O Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), a Força Aérea Brasileira (FAB) e o Ministério da Educação (MEC) têm feito reuniões para definir a abertura de uma unidade da instituição universitária em Fortaleza, no Ceará. O Estado do ministro da Educação, Camilo Santana, é a origem de mais de 40% dos alunos aprovados no concorrido vestibular do ITA.
Camilo tem contato próximo com a instituição desde que era governador do Estado. Apesar de estarem sendo realizados estudos sobre a abertura da nova unidade, ainda não há processo oficial no MEC nem definição de cursos ou quando eles começariam na capital cearense, segundo apurou o Estadão.
A ideia surgiu internamente no governo e entusiasmou rapidamente Camilo. A nova unidade do ITA seria instalada na base da FAB em Fortaleza, que tem salas e dormitórios para os alunos. Nesta segunda-feira, 31, o ministro disse que a escolha do Ceará se dá “pela história de desempenho dos alunos” do Estado na prova do ITA.
“É uma ideia que queremos torná-la realidade até o fim do ano”, afirmou. Segundo o Estadão apurou, será publicada uma portaria interministerial sobre o assunto, que vai instituir um grupo de trabalho.
Pode haver ainda um obstáculo legal para um câmpus fora de São Paulo. Decreto presidencial de 2017 impede a abertura de unidades em cidades que não estejam no Estado sede da instituição. ITA e MEC ainda estudam se ele se aplica ao instituto.
O ITA é uma instituição universitária pública administrada pelo Comando da Aeronáutica, mas também atende alunos civis, o que faz com que seja submetido às normas de regulação e avaliação do MEC.
Quando Camilo era governador, o ITA realizou mestrados profissionais em Fortaleza, com investimento de R$ 3,5 milhões do governo, e parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC). A 1ª turma do Mestrado Profissional em Segurança de Aviação e Aeronavegabilidade Continuada, aberta em 2015, foi o primeiro curso do ITA fora de São José dos Campos, onde fica sua sede.
Ele fazia parte de uma estratégia de formar profissionais mais capacitados para o Estado, em um contexto de investimentos na área de aviação, com ampliação e privatização do aeroporto intenacional de Fortaleza.
Mas o ITA ainda analisa qual o plano de desenvolvimento do Ceará para levar ao Estado os cursos de graduação. A instituição oferece Engenharia Aeroespacial, Aeronáutica, Civil-Aeronáutica, de Computação, Eletrônica e Mecânica-Aeronáutica. Há dúvidas sobre o potencial de empregabilidade local dos alunos.
Entre os que cursam o ITA no atual câmpus de São José dos Campos, a maioria acaba trabalhando no Estado de São Paulo, na Embraer ou em outros setores da indústria, em bancos, em consultorias ou como empreendedores. Cerca de 10% vão para o exterior. Quando o instituto foi criado, em 1950, a intenção era a de ser um embrião da indústria aeronática brasileira.
Em 1969, a Embraer foi fundada na mesma cidade e hoje é a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo. O ITA se tornou um centro de referência em formação de engenharia.
Segundo o instituto, no exame aplicado em 2022 para ingresso em 2023, estudantes da capital cearense representaram mais de 40% dos alunos aprovados. Das 150 vagas ofertadas no ITA, 62 foram preenchidas por estudantes que realizaram provas em Fortaleza. A capital é líder em aprovações e fica à frente até mesmo de São Paulo, cujos candidatos preencheram 46 das 150 vagas disponíveis.
Segundo a secretária de Ensino Superior do MEC, Denise Carvalho, o projeto de um câmpus no Ceará está em análise. “Mas certamente é interesse do País ter uma instituição como o ITA no Nordeste”, afirma.
“É um reconhecimento ao entusiasmo que o Ceará tem tido de preparar alunos para o ITA. Além disso, é muito mais fácil para quem é do Recife, Paraíba, Rio Grande do Norte, Maranhão, ir estudar em Fortaleza do que em São José dos Campos, em São Paulo”, afirmou o ministro da Defesa, José Múcio, em entrevista a Folha de Pernambuco este mês. “O Nordeste tem um polo de educação forte. Porque quando a gente vai fazer política e diz que a solução é educação, a gente precisa dar passos largos”, completou.
‘Seria muito mais fácil para se adaptar’, diz aluno
Para o estudante cearense Washington Renato Teles, de 18 anos, que se prepara para o vestibular do ITA desde o 1º ano do ensino médio, a unidade na sua cidade facilitaria o processo. Esse é o 4º ano de preparação para o exame, que é considerado um dos mais concorridos do País. E além do conhecimento teórico, Washington também preocupa-se com a mudança para São Paulo.
“Seria muito mais fácil para se adaptar. Mudar para São Paulo exige que se afaste da família, da sua realidade. E isso é um desafio, principalmente para mim, que nunca precisei fazer isso”, diz o estudante. “E também tem a questão financeira. Algumas despesas com viagens não existiriam se tivéssemos uma unidade aqui.”
Para Marcelo Pena, diretor de ensino da Organização Educacional Farias Brito, um dos mais conhecidos colégios particulares do Ceará, a possível implementação de uma unidade de ensino do ITA em Fortaleza representa um reconhecimento ao trabalho feito por diretores e professores do Estado, mas é também, na visão dele, uma oportunidade.
“É uma possibilidade para retenção de talentos”, diz. “Os estudantes preparam-se para o vestibular em Fortaleza, mas quando são aprovados vão para São Paulo, são absorvidos pelas grandes empresas da região, e não retornam para o Ceará”, afirma. Pena acredita que uma unidade em Fortaleza pode trazer ganhos econômicos para região, que terá a oportunidade de absorver a mão de obra altamente capacitada.
Como é a preparação desses alunos?
Pena explica que existe um preparo diferenciado para estudantes que vão prestar o ITA. No Farias Brito, em Fortaleza, há um itinerário formativo que permite ao estudante, desde o 1º ano do Ensino Médio, dedicar-se às matérias que estão alinhadas com suas projeções de carreira.
Para alunos que buscam aprovação no ITA, a carga horária é focada em Matemática, Física e Química (com mais aulas semanais que o padrão para o Ensino Médio). “O aluno também tem disciplinas como Geografia e Biologia, mas ele não precisa se aprofundar tanto, porque o ITA não cobrará isso”, explica o diretor.
Além da carga horária, os estudantes são avaliados seguindo os critérios de avaliação do ITA. As provas buscam simular o vestibular da instituição e os professores possuem uma formação especializada no vestibular. Pena garante que o sucesso dos alunos também pode ser explicado por esse modelo de ensino.
Fonte: Ceará Notícias.