise pública após Braguinha exonerar Ari Loureiro, seu cônjuge, da Secretaria Municipal da Segurança Pública e Cidadania. Ela, então, publicou um vídeo nas redes sociais anunciando que estava migrando para a oposição.

 

    Na publicação, ela lembrou os acordos para a composição de chapa em 2020, em que Braguinha precisava de uma vice “mulher, jovem e sabedora dos serviços da saúde, pois era isso que o derrubava nas pesquisas internas”.

 

    Após a campanha bem sucedida, contudo, Lígia afirma que viu suas funções serem esvaziadas, levando-a a crer que tinha sido vítima de uma espécie de “estelionato e trapaça eleitoral”. Ela também citou a tensão nas eleições do ano passado.

 

    “Confundiram parceria com submissão. A minha função administrativa foi gradativamente podada. [...] Depois de me apertar de todas as formas, a única secretaria em que eu podia entrar sem que os servidores sentissem medo de serem demitidos, foi retirada”, disse, referindo-se à pasta de segurança.

 

    Uma vez no comando do município, Lígia renovou o secretariado e cargos do segundo escalão do governo, alocando aliados e enfraquecendo o poder remanescente de Braguinha no município, como de praxe em cenários como este. 

 

    O Diário do Nordeste perguntou se a prefeita interina gostaria de se manifestar sobre o momento político do município, e aguarda retorno. A reportagem também procurou Braguinha. Se houver resposta, o texto será atualizado.

 

ACOPIARA

 

    Afastado por duas vezes do cargo, o prefeito de Acopiara, Antônio Almeida Neto (MDB), retomou o mandato recentemente. O Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE) analisa processo sobre supostas irregulares na contratação de servidores terceirizados. 

 

    Nesses dois períodos, foi a vice Ana Patrícia (Republicanos) que comandou o município. Na segunda posse como prefeita interina, ela escancarou a dinâmica de tensão com Antônio Almeida, alfinetando o gestor, e no seu antigo partido, o MDB.

 

    “Nós trabalhamos em 4 meses e 25 dias para tentar unir um partido que estava até então esfacelado. Se isso não foi possível, não é nossa culpa”, disse, referindo-se ao período do primeiro afastamento de Almeida Neto.

 

    “Eu fui eleita pelo povo de Acopiara também, para aqueles que andam dizendo que não. [...] E se hoje estou aqui, não foi uma escolha minha. Se hoje estou substituindo um prefeito que, pela segunda vez, está sendo acusado de corrupção, não fui eu, foi a Justiça”, declarou, ainda durante a posse que ocorreu em junho.

 

    Em setembro, o desembargador Benedito Helder Afonso Ibiapina, relator do caso, acatou o pedido formulado pela defesa e revogou a medida cautelar que determinava o afastamento do emedebista.

 

    O prefeito comemorou a decisão pelas redes sociais ao lado de aliados. "Quero agradecer a todos que rezaram, oraram, se preocuparam e choraram, estamos de volta sempre para fazer o bem", disse.

 

    O Diário do Nordeste entrou em contato com a assessoria de imprensa de Ana Patrícia questionando se ela se pronunciaria sobre a situação do município. Até o momento, não houve resposta. A reportagem também acionou a equipe do prefeito Antônio Almeida Neto por e-mail e aguarda retorno.

 

LIMOEIRO DO NORTE

 

    O rompimento em Limoeiro do Norte extrapolou os limites políticos e virou assunto da Justiça. A prefeita interina Dilmara Amaral (PDT) sustenta que o seu espaço de trabalho na sede do governo foi tomado sem aviso prévio e até hoje não foi restabelecido.

 

    Ela também afirma que não conseguiu conversar com o prefeito licenciado José Maria Lucena (PSB) desde então. Essa dinâmica conflituosa motivou a abertura de investigação no Ministério Público contra o gestor, suspeito de deixar as funções da prefeitura nas mãos de terceiros durante tratamento de saúde prolongado.

 

    Vereadores de oposição e a própria Dilmara declararam nos últimos meses que o então prefeito estava em tratamento de saúde e que não havia informações claras se ele tinha condições de gerir o município.

 

    Diante dos acontecimentos, e da ausência de informações por parte do Executivo, esperava-se que o prefeito enviasse à Câmara Municipal o pedido de afastamento dando espaço para a vice Dilmara comandar o município.

 

    O ato, porém, só foi tomado neste mês, após mais de um ano do início dos rumores sobre sua saúde e dias depois de o MP formalizar ação de improbidade administrativa contra José Maria.

 

    Em diversas ocasiões anteriores, o Diário do Nordeste buscou a equipe do prefeito licenciado para que ele comentasse as alegações, mas os questionamentos nunca foram respondidos.

 

    A reportagem também procurou Dilmara, e aguarda retorno. A matéria será atualizada se houver resposta.

 

TIANGUÁ

 

    Em Tianguá, a situação é muito parecida. O Ministério Público chegou a abrir investigação, mas arquivou o caso posteriormente. 

 

    O prefeito Luiz Menezes (PSD) e o vice-prefeito Alex Nunes (PL) se distanciaram ao longo da gestão, e esse é o motivo apontado na denúncia para que o gestor não tire licença para cuidar da saúde. Isso porque, assim, Nunes assumiria o município.

 

    A cisão teria sido motivada, segundo Alex, pelas eleições de 2022, quando eles apoiaram candidatos distintos ao Governo do Estado, em meio ao rompimento do PT com o PDT. Alex fez campanha para o grupo petista, enquanto Luiz Menezes apoiou a investida pedetista, cuja chapa também era representada pelo PSD.

 

    Mas essa não seria a única razão. O vice afirma que a família de Menezes passou a "tomar conta da Prefeitura", o que minou os projetos que os dois tinham como aliados políticos. Depois de "uma conversa séria" entre ambos, foi acordado o rompimento.

 

    Em setembro, a situação ganhou novos desdobramentos com a internação de Menezes em Fortaleza. Relatos sustentam que ele prolongou o afastamento em prol do tratamento sem autorização da Câmara Municipal.

 

    Por isso, os vereadores abriram um processo para investigar essas alegações, que ainda está em fase inicial de atividades.

 

Luiz Menezes também foi contatado. O espaço está aberto para manifestações.

 

ITAPIPOCA

 

    Em Itapipoca, os atuais companheiros de gestão podem ser adversários em 2024. Com rompimento já consolidado, os dois se organizam nesse sentido. A vice-prefeita Dra. Jocélia (MDB) explica que vem sendo "muito cobrada" sobre uma possível candidatura à prefeita.

 

    Ela diz que é a "mais provável candidata da oposição" e que tem, inclusive, conversado com ex-prefeitos da cidade sobre a disputa eleitoral do próximo ano. Assim, ela repetiria conduta de 2020, quando foi lançada à disputa contra o então prefeito João Barroso, sendo ela também vice-prefeita à época. 

 

    O atual gestor, Felipe Pinheiro (PT), alinhado ao governo Elmano, deve ser uma das apostas para o bloco em 2024.


    O Diário do Nordeste pediu uma resposta da gestão de Itapipoca sobre essa dinâmica. O espaço está aberto a manifestações.

 

ACARAÚ

 

    As eleições do ano passado também motivaram o rompimento em Acaraú, apesar de a tensão já existir anteriormente. Em abril deste ano, o vice-prefeito Mano da Melancia relatou a quebra de acordos: "não se cumpriu nada".

     

    Mano ressaltou ainda que, quanto às alianças, "se a pessoas puderem dar trabalho politicamente", acaba sendo isolada. "Não dá oportunidade", reforçou.


    Ele finalizou a aliança firmada em 2020 com a prefeita Ana Flávia Monteiro (PSB) e com o secretário estadual Robério Monteiro (PDT).

 

    A gestão de Acaraú também foi procurada pela reportagem para esclarecimento sobre a relação política no município. A matéria será atualizada se houver resposta.

 

Fonte: Jornal Diário do Nordeste.

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