O consumo de plantas medicinais
está em crescimento no Brasil desde o começo da pandemia. Segundo estudo divulgado pela brazilian journals, editora especializada em publicações acadêmicas, o
uso de ervas com eficácia clínica comprovada aumentou cerca de 27% entre 2020 e
2021. A pesquisa aponta que vegetais como hortelã, camomila, alecrim, boldo e
babosa estão entre os mais procurados. A busca pode estar relacionada com a
necessidade em manter o sistema imunológico saudável para diminuir as chances
de contaminação por vírus e bactérias que atacam o sistema respiratório.
No Ceará, segundo o Comitê Estadual
de Fitoterapia, há 30 tipos de plantas medicinais formalmente indicadas para a
prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças prevalentes na população do
Estado. Todas as espécies são cultivadas no horto da Secretaria Estadual da
Saúde (Sesa), localizado no bairro Messejana, em Fortaleza. O espaço está
disponível para visitações de segunda à sexta-feira, mediante sistema de
agendamento. Quem vai ao local, além de conhecer cada tipo de erva, também
recebe orientações sobre a preparação e o uso correto de medicamentos caseiros.
“Nós sempre enfatizamos aos
visitantes que é fundamental o não uso de agrotóxicos para a realização da
limpeza das plantas e também fazer o armazenamento corretamente. Isso é muito
importante porque, em alguns casos, até mesmo o horário de retirada da planta
pode interferir no efeito dos chás medicinais”, explica a farmacêutica da Sesa,
Andrea Ramalho. Segundo ela, as mudas cultivadas no horto também estão
disponíveis para doações, desde que haja disponibilidade e orientação
farmacêutica aos pacientes que solicitarem as ervas.
A farmacêutica Angélica Brasil, do
Núcleo de Fitoterápicos (Nufito) do Estado, destaca que parte das espécies
cultivadas pela Sesa foi incorporada nas estratégias de atenção primária da
rede estadual de Saúde. “A gente manipula algumas culturas que já são
utilizadas no tratamento de doenças respiratórias, infecções dermatológicas,
entre outras doenças”, pontua. Embora sejam submetidas a procedimentos em
laboratórios, as plantas não sofrem alterações no seu princípio ativo. O uso,
no entanto, deve ser acompanhado por um profissional de saúde.
No caso das plantas, Angélica
ressalta que o consumo pode ocorrer de forma caseira, desde que em dosagem
razoável. Ela lembra que, durante a pandemia, houve crescimento acentuado na
ingestão do xarope de chambá, mais conhecido no Nordeste como “lambedor”. O
composto é indicado para o tratamento de problemas pulmonares, tosse,
bronquite, gripe, febre e náuseas, estes dois últimos, sintomas comuns da
Covid-19. “O xarope de chambá evita que a infecção respiratória evolua para uma
coisa mais grave, evitando, por exemplo, a necessidade do uso de um
antibiótico”, comenta a farmacêutica.
Apesar dos efeitos positivos das
ervas medicinais para a saúde, a especialista lembra que as plantas têm efeito
complementar no organismo e não substituem por completo os medicamentos
alopáticos, aqueles resultantes de processos químicos que são comercializados
em farmácias e laboratórios. “Elas [as plantas medicinais] funcionam como um
complemento à nossa saúde. Não inviabilizam a necessidade dos fármacos
alopáticos, mas são muito importantes até para evitar o uso de certos
medicamentos, em caso de agravamento do quadro clínico do paciente”, observa
Angélica.
O POVO