O cearense Angelo Micael Rabelo, 21 anos, foi aprovado em
primeiro lugar nas cotas raciais para cursar medicina na Universidade Estadual
do Ceará (Uece). Nascido e criado no município de Morada Nova, no interior do
Ceará, Angelo foi aluno de escola pública e, há três anos, mudou-se
para Fortaleza para tentar conseguir uma bolsa de estudo em um cursinho e, com
isso, focar no sonho: a aprovação no vestibular para medicina.
Mas nem tudo foi fácil e a trajetória para chegar
até a aprovação foi árdua. Angelo foi acolhido por um tio que mora em
Fortaleza, que o recebeu na sua casa. Sem condições de pagar os estudos em um
cursinho preparatório, o estudante saiu em busca de uma bolsa e conseguiu
integral, sem precisar pagar nada. Até a aprovação, foram três anos de muito
estudo e dedicação.
"Quanto à minha
preparação, eu sempre tive em mente no meu ensino médio que possivelmente não
fosse dar após o terceiro ano para eu passar logo de primeira para a
universidade. Já deixei claro para a mãe e para o pai para a gente se organizar
para eu ir para Fortaleza. Graças a Deus teve um tio meu que me acolheu na casa
dele em Fortaleza, aí eu fui atrás de bolsa em cursinho e consegui",
conta.
Apesar da aprovação em
primeiro lugar, Angelo não acreditava que conseguiria. Em entrevista ao g1, ele afirma que considerava o resultado como algo "inatingível".
"A minha relação com
o resultado da Uece era uma relação que eu considerava quase inatingível,
porque com o modelo de questões de algumas áreas da Uece eu achava bem difícil.
Não gostava muito. Não era o modelo que eu mais me identificava [...] quando eu
fiz a primeira fase, corrigi o gabarito e vi que tinha ido muito bem",
conta.
Mesmo com o resultado
positivo na primeira fase, Angelo decidiu focar os estudos para prestar o Enem.
Ele fez a prova e viu que não tinha conseguido pontos suficientes para a
aprovação e, em cima da hora, decidiu estudar para a segunda fase da Uece.
'Quase
não acreditava'
Angelo estava em Morada Nova, brincando com amigos,
quando recebeu ligações de amigos comunicando sobre a aprovação dele.
"Quase nove e meia da noite a Uece libera o
resultado e eu não sabia. Meus amigos ligando para mim: 'Angelo, tu passou'.
Estava numa pracinha jogando baralho com meus amigos. Foi uma reação que eu
quase não acreditava. Eu achava que eles estavam brincando comigo, que eles
estavam olhando a lista dos classificáveis, só que não. Realmente tinha dado
certo", relembra.
O estudante, hoje, vê a aprovação como um verdadeiro
aprendizado. Sem acreditar no próprio potencial, sem crer que seria capaz de
conseguir, hoje, Angelo se considera uma pessoa otimista e confiante em si
próprio.
"Até o momento da aprovação,
pra mim foi uma lição porque por vezes eu não acreditava no potencial que eu
tinha de conseguir esse feito. Eu quase não acredito [...] realmente a
aprovação foi uma lição para mim porque acreditar no seu
potencial não é prepotência nenhuma, é auto
confiança, é ser otimista, e eu não tinha tanto isso. Foi a maior lição que eu
já recebi."
G1 CEARÁ