terça-feira, 4 de outubro de 2022

Bolsonaro vai ao segundo turno empurrado por 'compra de votos' autorizada.

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    Qualquer cálculo que ignore o impacto da compra de votos do eleitorado ao tratar da passagem de Bolsonaro para o segundo turno da eleição é incompleto. É mais confortável procurar culpados apenas na parcela conservadora do eleitorado de Ciro e Tebet por migrarem para Bolsonaro e não Lula, enquanto ignora-se. É a primeira vez na história que um presidente é autorizado a realizar compra de votos 'legalmente' às vésperas da eleição.

 

    Qualquer cálculo que ignore o impacto da “compra de votos” do eleitorado ao tratar da passagem de Jair Bolsonaro para o segundo turno da eleição é incompleto.

 

    Pode ser confortável procurar culpados no naco conservador do eleitorado de Ciro Gomes e Simone Tebet por migrarem para Bolsonaro e não para Lula – como se tivessem obrigação disso. Isso, além do mais, ignora que a eleição não é só o que acontece nos dias que antecedem a votação, mas também o que se desenrola nos meses antes do pleito.

 

    E muito se avisou sobre o impacto do uso da máquina pública a favor da candidatura do presidente à reeleição.

 

    As intenções de voto em Jair poderiam ser menores se a base do governo no Congresso Nacional não tivesse aprovado a redução forçada do ICMS nos combustíveis. Se por um lado, isso significou cortes nas receitas de educação, saúde e segurança pública nos estados, por outro ofereceu gasolina mais barata nos postos – o que reduziu o desânimo da classe média com o presidente.


    Da mesma forma, a liberação de bilhões de reais em emendas parlamentares via orçamento secreto despejou recursos a prefeituras amigas da base governista. Se, por um lado, os maiores beneficiários foram deputados federais e senadores apontados como pais e mães do recurso, por outro isso gerou ganhos secundários ao presidente – presente, muitas vezes no material de campanha desses parlamentares.

 

    No Nordeste, onde Lula reina, a imagem de Bolsonaro foi limada para não tirar votos, mas isso não aconteceu em outros locais, principalmente no Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste, onde ele ganhou.

 

    Esses recursos se traduziram em tratores e máquinas agrícolas, ambulâncias, caminhões de lixo, ônibus escolares, construção de esqueletos de escolas e hospitais – digo esqueletos, porque o valor empenhado, muitas vezes, não era suficiente para terminar a obra. Mas, o que importa! O relevante é começar para gerar voto.

 

    E, por fim, a PEC Kamikaze, ou PEC do Fim do Mundo, ou PEC do Desbunde, ou PEC da Compra de Votos, com o aumento de R$ 400 para R$ 600 do Auxilio Brasil, a inclusão de mais de dois milhões de famílias no benefício, o aumento no Auxílio Gás, o pagamento de auxílios a caminhoneiros e taxistas. Tudo aprovado a alguns dias de começar oficialmente a campanha oficial.

 

    Aprovada com o apoio da oposição no Congresso Nacional (que temia ser execrada junto aos eleitores se negasse o voto para a liberação dos recursos), ela começou a ser paga em 9 de agosto. Pesquisas apontam que as intenções de voto do presidente não se alteraram significativamente entre quem recebe o Auxílio Brasil, pelo contrário, os beneficiários apoiam Lula.

 

    Uma das razões para isso é que a massa dos mais pobres ainda não sentiu a chamada percepção coletiva de melhora da qualidade de vida. Afinal, não é a chegada dos R$ 600 às contas individuais dos beneficiários que muda o voto, mas as famílias sentirem que a vida delas e de sua comunidade está de fato melhor.

 

Fonte: Pragmatismo Político.

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