quarta-feira, 22 de junho de 2022

Prisão de ex-ministro fragiliza discurso anticorrupção de Bolsonaro.

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    A prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro nesta 4ª feira (22.jun.2022) enfraquece o discurso anticorrupção com o qual o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi eleito, em 2018. A cereja do bolo, à época, foi a entrada do ex-juiz Sergio Moro, responsável pela operação Lava Jato, em seu governo. Foi ministro da Justiça.

    A ideia que se buscava passar era clara: Bolsonaro seria uma antítese dos escândalos que levaram diversos políticos do PT, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à cadeia. Com um ex-ministro preso para chamar de seu, o arquétipo do cruzado anticorrupção se enfraquece.

    Quando Ribeiro foi afastado do cargo depois da revelação que operadores sem cargo no governo e com ligações religiosas com o então ministro negociavam liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) a troco de propina, Bolsonaro disse que era uma saída “temporária”. Disse também que botaria “a cara no fogo” em defesa do pastor.

    Agora, o discurso do chefe do Executivo começou a se adaptar, ainda que não inteiramente. Pouco depois da deflagração da operação, na manhã desta 4ª feira (22.jun.2022), Bolsonaro disse ter afastado o ex-ministro na “hora certa”. Já não era mais um afastamento temporário. Foi uma adaptação discursiva para não perder dividendos eleitorais. Um dos principais argumentos que o presidente deve usar contra Lula é o da corrupção.

    Na mesma entrevista à Rádio Itatiaia, o presidente disse que o caso deve “respingar” em si, mas manteve a frase de que seu governo tem “corrupção zero”. O risco é passar a impressão de cinismo. O chefe do Executivo disse lamentar a prisão do pastor, mas ressaltou que a ação da Polícia Federal não teve sua interferência. Quando o mesmo Sergio Moro que trouxe o verniz anticorrupção para o governo recém-eleito em 2018 pediu demissão, acusou Bolsonaro de tentar interferir na PF.

    O peso dessa perda de discurso já foi sentido pelo Centrão. Políticos importantes do grupo dizem, em off -jargão jornalístico para quando uma fonte quer passar uma informação sem revelar o seu nome- que o discurso anticorrupção que levou Bolsonaro ao Planalto já não cola mais. Ele tem um preso para chamar de seu. Bolsonaro, hoje, esforçou-se para afastar de si a indicação de Ribeiro. “Lamento. A imprensa vai dizer que [Ribeiro] está ligado a mim e etc. Paciência. Se tiver algo de errado, ele vai responder. Se for inocente, sem problemas, se for culpado vai pagar. O governo colabora com a investigação.

    Ribeiro foi indicado pela bancada evangélica. Não quer dizer que aqueles que o indicaram necessariamente tenham participado dos supostos esquemas ora sob investigação. Pouco depois do seu afastamento, o líder da bancada, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse em conversa com o Poder360 que não participaria de nova indicação. Ribeiro é de uma denominação religiosa pouco influente entre os evangélicos. É presbiteriano. As mais poderosas, seja pelo número de fiéis ou pela capacidade de mobilização, são a Assembleia de Deus e a Igreja Universal.

    Ribeiro foi preso preventivamente pela Polícia Federal no caso sobre a atuação de pastores no Ministério da Educação. O pastor foi defendido pela primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ela afirmou que Deus provaria que o pastor é uma “pessoa honesta e justa, fiel e leal”.

    A prisão do ex-ministro se soma a outros casos ligados ao governo que Bolsonaro nega envolvimento, como as investigações de outros ministros em seu governo, as negociações de compra das vacinas indianas Covaxin e a compra de kits de robótica por R$ 26 milhões para escolas carentes em Alagoas.

Fonte: Poder 360.

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